9.3.09

Estava demorando

Demorou, mas a crise chegou com força total na cultura. Tim Festival periga de acabar, Oi Noites Cariocas em 2010 já era, Orquestra Petrobras Sinfônica está com salários atrasados e assim deverá permanecer até abril, Armazém Companhia de Teatro quase na mesma, Cia. de Dança Deborah Colker também no chá de cadeira à espera da mãe Petrobras.

Os exemplos são vários, país afora, e mostra como a farinha pouca obriga outros departamentos das grandes empresas a roubar o pirão do marketing cultural. Triste é pensar no possível fim de tradicionais e importantes eventos como o Tim Festival, antigo Free Jazz, que, desde 1985, totalizou pelo menos 22 edições (em 2002, durante a transição do patrocínio da Souza Cruz para a Tim, não houve o festival). Sem um festival de rock que lhe substitua, visto que o Claro que é rock não foi pra frente, o Tim Festival vai aprofundar o abismo em que os festivais musicais (festivais?) da cidade se encontram.

Idem para o Oi Noites Cariocas, que, depois de cair do Morro da Urca para o Píer Mauá, deve cair de vez. Sucesso também nos anos 80, comandado pelo multimídia Nelson Motta, quando era simplesmente Noites Cariocas, o festival havia voltado sob a batuta inteligente do marketing cultural da antiga Telemar. Agora, parece que a operadora não vai conseguir manter a ligação. A linha está ocupada.

Se quem canta, os males espanta, o mesmo pode não acontecer com quem dança. Débora Colker, a mais famosa coreógrafa brasileira, que deve estrear em breve a única atração de 2009 do Cirque de Soleil, concebida e dirigida por ela, também está na lista dos que correm o risco de perder o mãetrocínio da estatal. Ainda há esperança no fim do túnel (túnel?), pois só na sexta passada, com a divulgação dos R$ 33,91 bilhões de lucro, a Petrobras começou o cálculo de quanto sobrará para os incentivos.

"Temos 21 anos de parceria com a Petrobras. Entendemos o fato de que ela precisou de mais tempo para elaborar seus contratos, neste cenários de crise mundial", tentou contemporizar o maestro assistente e oboísta da Petrobras Sinfônica, Carlos Prazeres, em entrevista ao Globo hoje.

Com tantas ameaças, dentro e fora da esfera cultural, o jeito, meu caro amigo, é apertar a reza, confiar em Santo Antônio e torcer para que, além da nossa diversão, sejam poupados o meu, o seu, o nosso emprego.

Obs.: Este é o primeiro post do ano sobre política cultural, a nova seção do blog. Sugestões para novos posts são pra lá de bem-vindas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando a cultura está apoiada na inciativa privada e no governo para sobreviver, qualquer crise econômica representará menos eventos e espetáculos.
O problema é quando estamos conformados com essa dependência. Hoje me parece que muitos artistas entendem que é obrigação de empresas apoiarem a cultura. Na verdade, como esses exemplos mostram a coisa não é bem assim.
Sei que é lugar comum, mas qualquer crise é uma oportunidade de inovar. Precisamos pensar em formas sustentaveis de produzir cultura com o apoio de governo e iniciativa privada, mas sem a dependência disso.
Lazer é uma necessidade humana e a cultura tem que procurar aproveitar isso.
Sei que é difícil imaginar como a cultura pode ser auto-sustentável, mas essa é a única saída. Está lançado o desafio para os produtores e artistas.

E para o blog o desafio é pesquisar por modelos que deram certo sejam nacionais ou internacionais. Abraço!

Guilherme Amado disse...

Concordo plenamente com você. Acho que a saída, pelo menos macro, é consolidação do mercado interno. Os países cujas indústrias do entretenimento deram certo são aqueles que têm forte mercado interno.
Vou procurar saber especificamente de alguns países. Valeu pelo incentivo!
Abraço