30.6.09

Lado B dá Flip está dando show

Correndo por fora, os eventos paralelos à programação central da Flip estão dando um show. Além das já tradicionais exibições de filmes e apresentações teatrais e de música, também haverá bate-papos com autores. Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Ondjaki, Jon Lee Anderson (autor de excelente biografia de Che Guevara), os franceses David Foenkinos (O potencial erótico de minha mulher, Em caso de felicidade e Quem se lembra de David Foenkinos) e Ollivier Pourriol (Cinefilô) são alguns dos autores que se revezarão na Casa de Cultura e na Off Flip.

Na Flipinha, braço infantil do evento, haverá a grande Ruth Rocha, comemorando 40 anos de carreira na literatura infantil, e Carlos Heitor Cony. Já na estreante FlipZona, seara dos adolescentes, terá intensa programação misturando filmes, oficinas e mesas sobre quadrinhos, novas tecnologias e conflitos na adolescência.

Talese não está resfriado

O mais famoso texto de um dos mais famosos nomes da Flip deste ano está disponível na íntegra na internet. Trata-se de Frank Sinantra has a cold, de Gay Talese. Papa do jornalismo literário, Talese não só não está resfriado, como já está em Paraty, onde fala no sábado, às 17h. Inventor do que se convencionou chamar "jornalismo literário", que mescla elementos da literatura à apuração e precisão jornalísticas, Talese também é autor de outros excelentes livros-reportagens, como O Reino e o Poder, A mulher do próximo e o recente Vida de escritor.

O grande mérito de Frank Sinatra has a cold, como texto jornalístico, não está só no texto rico em detalhes e criatividade. Mas está em ser um perfil feito sem o perfilado. Talese ouve milhões de pessoas menos o próprio Sinatra. E o resultado é fantástico.

Clique aqui para ler a reportagem, na íntegra, no site da revista Esquire. Tudo sobre a mesa de Talese - que conversará com o jornalista Mario Sergio Conti, diretor de redação da revista Piauí - você acompanha aqui no Textos etc.

26.6.09

O lirismo dos loucos de Bandeira

Um século separa o nascimento de Manuel Bandeira do meu, mas cada um desses anos de diferença se dilui toda vez que eu leio uma de suas poesias. Confesso que sempre fui mais de prosa que de poesia, talvez por nunca ter tido um professor na escola ou na vida que me encaminhasse pelos labirintos dos versos e estrofes, às vezes demasiadamente enigmáticos para mim. Mas com Bandeira é diferente. Autor homenageado este ano pela Festa Literária de Paraty, o poeta é conhecido por despertar o gosto pela poesia.

De hoje até o fim da Flip, dia 5 de julho, o Textos etc vai publicar 10 dos poemas dele, todos comentados a partir das observações feitas pelo crítico Davi Arriguci Jr. em seu rico Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira. Espero que esses poemas e a riqueza neles contida, apontada pela sofisticada percepção do Davi, despertem em outras pessoas também o desejo de mergulhar na poesia bandeiriana.

O escolhido para abrir a série é Poética, que faz parte do livro Libertinagem, de 1930, o quarto publicado, mas primeiro realmente moderno. É neste livro que está grande parte de seus poemas mais conhecidos, que se revezam entre humor, paixão e erotismo. Nele, ele cria uma mistura inovadora e moderna, chegando a uma emoção poética com palavras simples, colhidas no vocabulário do dia a dia, das ruas, da boca da pessoa comum e não dos intelectuais com dicionário decorado.

Além disso, o Poética também mostra sua concepção da poesia como transe ou inspiração súbita. Como diz o Davi, ele encarna a paixão no poema, o lirismo, como diz nos últimos versos, dos loucos, dos bêbedos e dos clowns de Shakespeare.

Poética


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare


— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

25.6.09

Joyce em 140 caracteres

A editora americana Penguin vai adaptar clássicos da literatura em 20 tweets de 140 caracteres cada, limite que o Twitter estabelece para suas mensagens. Shakespeare, Dante Aligheri, Stendhal, James Joyce e até JK Rowling terão livros seus resumidos em 2.800 caracteres. Parece loucura, mas a notícia foi publicada ontem no jornalão britânico The Guardian.

Ideia de dois jovens americanos, alunos da Universidade de Chicago, a "Twitterature" é, para eles, um grande feito. "Nós tentamos unir os dois pilares da nossa geração, de uma vez por todas e para sempre", disseram Emmett Rensin e Alex Aciman.

Sou contra todo tipo de preconceito com novas tecnologias, mas vamos combinar que não há chance de isso ficar sequer interessante. Reduzir um livro como Ulisses, do Joyce, a 2.800 toques é matar a obra. Vale menos que um resumo. E os livros do Harry Potter? Que graça tem excluir os detalhes da história e só contar o enredo geral? A orelha deve ter mais caracteres.

O triste é que provavelmente isso vai vender como água.

24.6.09

Relíquias: O Hamlet de Aderbal

Que me desculpem os críticos, mas o Hamlet de Aderbal Freire-Filho é fundamental. Assiste semana passada à peça, aproveitando a última chance aqui no Rio, já que a produção agora irá rodar o Brasil (parece que o roteiro inclui Curitiba, Campinas, Santos, Salvador e Recife, mas essa não é uma informação oficial). Achei a montagem de Aderbal muito bem feita, pois conseguiu tornar o texto contemporâneo e, ao mesmo tempo, manter sua consistência. O elenco, encabeçado por Wagner Moura, Tonico Pereira e Carla Ribas - protagonista do filme A casa de Alice - dá conta do recado e vai além.

Está certo que Moura está um tanto acima do tom como o atormentado príncipe que recebe do espírito do pai a missão de vingar sua morte. Mas e daí? Sua interpretação excitada é muito prazerosa de ver. Como bem frisou a crítica Barbara Heliodora, do Globo (link para a crítica de Barbara no fim deste post), a tradução optou por não seguir a oscilação presente no texto original entre o Hamlet louco, quando o personagem fala em prosa, e o racional, quando o texto está em poesia. O Hamlet de Moura é louco praticamente o tempo todo.

E isso é maravilhoso, pois dá nuances ainda mais dramáticas à conhecida e eterna discussão do "ser ou não ser" que a peça propõe. O que é verdade e o que é representação? Não estamos o tempo todo representando? O teatro, como arte-espelho da natureza humana, é o objeto central da peça. Já havia lido, mas nunca assistido a uma encenação deste que é um dos textos fundamentais de Shakespeare. Essa percepção de que "Hamlet" coloca em discussão o próprio teatro só consegui ter assistindo à peça.

Aí que entra a importância dos outros elementos cênicos que tornam o teatro uma arte tão sensorialmente rica. A iluminação de Maneco Quinderé responde a quem se pergunta por que é tão grande seu prestígio no teatro carioca. Rodrigo Amarante criou uma música bonita em muitas partes. O figurino mistura elementos de época com trajes contemporâneos, dando um ar atemporal às roupas dos personagens, sendo destaque absoluto uma armadura usada pelo fantasma do pai de Hamlet. Curiosidade: pesa 16kg.

Já o prazer depois de assistir à montagem de Aderbal pesa bem mais. Não sei quanto até agora, mas é muito.

No YouTube, achei algumas cenas selecionadas. Quem mora nas cidades por que a peça passar não pode deixar de ver. O preço é meio alto, mas vale cada centavo.



Tanque de links:
Críticas de Macksen Luiz, Rodrigo de Almeida, Daniel Schenker e Eliana Pibernat Antonini no Jornal do Brasil
Shakespeare cai ferido no Leblon: a crítica de Barbara Heliodora no Globo
Carta de Aderbal Freire-Filho à crítica de Barbara
Réplica de Barbara à resposta de Aderbal
Piruetas de um príncipe acrobático: a crítica de Jefferson Del Rios no Estadão
Moura faz o Hamlet de sua geração: a crítica de Sérgio Salvia Coelho na Folha
Site do figurinista Marcelo Pies mostra todas as roupas criadas e explica uma a uma

21.6.09

Que tipo de livro é o Brasil?

"... o Brasil é um romance daqueles bem caudalosos, que mistura estilos de forma atarantada, embora seja perceptível certo predomínio do barroco. Passagens fascinantes vêm entremeadas a outras muito mal escritas. Um livro bastante violento, aliás. Às vezes fica tão insuportável na repetição de certas tramas que dá vontade de abandonar a leitura. Mas não resistimos, voltamos a abri-lo, logo estamos fascinados outra vez. A esperança de um final feliz é remota, mas nunca se apaga. Há livros bem piores na estante do mundo."

O trecho acima é para dar continuidade à babação de ovo ao escritor e jornalista Sérgio Rodrigues, autor dessa resposta e do ótimo blog Todoprosa. Sérgio respondeu à pergunta do título deste post na interessante entrevista que deu para o site Rascunho, em que fala de seu livro Elza, a garota e também de várias questões do mundo literário, como a formação de um escritor, o momento por que passa a literatura no Brasil, o romance histórico, o desinteresse da grande mídia pelo assunto e a possibilidade de oficinas literárias contribuírem ou não para o sucesso de um escritor. Vale a leitura. Enquanto isso, prometo só voltar a falar em Sérgio mês que vem, na cobertura da Flip, quando ele dividirá mesa com Tatiana Salem Levy e Arnaldo Bloch.

15.6.09

Entrevista sobre Elza, a garota

Faz poucos dias, terminei de ler Elza, a garota, o novo romance de Sérgio Rodrigues (autor do ótimo e sempre citado blog Todoprosa, referência para este humilde Textos etc). Achei essa entrevista com Sérgio feita por Edney Silvestre na Globonews e a compartilho com meus probos leitores. Leiam o livro, vale a pena, pela mistura que faz de história, biografia e romance.

5.6.09

O Rio natural de Pierre Verger*

Como se estivesse posando para a foto, uma mulher negra, de seus trinta anos, altiva e simples, segura uma folha de espada-de-são-jorge em meio aos festejos de 23 de abril. Típica do estilo do fotógrafo francês Pierre Verger, a imagem ao lado é uma das 50 que compõem a exposição inaugurada nesta sexta-feira no Fashion Rio, formada apenas por imagens de passagens do fotógrafo pelo Rio em 1941, 1946 e ao longo da década de 50.

"O maior mérito do Verger era deixar o fotografado à vontade, como se não estivesse em frente a uma câmera", diz Alex Baradel, responsável pelo acervo fotográfico da Fundação Pierre Verger, em Salvador.

Outras imagens escolhidas para a exposição confirmam a opinião de Baradel, ao mostrarem de forma natural personagens típicos do Rio, como o homem travestido de mulher no carnaval. A explicação que melhor resume esse estilo do francês é de Jean-Lou Pivin, diretor da bienal francesa de fotos, a Photoquai. Segundo ele, Verger usava a fotografia como um meio para conhecer o outro, e não como um fim em si.

"Aqui na exposição, isso fica claro com as imagens feitas no carnaval, em que ele vem para uma festa grande, mas procura fotografar as pessoas e não a festa e seus adornos" explica Baradel.

Outras fotos que merecem ser vistas com atenção, segundo ele, é a de um bonde cheio de foliões a caminho do carnaval de rua e a do Cristo Redentor de costas, com a cabeça cortada. Todas as 50 imagens da mostra estão à venda, com preços que giram em torno de R$ 3 mil. O dinheiro arrecadado será revertido para a Fundação Pierre Verger, além de ser usado para pagar os custos de produção da exposição.



*Publicado originalmente em www.oglobo.com.br

3.6.09

A primeira princesa negra da Disney

Obama eleito, a Disney não poderia perder o gancho. Em dezembro, deve sair o filme A princesa e o sapo, com a primeira princesa negra. É isso aí. Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida e Ariel agora terão ao seu lado Tiana, princesa que beija um sapo para transformá-lo em príncipe mas acaba tornado-se ela mesma uma perereca. Espia aí o trailer:

Wally no cinema e na web

Já descobri como me redimir. Achei na internet sites que tiveram a brilhante sacada de escanear partes de "Onde está Wally?", a série de livros que convida o leitor a procurar o simpático personagem Wally em enormes e hiperdetalhados cenários.

A ideia de procurá-los surgiu quando li a notícia de que a história será adaptada para o cinema. Serviu para matar a minha saudade. Aproveite você também, clicando sobre as figuras abaixo e queimando a mufa para encontrá-lo. A tempo: obrigado a quem teve a trabalheira de escanear essas imagens.

2.6.09

Para se redimir, só com Dorrit

Depois desse infame título rimado, fiquei pensando que seria mais difícil conseguir o perdão pela ausência das últimas duas semanas. Daí cheguei à conclusão de que este blog há muito teria que se redimir com quem o visita e se frustra pela infelizmente inconstante atualização. Fazer o que se o excesso de informações dos dias atuais acaba nos sugando? Haja neurônios para consumi-las. Haja tempo para absorvê-las.

Quando vou escrever aqui no blog, procuro escolher assuntos que tenham passado despercebidos ou tenham tido pouco espaço no noticiário. Já quando dou minha opinião sobre filmes, livros ou seja lá o que for, tento apurar ao máximo o que penso para não tornar a leitura irrelevante para quem nela investe tempo.

Prometo tornar esse critério cada vez mais exigente, para que seus minutos investidos aqui valham a pena. Enquanto isso, que tal você dar um pulo no site da Revista Piauí e ler grande parte das matérias da edição de maio, já disponíveis em sua maioria?

O destaque absoluto é uma deliciosa reportagem de Dorrit Harazim que narra os primeiros dias como deputado de Elizeu Aguiar, do PTB do Piauí, empossado na Câmara no início do ano, para substituir úm deputado que já era suplente do que havia sido originalmente eleito. Muito interessantes os meandros de Brasília e as observações sutis que Dorrit faz.