27.6.08

Guimarães Rosa no cinema

Hoje, Guimarães Rosa, considerado o maior escritor brasileiro do século XX, completaria 100 anos de idade. Em comemoração, os cinemas da Caixa Cultural começaram a exibir, no último dia 24, aqui no Rio, 17 filmes feitos a partir de sua obra, além de 3 programas de TV. Adaptar Guimarães Rosa para o cinema é uma tarefa hercúlea, devido aos enormes malabarismos que ele faz com a linguagem, criando palavras e uma sintaxe no mínimo exótica. Mas mesmo assim, em bem e mal sucedidas adaptações, a obra do escritor, mineiro de Cordisburgo, inspirou 11 longas-metragens e seis curtas.

Em 1965, dois anos antes de sua morte, foi filmado A hora e a vez de Augusto Matraga, por Roberto Santos, e O Grande Sertão, dos irmãos Renato e Geraldo Santos Pereira. Na mostra, também estão adaptações feitas por Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha.

Dentre os 17 que serão exibidos até o dia 6 de julho, o único filme a que assisti e de que posso falar é Mutum, de Sandra Kogut, lançado em 2007 e vencedor do Festival do Rio do mesmo ano. Sandra se inspirou na história de Miguilim, da novela "Campo Geral" (Manuelzão e Miguilim), para fazer um filme bom, sob vários aspectos, mas principalmente por ter conseguido separar-se do emaranhado linguístico criado por Rosa e saber aproveitar o lado temático, do sertão, de quem ele era profundo conhecedor.

Cena de Mutum, de Sandra Kogut


No livro, ele se inspira na tradição oral e na língua concreta do sertanejo, onde predominam imagens da natureza. Mas a linguagem particular falada por seus personagens é uma mistura de expressões regionais com aportes de várias outras línguas, formando uma língua imaginária. Sandra conseguiu fazer um filme coerente com essa coisa sertaneja, trazendo essa atmosfera para os dias atuais. O sertão dela tem, por exemplo, boné de propaganda política. Talvez pelo lugar em que assisti ao filme, achei o som bastante ruim, com qualidade técnica muito baixa. Também é bom avisar que é um filme de sertão como vários outros dessa vertente do cinema brasileiro. Tem que gostar daqueles silêncios intermináveis bem nouvelle vague.

De contornos autobiográficos, a história de Miguilim era a preferida do autor: “Em Miguilim, acho tudo o que já escrevi até agora e talvez mesmo tudo o que venha a escrever em minha vida. Nessa história, está o germe, é a semente de tudo”, disse certa vez em uma entrevista.

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