17.6.08

O cartão-postal televisivo

Leia as outras reportagens do especial As esquinas de Copacabana:
História do bairro 1: O mirante azul começa a se transformar
História do bairro 2: Balneário de uma Europa Tropical
História do bairro 3: A cidade dentro da cidade
Representações de Copa: A Copacabana paradisíaca


Saindo um pouco da palavra e partindo para a imagem, a série sobre como Copacabana, bairro mito do Rio de Janeiro, é mostrado nos meios culturais continua e encerra o mapeamento as representações paradisíacas. A vinheta de abertura da telenovela Paraíso Tropical, exibida durante 2007 pela Rede Globo, é um exemplo perfeito dessa forma de representar o bairro. Que Copacabana é aquela que vemos na abertura da novela? Certamente não é o das prostitutas, dos cafetões, das crianças abandonadas na rua pedindo esmola. Vemos uma estetização moderna do bairro, cuja natureza, mesmo após toda a degradação ambiental imposta pela especulação imobiliária, é o ponto de partida para mostrar que o bairro ainda pode ser mostrado de forma idílica, mais de cem anos após sua fundação, com todos seus problemas.



A vinheta estetiza Copacabana. A beleza da praia, o cruzeiro marítimo, o Copacabana Palace, a praia muito bem iluminada. Tudo isso é mostrado através de movimentos de câmera lentos e doces, que acompanham o ritmo da canção Sábado em Copacabana, desta vez em brilhante interpretação de Maria Bethânia. Vale observar como alguns problemas do bairro são amenizados. O trânsito de Copacabana, caótico nas horas de pico, é mostrado de forma diferente da realidade. Não há engarrafamentos, os carros fluem normalmente numa harmonia urbana de dar inveja às cidades dos países nórdicos. Os movimentos de câmera são muito importantes na construção dessa imagem. Por exemplo, ao fazer uma curva lenta e suave na esquina das avenidas Princesa Isabel e Atântica, reforça a idéia de fluidez do trânsito, em um ponto onde o trânsito, quase sempre, de fluido não tem nada. As panorâmicas do bairro, em diferentes momentos do dia, reforçam a imagem de paraíso e desconstrói a visão de algumas pessoas de que Copacabana de dia é mais calma que Copacabana de noite.

Os cartões-postais do bairro, vendidos em qualquer ponto turístico carioca, retratam o bairro da mesma forma. Captam ângulos favoráveis ao bairro e são representações positivas de Copacabana, interessantes para a indústria do turismo e para a economia do bairro de uma forma geral. A vinheta de abertura de Paraíso Tropical é nada mais que um cartão-postal televisivo, carregado de estetização.

Mas que Copacabana Paraíso Tropical mostrou de fato, além da sua abertura? A prostituta Bebel, cheia de “catiguria”, o empresário hoteleiro Antenor, os garotos de classe média da praia, o cafetão Jáder. Personagens que certamente não estariam na música de Braguinha. Somos obrigados a mudar o rumo da história e entender um pouco melhor como essa Copacabana caótica aparece nos meios culturais.

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