Pouco antes da conversa comigo, no domingo retrasado, as duas sensações do primeiro fim de semana da Bienal do Livro pediram um tempinho. Meg Cabot precisava descansar as madeixas ruivas da tiara de princesa que usa nas fotos com os fãs. Thalita Rebouças perguntou se podia correr ao banheiro para retocar o batom, já gasto de tantas bitocas nos livros que autografa. Do lado de fora da área VIP, centenas de pré-adolescentes, meninas na maioria, esperneavam por um breve tchauzinho.
Nem tão breve assim tem sido o sucesso da dupla com essa faixa etária. Meg, autora da série best-seller “O diário da princesa”, já lançou 32 livros no Brasil (pela Record) e reina sobre a poderosa marca de 15 milhões de exemplares vendidos, 800 mil só aqui. Na Bienal, autografou 600 e vendeu até domingo “apenas” 2.500. Thalita, com dez títulos no currículo (lançados pela Rocco), não fica atrás. Os mais populares entre os seus são os da série “Fala sério!”, cujas histórias dão dicas de como as adolescentes podem lidar com mãe, pai, professor e a melhor amiga. Acumula 400 mil exemplares vendidos — 6.500 de quinta a domingo na Bienal — e já vende em Portugal.
Simpáticas, falantes, com um quê das garotas para quem escrevem, as duas apontaram suas preferências literárias, reclamaram do preconceito que sofrem de autores supostamente mais sérios e, é claro, ficaram amigas. Certo, baby?
Sempre dando autógrafos, sendo entrevistadas, tirando fotos com fãs/leitores. Todo esse trabalho é recompensador?
MEG CABOT: Acho que tudo faz parte do trabalho. Tirar fotos, autografar livros, tudo isso faz parte, até dar entrevista, o que não é tão prazeroso quanto o assédio dos fãs (risos). Eu amo esse trabalho, nunca pensei que um dia o que eu escrevesse fosse ser publicado. Nunca imaginei que tudo isso fosse fazer parte da minha rotina. E ainda sou paga por isso!
THALITA REBOUÇAS: Eu concordo. Acho que tenho o trabalho mais maravilhoso do mundo, porque eu amo escrever, amo crianças, amo pessoas. E adolescentes são tão amáveis! Quando eu tenho a chance de vir aqui, ver os olhos dos meus leitores e ouvir as coisas tão bonitas que eles me dizem, é incrível. Eu chego em casa e choro. Choro muito, porque as pessoas choram durante o dia, e eu não sei o que fazer. É estranho, não é, Meg? Fico com vontade de chorar também, mas não posso por causa da maquiagem (risos). Aí choro em casa.
Outro aspecto em comum entre vocês duas é a forma carinhosa com que lidam com os leitores. Meg os compara a seus filhos, e Thalita sempre beija os livros que autografa. Alguma vez um deles já foi mal-educado ou passou dos limites no excesso de beijos e abraços?
MEG: Nunca aconteceu. O que já houve foram autores serem grossos comigo, principalmente mulheres. Fico tão chocada! Imagino que seja porque sou best-seller, e eles lidam de um jeito como se, por isso, fossem melhores do que eu. Isso é muito louco. Você já viveu isso, Thalita?
THALITA: Sim, já vivi. Há muitos autores que se sentem melhores que você, como se fossem deuses.
Vocês sofrem preconceito por serem autoras de livros para adolescentes?
MEG: Sim, principalmente por parte dos autores de livros para adultos. Eu não sei o que eles pensam sobre o que eu escrevo. Talvez seja o tema. Para mim, o mais importante é o amor, a família, e esses autores escrevem sobre temas como guerras...
THALITA: Temas que são tidos como mais “sérios”. Como se nosso trabalho não fosse sério. E é claro que é. Nós fazemos adolescentes lerem, e isso é muito importante.
Meg escreve também para adultos. E você, Thalita, já pensou em escrever para esse público?
THALITA: Nunca.
MEG: Sério, baby? Talvez, quando seus leitores adolescentes crescerem, você possa escrever para eles.
THALITA: Sim, eu sei disso, mas é que acho adulto muito chato! (risos) Sou como o Ziraldo ou a Ruth Rocha, que só escrevem para um único público. Realmente vejo meus fãs crescendo e penso nisso. Quem sabe um dia...
Meg é publicada em vários países, e Thalita também lançou livros em Portugal. Vocês acham que toda garota, qualquer que seja seu país, tem os mesmos sonhos?
MEG: Eu acho que o meu sonho e o da maioria das meninas que me leem é encontrar uma coisa especial dentro de si. Uma característica única que você tenha para dar ao mundo e na qual deve focar. Esse é o caminho para a felicidade e talvez também para se encontrar o amor verdadeiro. Os meus livros são voltados para isso, para ajudá-las a descobrir quem elas são.
THALITA: Eu concordo. Elas têm os mesmos sonhos, os mesmos objetivos. Vivem as mesmas transformações, com a voz ficando estranha, o corpo sofrendo mudanças. Tudo é muito estranho, e eu gosto de saber que meus livros as ajudam a rir e a pensar sobre elas mesmas.
O que vocês gostam de ler?
MEG: Gosto de quase todo tipo de livro, com exceção de ficção científica. Gosto especialmente de histórias de mistério, ficção para mulheres, com romance e humor.
THALITA: Gosto muito de Saramago, de contos, de autores que conheci na minha adolescência, como Luis Fernando Verissimo, João Ubaldo Ribeiro e Fernando Sabino. Também gosto muito da Clarice Lispector, de quem já soube que você é fã, né, Meg?
Quando vocês terminam de escrever um livro, o que sentem?
MEG: Eu fico muito feliz e sei que já posso passar para o próximo (risos).
THALITA: Não, eu fico muito triste! Choro o tempo todo, porque sinto que aquele livro não é mais meu. É claro que eu gosto de todos virem falar comigo, me beijar... Mas é estranho ver que acabou. Depois do lançamento, aí sim fico pensando em como vai ser o próximo.
MEG: Eu choro enquanto estou escrevendo. Choro muito! Penso: “Estou odiando esse livro”. É terrível! Tenho que comer. (risos) Como batata chips, chocolate... (risos) Depois, tenho que fazer muito exercício para manter a forma.
Thalita, queria que você fizesse alguma pergunta para a Meg.
THALITA: Meg, realmente tenho uma pergunta para você! Eu sempre participo de feiras aqui no Brasil e estou adorando ver como uma autora estrangeira reage aos leitores, sempre feliz. Gostaria de saber se você estava esperando esse tipo de recepção. Você está acostumada com isso?
MEG: Não, eu nunca vivi nada parecido na minha vida. Nos Estados Unidos, esse tipo de evento é restrito aos editores, livreiros, não é aberto ao público ou, quando é, não é para tanta gente. Achei uma ideia ótima, e isso ainda não acontece plenamente lá. Há tentativas em Los Angeles e em Washington... Eu adoraria estar com Thalita em uma feira dessas lá nos Estados Unidos.
THALITA: O bom é que na Bienal os autores se sentem como popstars. Isso é incrível! Ver as pessoas gritando por você.
MEG: Eu acho que a geração atual de adolescentes está ajudando a promover isso.
*Publicado originalmente no jornal O Globo.
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