5.3.10

A imprensa e as UPPs

Não sei se já disse aqui, mas, lá no Extra, jornal em que trabalho e onde escrevo sobre segurança pública, faço a cobertura das comunidades que têm Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), no Rio de Janeiro. No início do ano, até escrevi aqui no blog um post sobre o projeto das UPPs.

Por isso, hoje fui o repórter escalado para acompanhar o início da venda do Globo, do Extra e do Expresso (jornal com perfil ultrapopular, voltado para as classes D e E) no Santa Marta. A venda foi bem dentro do morro, uma novidade, já que a banca de jornal mais próxima fica na Rua São Clemente, em Botafogo e, portanto, fora da favela.

Desde que assumi essa área da cobertura de segurança pública, pensava nisso. Não bastava irmos para a favela e contar histórias sobre eles, sem que elas fossem lidas por eles mesmos. A presença da imprensa dentro da comunidade tem que ser de duas formas, tanto por meio do jornalista, quanto por meio do jornal/site/TV/rádio ou seja lá o que for. É fundamental que os moradores das favelas passem a ler/assistir/ouvir/acessar os veículos e neles possam encontrar conteúdo sobre o local onde eles moram. A cidadania que aos poucos é reconstruída com a segurança estabelecida pela UPP só será completa se o cidadão tiver na imprensa um aliado pela briga de seus direitos.

O Extra, por exemplo, que é um jornal bastante próximo do leitor, é enxergado pelo resto da cidade como uma entidade que briga por seus direitos. Por que não pode ser visto dessa forma pelo morador de favela? Por que o contato com a favela sempre tem que ser para falar de violência? E a falta d'água? E a falta de luz? De oportunidades? De educação? Tudo isso é pauta para o jornalismo.

Com o jornal nas mãos e o repórter nas vielas, acredito que começa um ciclo positivo, retroalimentado por cidadania e informação. Tomara que isso seja possível em outras favelas pacificadas.