28.11.08

Van Gogh sem preconceitos

Bruno Gagliasso é vítima de preconceito por ser um ator bonito. Isso fica provado com a peça Um certo Van Gogh, em cartaz aqui no Rio, no Teatro Leblon, após temporada em São Paulo. É bem verdade que não se trata (e provavelmente nunca vai se tratar) de um novo Paulo Autran, mas tampouco estamos diante de um Ricardo Macchi, aquele poste que falava ‘eu te amo’ com a mesma intensidade de um ‘bom dia’. Bruno sabe fazer além do dever de casa, embora não receba esse reconhecimento pelo simples fato de ser um cara bonito. Com essa peça, tem tudo para quebrar a impressão, ajudado por uma série de acertos como a boa direção, uma talentosa equipe de atores coadjuvantes, uma iluminação e um cenário belíssimos, embora prejudicado pelo texto claudicante e por um ou outro tropeço de sua interpretação.

A peça fala de um atormentado rapaz, Timotéo, que vive desde pequeno sob uma série de angústias, sendo a maior delas o fato de seus pais terem perdido um bebê anterior a ele a quem também tinham chamado de Timóteo. Instável, cheio de questionamentos existenciais, ele abandona uma comunidade alternativa em que vivia para morar na cidade grande com o irmão, um bem-sucedido estudante universitário que até lhe consegue uma bolsa de estudo. Ao conhecer a história do pintor neerlandês Vincent Van Gogh, ele identifica várias semelhanças entre a sua briografia e a do artista. Começa a se aprofundar na vida e na obra de Van Gogh, misturando realidade e fantasia, comédia e drama.

A direção de João Fonseca é o ponto alto da peça, tornando um texto pouco empolgante num espetáculo muitíssimo bem concebido e acertadamente bem dividido em dois tempos – passado e presente, ou devaneio e realidade. Coisa difícil de ser bem resolvida dramaturgicamente, essa divisão não torna a peça chata e, feito ainda mais difícil, consegue dar dinamismo e levar a ação para frente. As soluções espaciais encontradas por Fonseca mostram como é importante cenógrafo (Nello Marrese) e diretor dialogarem para superar a freqüente burocracia que permeia essa relação.

E o cenário de Marresse é realmente muito funcional à peça. O jogo de luz feito por Daniela Sanchez embeleza bastante o conjunto e também serve com maestria às escolhas feitas por Fonseca. No balanço, ainda devem ficar do lado positivo a atuação de Marcelo Valle, disparado o melhor ator em cena. Pedro Garcia Netto e Larissa Bracher estão corretos.

Marcelo Valle e Bruno Gagliasso

Tudo muito bem se não fossem os tropeços do texto, muito mais eficiente nos momentos de comédia que nos de drama, quando resvala na pieguice. Novata, Daniela Pereira de Carvalho assina o texto de um projeto idealizado pelo próprio Bruno Gagliasso. Assim como ele, descoberto pela novela infantil Chiquititas em 2000 e, desde então, em permanente processo de aprimoramento, não faltarão oportunidades para Daniela desenvolver seu talento, que aprece mais, vale repetir, na comédia. Mas só o tempo dirá se a moça saberá aproveitá-las como Bruno vem fazendo.

27.11.08

Músicas de amizade

O Textos etc vive um momento meio ternurinha e fez uma seleção de cinco músicas sobre amizade. E tem de tudo na lista: de Chico Buarque a Balão Mágico. Vale a pena ouvir.


26.11.08

O Rio vai à praia - 2

Fora a roupa, em 1958 levava-se pouca coisa para a praia, talvez porque ainda não fosse a opção de lazer preferida dos cariocas e, portanto, não houvesse de fato tantos apetrechos para se levar para a praia. O jornalista Carlos Eduardo Novaes, autor de Cem anos de praia, relato sobre os cem primeiros anos das areias de Copacabana, conta que nos anos 50 levava-se principalmente toalhas. Os mais moderninhos também carregavam barraca, óculos escuros, bóias (oficialmente os primeiros objetos carregados para dentro d’água), que tanto podiam ser de pneus, de avião ou de carros. Óleo de bronzear também constavam do kit básico, embora somente quem tivesse acesso a material importado pudesse ter realmente óleo de bronzear. O resto das pessoas se contentava – ou se enganava – com a banha de cozinha, e seu terrível cheiro, ou com a gordura de coco, de odor mais tolerável. A esteira, segundo o jornalista, só chegou ao Rio de Janeiro, também naquele período, porque os cariocas começaram a viajar para o Nordeste a turismo, dentro do contexto de integração nacional estimulada pelo governo JK.

Mas imbatível mesmo nos anos 50, segundo Carlos Eduardo, parece ter sido o radinho de pilha. E era pura verdade, pois foi exatamente em 1958 que a Standard Eletric lançou o magnífico transístor. Batizado de Sonistor, era um rádio portátil com seis transistores de alta potência “para máxima sonoridade”. O anúncio dizia que apenas três pilhas portáteis eram necessárias para que a antena interna de alto alcance captasse todas as estações. Se, naquele tempo, carioca já tivesse o hábito de ir à praia durante todo o ano, é bem possível que muitos tenham ouvido no meio da areia a partida do dia 29 de junho, quando o capitão Bellini ergueu a Jules Rimet. Ou escutado os primeiros acordes dissonantes da Bossa Nova – sem cantar junto, como manda João Gilberto.

Mas talvez Rubem Braga não estivesse tão errado sobre Copacabana, pois foi naquele período que a especulação imobiliária encontrou seu auge no bairro, e Ipanema começou a roubar o posto de Copa. A própria Bossa Nova, embora tenha num primeiro momento, sido seduzida pelos encantos da Princesinha, desenvolveu-se muito mais em Ipanema, que ainda mantinha o ar de paraíso pouco habitado, para barquinhos, banquinhos e violões à beira-mar. Mas se o interesse da galera de 1958 na Praia de Ipanema era eminentemente musical, hoje em dia a coisa é outra. Autor de uma uma dissertação de mestrado sobre as tripos da praia de Ipanema, pelo Instituto COPPEAD, da UFRJ, Gustavo Americano cita em sua tese de mestrado os visitantes do Posto 9 e do trecho em frente à rua Farme de Amoedo como alguns dos subgrupos que hoje dominam a orla carioca.

Entre o Hotel Caesar Park e a Rua Joana Angélica, o trecho em frente ao Posto 9 foi um reduto de acontecimentos que promoveram pequenas revoluções comportamentais na sociedade carioca de 1958 para hoje. A barriga grávida de Leila Diniz em 1971, a tanguinha de crochê de Gabeira nos anos 80, os apitaços para alertar contra o combate policial à maconha. Ainda hoje, o local guarda a marca da diversidade “O que mais diferencia esse grupo é a sociabilidade, pois este é o fato que atrai seus membros à praia. Sentam-se em grandes grupos e conversam bastante, bebendo cerveja e compartilhando cigarros de maconha, hoje não mais tão combatidos”, define.

Já no ponto da praia em frente à Rua Farme de Amoedo, aconteceu, segundo Americano, um fenômeno singular. A partir de entrevitas com diversos freqüentadores, ele concluiu que o trecho, freqüentado durante as décadas de 80 e 90 por cariocas simpatizantes à causa gay, coisa inimaginável em 1958, transformou-se a partir dos anos 2000 em um ponto do turismo gay ao redor do mundo, constando inclusive de roteiros pensados exclusivamente para esse tipo de público. O perfil de freqüentador desse trecho hoje é definido por Americano como de homens, brasileiros e estrangeiros, com corpos extremamente malhados que pouco se falam, talvez pela forte presença de estrangeiros. “Eles usam principalmente a linguagem corporal como forma de comunicação, seja passando bronzeador, seja com gestos ou toques”, explica.

Mas se hoje Ipanema é só alegria, em 1958 a bossa era outra. Ipanema era só felicidade, cantarolava Vinícius dando as costas para enfadonhos diplomatas. Estes, aliás, não tinham tanto trabalho como nos dias de hoje para divulgar o país lá fora, porque ele fazia isso por si só. A conquista da primeira Copa, colocando para escanteio nosso vira-latismo, os primeiros contornos de Brasília, a magnífica capital construída no meio do nada, numa espécie de Marcha ao Oeste tupiniquim, a cultura nacional fazendo ainda mais gols, com Nelson Rodrigues e Os Sete Gatinhos, Tom e Vinícius com Chega de Saudade, a imprensa carioca com revistas e jornais cheios de criatividade e vitalidade. E, para coroar tantas conquistas humanas, sociais, concretas, as praias do Rio e de várias outras cidades entravam no itinerário obrigatório de qualquer pessoa que quisesse tirar uma chinfra. Confusão era causada por biquíni abaixo do umbigo, e não por arrastão. Doença era insolação e não alergia na pele devido à poluição. Espaço sobrava, não só porque ir à praia ainda era um hábito pouco cultivado, mas também porque havia bem menos pessoas na cidade. A limpeza da areia, clara e fina, e das águas, calmas e de boa temperatura, eram o cenário perfeito para a utopia em que os brasileiros, em especial os cariocas, mergulharam em 1958. Mas como todo final de tarde que anuncia o fim da praia, o ano acabou. E, com ele, um Rio que era só felicidade.

25.11.08

O Rio vai à praia

Como eram hábitos, moda, vedetes, acessórios e outras bossas nas praias do Rio em 1958

Banhistas em 1958, nas areias de Copacabana

Um dia, 2008 poderá ser tema de livros, teses, filmes, debates e efemérides mundo afora. Obama, os atletas chineses, a discutida derrocada capitalista, as Isabelas e Eloás, ou simplesmente a acachapante popularidade do Lula: tudo poderá ser lembrado para transformar nossos queridos doze meses num ano-fetiche. Quem duvida deveria ter lido mais jornal, assistido mais à TV, navegado mais pelo ciberespaço nos últimos tempos, pois foi exatamente isso que ao longo de 2008 foi feito. Agitação política e cultural de 1968, chegada da família real, morte de Machado de Assis, publicação de Grande Sertões: Veredas. Sobrou comemoração, como se as tragédias diuturnas já não se bastassem. Empolgado pelo efeméride-way-of-life, que tal criar mais uma e, influenciado pelo calor que pouco a pouco se instala nos termômetros da cidade, pensar como o carioca ia à praia 50 anos atrás, no verão de 1958? O que era moda, o que levava, quem ia à praia? Aliás, o que era “a praia” naquela época?

Praia era sinônimo de Copacabana, Ipanema e, no máximo, Leblon. São Conrado, Barra, Recreio e outras eram tão ficção científica quanto o badalado Eu, robô, de Isaac Asimov, lançado pouco antes. Vedete de poetas, cronistas, letristas e especuladores imobiliários, Copacabana perdia, pelo menos literariamente, o posto de Princesinha, pois foi exatamente em 1958 que Rubem Braga sentenciou sua morte em Ai de ti, Copacabana: “Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera do teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas”. Sem lembrar de avisar aos milhares de banhistas que lotavam a praia sobre o falecimento do bairro, Rubem deve ter se impressionado com a quantidade de coisa que aconteceu nas então estreitas faixas de areia do bairro.

A primeira delas foi a popularização do biquíni, ou melhor, do duas-peças, forma como a invenção francesa era chamada. Segundo a consultora de moda Helen Pomposelli, professora de História da Moda da Universidade Estácio de Sá, a moda praia, apesar de sempre ter sido vista como o patinho feito das passarelas brasileiras, não teve dificuldade para lançar estilos genuinamente nacionais ao longo da segunda metade do século XX, movimento iniciado a partir dos anos 50. Não por acaso, foi justamente nessa época o auge de um processo iniciado alguns verões antes, quando as diferentes cidades marítimas do país voltaram os olhos para suas orlas e seus moradores se tornaram banhistas inveterados, deixando de lado o preconceito que a elite tinha com o banho de mar.

“Só mais para o final da década, à medida que se aproximava dos anos 60, o biquíni começou a conquistar sua praia”, explica Helen, lembrando que naquela época a parte de cima parecia mais um grande top, enquanto a parte de baixo era um grande calçolão, maldosamente batizado, devido ao tamanho, de pára-quedas. Havia modelos que começavam acima do umbigo e ia até o início das coxas, mas até esses rendiam às mulheres pitorescos elogios: umas eram uma uva, outras eram um estouro e as de corpo perfeito – que, na época, significava cintura fina e seios grandes, no melhor estilo americano – eram batizadas de certinhas.

Nélia Paula, a primeira certinha a ir de biquíni à Copa
O duas-peças deve muito de sua popularização na época a vedetes como Nélia Paula, que foi a primeira de suas colegas a aparecer em frente ao Copacabana Palace de biquíni, feito que passou a ser repetido quase diariamente pelas aspirantes ao cargo, como Carmen Verônica e Íris Bruzzi. Ambas pertenciam ao disputado time das Certinhas do Lalau, o concurso de beleza promovido por Stanislaw Ponte Preta, heterônimo do cronista Sérgio Porto. Em 1958, Sérgio já estava no sexto ano da escolha das certinhas, cuja lista era publicada sempre no final do ano nas páginas do Última Hora e da revista O Cruzeiro.

Continua amanhã

19.11.08

A construção do star system brasileiro

Star system, para os desavisados, é o termo usado para se referir ao processo pelo qual Hollywood enraizou-se no imaginário coletivo mundial, fazendo com que seus atores e atrizes sempre atraiam espectadores para os filmes por lá produzidos. É graças a esse sistema, hoje óbvio e natural para todos nós, que qualquer filme estrelado por um Tom Cruise obtém uma bilheteria razoável, independente da qualidade do filme. Bom dizer que o mesmo já acontecia na década de 40, quando Humphrey Bogart estrelou Casablanca (1942).

Sem querer entras nos prós e contras desse modelo de produção, preparei recentemente um material na Globo.com que mostra como se deu a formação do star system brasileiro, cujo criador mais bem-sucedido foi inegavelmente, pelo menos no quesito durabilidade, a TV Globo, a partir do ano de criação da emissora, 1965. As vinhetas de fim de ano da emissora, com os famosos versos Hoje a festa é sua/ Hoje a festa é nossa sendo entoados por elenco e jornalistas uníssonos, provam como o star system global foi arquitetado desde cedo.

A novidade é que boa parte dessas vinhetas agora estão disponíveis na Globo.com, na seção A festa é sua. Clique aqui para ver o catálogo com as vinhetas antigas. Divirta-se.

14.11.08

Relíquias: Como Allan Konigsberg se tornou Woody Allen

A revista Bravo, que traz na capa da edição desse mês uma bela matéria sobre Woody Allen, publicou em seu site uma compilação de cenas dos filmes do diretor. Tentando identificar diferenças marcantes na obra de Woody, a revista agrupou os vídeos em quatro fases. Sem pretendê-lo, conseguiu traçar um painel de como Allan Stewart Konigsberg se tornou Woody Allen, um dos maiores diretores norte-americanos.

A primeira fase seria dos filmes "piada-puxa-piada", aqueles até meio cansativos, em que ele mesmo contava as piadas que escrevia. Depois, veio uma das fases mais interessantes, quando ele ganhou o Oscar (e não foi buscar) por Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), mudando seu jeito de filmar e passando a explorar mais os conflitos existenciais dos personagens. A terceira fase, segundo a Bravo, seria a de Nova York, quando ele se consolida como o maior cineasta que filmou a alma da Big Apple. Não por acaso, o expoente desse momento foi Manhattan (1978). A última seria a que ele é visivelmente influenciado pela literatura. A revista cita como filmes-síntese desse momento Hannah e Suas Irmãs (1983), inspirado na peça Três Irmãs, de Tchekov. Eu citaria outro: o excelente Ponto Final - Match Point (2005), nitidamente influenciado por Crime e Castigo, de Dostoiévski. O trailer do filme, em inglês, você confere aí embaixo.

11.11.08

Cada época tem a TV que merece

Timaço na TV Globo: Sérgio Cardoso em cena de O médico e o monstro, adaptação feita por Domingos de Oliveira do romance homônimo de Roberto L. Stevenson, com direção de Ziembinski

Escrever ontem sobre o Grande Teatro Tupi me fez lembrar de outro exemplo que mostrou o vigor da nossa teledramaturgia e também a importância dos anos 70 para a consolidação de um alto padrão de qualidade. Em 1971, a infante TV Globo tentou reeditar o sucesso da TV Tupi lançando o Caso Especial, um programa que trazia, em dias e horários diversos, episódios de duração média de uma hora e com formato fortemente influenciado pela proposta da Tupi. Ficou 28 anos no ar e, em 172 montagens, produziu dramaturgos brasileiros e estrangeiros, além de histórias originais. A direção dos episódios, até 1978, era estelar: Paulo José, Ziembinski e Domingos Oliveira. Entre os bambas encenados, houve Shakespere, Dostoiévski, Tchekhov, Vianinha, Plínio Marcos, Clarice Lispector e até o diretor de cinema Akyra Kurosawa.

Em 1979, optou-se por radicalizar ainda mais a proposta de teatro na TV, transformando-o num teleteatro. Nessa fase, ele passou a ser apresentado dentro do programa Aplauso, sob coordenação de Paulo José. A partir de 1980, os episódios foram ficando escassos, mas não menos ousados nas escolhas. Estrangeiros como Shakespeare foram encenados novamente - Otelo foi adaptado em 1983 por Aguinaldo Silva, com o previsível abrasileiramento do personagem, que passou a se chamar Otelo de Oliveira. Mas foram os autores nacionais a principal escolha nos anos 80 e 90: Jorge Amado, Rubem Fonseca, João Ubaldo, João Cabral de Melo Neto, Machado de Assis, dirigidos por diretores de TV e de cinema (Guel Arraes, Roberto Talma, Roberto Farias).

O suspiro final foi em 1995, com A farsa da boa preguiça, adaptado da peça homônima de Ariano Suassuna. Por falar em preguiça, dói pensar que tínhamos uma TV mais ousada e menos submissa aos devaneios bigbrotherianos, e, conseqüentemente, melhor.

A tempo: as duas minisséries em produção pela Globo deverão dar um sopro de qualidade à atual grade da emissora, insossa até dizer chega. A primeira é Maysa, contando a vida cantora, sob a direção de seu filho, Jayme Monjardim, e a outra é Capitu, dirigida pelo mágico Luiz Fernando Carvalho, um dos diretores que mais criativamente trabalha a linguagem televisiva, alçando-a a patamares que quase anulam os perniciosos efeitos do Big Brother e escatologias do tipo.

Que tal ter aula de teatro com Fernanda Montenegro?

É raro divulgar algum evento aqui no Textos etc, mas dessa vez é impossível não abrir exceção para As Escolas dos Mestres. Calma, apressado leitor! Apesar do nome meio piegas do encontro promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, a idéia é bem legal: reunir grandes atores para que eles contem histórias e experiências de fases das suas carreiras em que mais cresceram profissionalmente. Em novembro, os encontros vêm acontecendo desde o dia 6, quando Marco Nanini falou sobre o Conservatório de Teatro e a influência de Dercy Gonçalves, Eva Todor e Afonso Stuart para o humor no teatro brasileiro.

Nessa quinta, 13, Sérgio Brito, Fernanda Montenegro, Nathália Timberg e Ítalo Rossi serão os convidados para falar sobre o Grande Teatro Tupi, um dos momentos mais ricos da teledramaturgia brasileira. Fernando Torres, Sérgio Britto e Flávio Rangel revezaram-se na direção de 450 telepeças durante nove anos de programa, e adaptaram peças de Henrik Ibsen, Tennessee Williams, Pirandello, Bernard Shaw, Eugene O'Neill, Frederico Lorca, Górki, Jorge de Andrade, Nelson Rodrigues e outros.

O grupo de atores era originário principalmente dos remanescentes do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), grupo criado e dirigido por Franco Zampari. Com a proposta de levar dramaturgia de qualidade para a até então incipiente programação televisiva, ao Grande Teatro Tupi deve-se boa parte do padrão de qualidade alcançado pela teledramaturgia brasileira nas décadas seguintes.

Com a morte de Fernando Torres, em setembro deste ano, é importante lembrarmos e discutirmos essa fase de ousadia e experimentalismo da TV brasileira, que cultiva cada vez menos as duas coisas. Tomara que a ida ao CCBB do Rio nessa quinta para ouvir Fernanda, Ítalo, Sérgio e Nathália falando sobre o Grande Teatro, seja não apenas um prazer, mas também um estímulo para que, como telespectadores, exijamos menos Big Brother e mais qualidade. A tempo: a entrada é franca e serão distribuídas200 senhas uma hora antes.

Serviço
Quando: 13/11, às 18h30
Onde: CCBB do Rio de Janeiro - Rua Primeiro de Março, 66 - Centro.