24.11.06

Saramago chega às telas

Sei que tenho falado muito sobre política. Eu sei, eu sei, é um assunto massante para os dias de hoje. Entre tantas opções mais interessantes, como o vídeo do Dado Dolabella e do João Gordo ou as últimas da Cicarelli, eu insisto. Prometo que vou dar um tempo e falar sobre coisas mais leves. Mas antes, aí vai o endereço (http://oglobo.globo.com/blogs/ilimar/) de um comentário do Ilimar Franco, do Globo, que fala em seu blog sobre a importância da aliança entre o PT e o PMDB, as duas maiores bancadas da Câmara e os dois partidos mais populares do país.

Chega. Suavizando a coisa, recomendo que vejam hoje o segundo capítulo da série Antônia, na Globo. O primeiro episódio, semana passada, contou as histórias de quatro garotas cantoras e pobres, da periferia de SP, que têm um grupo chamado Antônia. Pelo primeiro episódio, parece ser bem legal. Vale lembrar para os mais desavisados que os produtores e diretores são os mesmos de Cidade dos Homens e, entre eles, o diretor de Cidade de Deus, Fernando Meirelles.

Falando em Fernando Meirelles, ouvi outro dia no rádio que ele filmará em 2007 o maravilhoso Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, sem dúvida, um dos melhores livros que já li. Saramago já disse que confia em Meirelles e Meirelles já disse que mal dorme com a tensão que a expectativa de Saramago provoca. Segundo o diretor, ele já se dedica em tempo integral ao novo projeto, que diz ser "o projeto da sua vida". Blindness, como o filme será chamado em inglês, promete ser um filmaço. A história é sensacional, mas falta saber se saberão roteirizá-la com sucesso e se Meirelles conduzirá o filme com o mesmo talento que mostrou em Cidade de Deus e em Jardineiro Infiel.

Bom, por hoje é só. Vou trabalhar. Abraços!

15.11.06

Pitaco nº 3 - o futuro a Lula pertence

E o futuro? O que esperar de um governo que, logo depois de sair das urnas, ensaia alianças com Jader Barbalho e Roseana Sarney? Infelizmente, acredito que são males necessários. No entanto, isso implica riscos: Jader Barbalho é um Roberto Jefferson da Amazônia, tão perigoso e traiçoeiro quanto o ex-gordo deputado. Ok, ok, faz parte do jogo. Mas fica aqui o aviso. Embora, como bem lembrou um amigo outro dia, o epicentro dos escândalos de corrupção fosse a cúpula do PT. Infelizmente, infelizmente.

Mas realmente acho que o segundo mandato será muito melhor. Lula só terá um compromisso: salvar a biografia dele. Entrar para a história como o primeiro presidente de esquerda que fracassou ou o que deu o pontapé para mudanças significativas. Se ele e Ele quiserem, ficaremos com a segunda opção. O ministério, ao que tudo indica, ainda contará com nomes de peso como Guido Mantega, Marina Silva, Ciro Gomes e ganhará reforços como Marta Suplicy e Fernando Pimentel.

Para 2010, já começam as previsões sobre possíveis candidatos. Será a primeira eleição sem Lula no páreo e o PT correrá para criar lideranças nacionais. Jacques Wagner e Marta Suplicy são nomes petistas que já ventilam. Ainda ao lado de Lula, corre o nome de Ciro Gomes, meu favorito. O PSDB já está dividido pelo excesso de presidenciáveis: Serra, Aécio e Alckmin, que não é carta fora do baralho. O PFL conta com a projeção nacional que os Jogos Panamericanos darão a César Maia. O PMDB, se compuser de fato um goveno de coalizão com o PT, deverá fazer o vice da chapa. Caso contrário, terá que correr contra o tempo para ter candidato.

Mas nada como o tempo. Esperemos para ver que governo é esse. Mais ousado do que o primeiro? Mais ético? Mais petista? Agora, é só esperar.

Abraço.

3.11.06

Pitaco nº 2 - uns ganham, outros perdem. A vida é assim.

(continuação do Pitaco nº 1)

Outro que teve que calar a boca com os quase 60 milhões de votos do presidente foi Arnaldo Jabor. Gosto muito dele, acho extremamente inteligente, mas não consigo mais ler o que escreve sem cair na risada. A crônica dessa semana é de uma imaginação fertilíssima, mas extremamente mentirosa. Segunda-feira, ele deu uma palestra lá na PUC em que falou bem do Fernando Henrique durante horas. Vocês se lembram das famosas entradas dele no Jornal Nacional para esbravejar contra o apagão e todas as outras pragas do governo FHC? É de uma incoerência absurda.

Fernando Henrique, aliás, também saiu perdendo. O PSDB deixou claro que têm vergonha dos seus oito anos de governo. Eles têm tanta vergonha das privatizações que o ex-presidente fez que o Nhô Alquimi chegou a colocar um boné da Petrobrás para tentar convencer as pessoas de que não a privatizaria. Claro que iria tentar. Pelo menos, venderia ações. O esforço d’O Globo para defender as privatizações foi em vão. Artigos e mais artigos publicados, matérias mais matérias, tudo isso serviu para nada. O Brasil, pela segunda vez, disse que desaprova FHC e as privatizações de suas principais empresas. As frases de efeito do desintelectual como “a ética do PT é roubar” entraram por um ouvido e saíram pelo mesmo, sem ecoar na cabeça de ninguém. O PT elegeu uma das maiores bancadas, aumentou o número de governos estaduais, com estados importantes como Bahia e Pará e conseguiu aumentar a votação que teve em 2002.

Outro ex-presidente que saiu perdendo foi Itamar Franco, que não se elegeu para nenhum cargo e tampouco contribuiu para aumentar a votação de Nhô Alquimim em Minas. Sarney também ficou enfraquecido, mas por outros motivos: a derrota da filha e a dificuldade em se eleger senador. Collor se deu bem voltando ao Senado. Os ex-presidenciáveis se deram mal quase todos, com exceção de Serra e Aécio. Germano Rigotto sequer foi pro segundo turno e ainda almejava à presidência. Essa gente delira, né não? Garotinho, coitado, fez o sucessor sem subir nenhuma vez em seu palanque e também era motivo de vergonha para sua candidatura e para a de Nhô Alquimim, no segundo turno. Provavelmente, vai transferir para Sérgio Cabral sua influência no Rio de Janeiro. Heloísa Helena e o natimorto PSOL perderam a vaga que tinham no senado, não ultrapassaram a cláusula de barreira e não empolgaram a população como uma alternativa à dobradinha PT-PSDB. Depois, com a eleição da petista Ana Júlia, reconsquistaram a vaga - o suplente da senadora é do PSOL. Cristovam Buarque saiu ganhando. Ganhou visibilidade como o defensor da bandeira da educação e fez uma campanha digna e entusiasmada. Sai ganhando se voltar a apoiar o governo, na minha opinião. César Maia também perdeu, pois não elegeu Denise Frossard e, certamente, foi um dos empecílios para o crescimento da deputada.

A esquerda como um todo saiu ganhando, depois do enfraquecimento que teve em 2005 no auge dos escândalos. A democracia, idem, caso sejam punidos os acusados pelos casos do mensalão e dos sanguessugas. O grande vencedor dessas eleições foi, sem dúvida, o povo. Os milhões e milhões de eleitores que, pela primeira vez - em 2002, isso não aconteceu -, conseguiram eleger um presidente com opinião própria, contrariando a imprensa, a Igreja, as elites políticas, o empresariado e a classe média. Li semana retrasada uma entrevista com um historiador brasileiro radicado em Paris em que ele dizia qu o maior mérito do governo foi ter transformado a maioria econômica em maioria política. Viva!

(continua)