Esqueça os cinéfilos e suas roupas moderninhas, os diretores e suas discussões cult, os atores e seus deslumbres com fotógrafos e fãs. Nesta quarta-feira, a Première Brasil do Festival do Rio só teve um dono, ou melhor, algumas donas. Rita Cadillac, Fátima Boa Viagem, Vera Furacão, Cabocla Jurema, Regina Polivalente e outras ex-chacretes desapropriaram o tapete vermelho do Cine Odeon para assistir à primeira exibição em terra carioca de "Alô, alô, Terezinha", documentário de Nelson Hoineff sobre o apresentador Chacrinha.
Numa noite de lágrimas, críticas e risos, muitos risos, Cadillac e sua turma transformaram os dois andares do Odeon em um auditório chacrinesco, tão divertido quanto as quartas-feiras de quase quarenta anos atrás, quando a tradicional "Discoteca do Chacrinha" plugava os brasileiros nos lançamentos do showbizz da música e tornava mais palatável a semana dos milhões grudados em frente à TV.
- Tá-tá-tá-Ritááá Cadillac! - berrou Fátima Boa Viagem ao descobrir que a enorme loura ao seu lado era a ex-colega.
- Querida! Que bom te ver! Ah, se você soubesse como é bom - sussurrou Rita, lembrando que as duas não se viam desde 1983.
Roda, roda, roda e avisa que, fora os sorrisos, beijinhos e abraços, nenhuma quis comentar, pelo menos antes do filme, os polêmicos e debatidos trechos em que as ex-chacretes Índia Potira e Loira Sinistra dizem já ter feito programa:
- Prefiro não comentar - brincavam, saindo pela tangente.
Cadillac (ao lado, em cena de divulgação do filme), todo-poderosa, prometia fazer um comentário no fim da sessão. Depois de gastar litros de lágrimas durante a exibição, preferiu economia nas palavras:
- Gostei.
Já Regina Polivalente, embora com olhar sério e cuidado ao escolher cada palavra, foi um pouco além na avaliação sobre a polêmica:
- Acho que cada uma seguiu o seu caminho. O filme mostrou isso. Foram escolhas diferentes e hoje, anos depois, cada uma sabe de si.
Com preocupações mais amenas, Lílian Martins, caloura que venceu uma das tardes de sábado do "Cassino do Chacrinha", em 1987, lembrou que a única crítica que recebeu foi do mítico jurado mal-humorado Edson Santana, que desancava os competidores:
- Ele disse que eu era muito bonitinha, mas tinha desafinado. Mas que fique bem claro: eu nunca recebi buzina! - disse, ao lado de outro calouro, Manoel de Jesus, este buzinado em vários sábados.
Quem não chegou despercebida, é claro, foi Elke Maravilha, outra jurada de carteirinha dos sábados do apresentador. Em um exuberante vestido de lã roxa e com os cachos louros e grossos de sempre, Elke salpicava beijos de batom vermelho e cumprimentos carinhosos ("Oi, criança, tudo bem?"):
- Quando penso no Chacrinha, o que vem à minha cabeça é a sua brasilidade. Aquele sim era um brasileiro! - derramava-se.
No segundo andar do Odeon, tomando uma água mineral no restaurante, o cantor Byafra (desde 1998, ele trocou o "i" pelo "y" para evitar aparecer na mesma página da guerra civil nigeriana nos sites de busca) preferia o recolhimento à confusão do tapete vermelho.
Sobre o trecho de "Alô, alô, Terezinha" que virou febre na internet - a cena mostra o cantor sendo atingido por um parapente enquanto cantava seu sucesso "Sonho de Ícaro" , próximo ao Museu de Arte Contemporânea, em Niterói -, ele manteve o humor:
- Teve mão do Chacrinha naquilo ali. Tenho certeza que foi ele quem empurrou o parapente em mim (risos).
Emocionado no fim da sessão, a quarta a que assistiu, Leleco Barbosa, filho de Chacrinha e diretor do programa do pai durante anos, misturava choro e riso no esforço para defini-lo:
- Ele era indirigível. Eu dirigia o programa, pois fazer isso com ele era impossível. Mas, lá em casa, Dona Florinda (mulher do apresentador e mãe de Leleco) conseguia.
Calouros, jurados, chacretes, filhos e pessoas da produção do documentário atravessaram a rua, depois da exibição, para, ao som do "Terezinhaaaa!" e de outros bordões de Chacrinha, lembrar no Passeio Público Café o aniversário do apresentador, que seria comemorado neste 30 de setembro.
*Publicado originalmente no site do Globo.
30.9.09
Chacretes e calouros transformam Festival do Rio numa imensa 'Discoteca do Chacrinha'*
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