Atenção: Esse post não é destinado a todos os leitores, mas somente aos que já assistiram ao filme Era uma vez…, do diretor Breno Silveira
Diretores que fazem grande sucesso em seu primeiro filme, caso de Breno Silveira com seu 2 filhos de Francisco (o filme levou 5,9 milhões de pessoas ao cinema, por isso considerado o maior sucesso de bilheteria do cinema nacional pós-retomada), costumam ser muito cobrados em sua segunda empreitada. Breno correspondeu e fez um filme tão bom – melhor, na opinião deste blog – que seu primeiro longa. Era uma vez… foi chamado de fábula romântica por alguns críticos, de ingênuo por outros. Todos estão certos, assim como aqueles que acusam o filme de ser um caldeirão de clichês. É mesmo: a evocação de Romeu e Julieta; o livro Cidade Partida, de Zuenir Ventura, síntese do problema que separa os dois protagonistas e que é lido pelos protagonistas, inclusive tendo trechos declamados; a personagem amiga da protagonista – Cacau (Luana Schneider) – fascinada pela marginália; o namorado de Nina (Vitória Frate), rico e esnobe.
Não faltam clichês, assim como não faltam, conforme disse o crítico Carlos Alberto Mattos, do Críticos.com.br, a aplicação de técnicas quase primárias no roteiro. Há também um ponto muito mal resolvido no roteiro, nas últimas cenas do filme, quando Dé e Nina saem do quiosque em que ele trabalha. Por que eles agem daquela forma? Provavelmente nem os roteiristas Patrícia Andrade e Domingos de Oliveira saberiam responder.
Elencados os pontos negativos, vamos ao que torna o filme tão bom. O roteiro possui sim primarismos, mas, dentro de sua proposta, de filme-comercial-com-algo-para-contar, cumpre muito bem seu objetivo de prender a atenção, entreter e ainda fazer uma crítica social. A mensagem ao final do filme, dada pelo depoimento verídico do ator Thiago Martins, oriundo do grupo Nós do Morro, e que vive o protagonista Dé, chega até a propor uma solução ao problema social apresentado.
A solução proposta é justamente o que tornou Breno um cineasta diferente, capaz de enriquecer ainda mais o atual painel de opções do cinema brasileiro: a sensibilidade. Como ele mesmo disse em entrevista a Marília Gabriela, ontem, no GNT, o diretor tem uma forma diferente de comunicação, muito sensível, sempre procurando emocionar por meio de histórias simples contadas com sinceridade.
Sobre as atuações, os protagonistas Thiago Martins e Vitória Frate fizeram o que deles se esperava e conseguiram dar química ao relacionamento, do início ao fim da história. O destaque absoluto foi Rocco Pitanga, que mostrou como está no sangue o talento da família Pitanga para o teatro. Ele conseguiu fazer a passagem de seu personagem com muito talento, indo da doçura à revolta, da revolta à violência e à traição.
Finados os aspectos cinematográficos, há que se falar sobre o lado social do filme. Quanta tristeza naquele final. Saí do filme menos triste do que fiquei nas horas seguintes. Aquele é o destino mais plausível para uma história de amor vivida por pessoas de lados opostos da cidade partida. Dois filhos do Rio sem chance de happy end. Aquela tragédia shakesperiana é, de certa forma, a mesma tragédia com que convivemos diariamente nos jornais. Mas não tem nada de teatro naquilo. É pura realidade, o que torna o filme ainda mais triste. Entre choros e soluços, há o consolo de que ainda existem pessoas e artistas com a sensibilidade de Breno Silveira, o que pode fazer toda a diferença paravirar o jogo.
2 comentários:
Interessante seu texto. Gostei e me ajudou a entender uma coisa em relação ao Breno Silveira: ele tem talento. Isso é inegável! Não conseguiu superar nem de longe seu primeiro filme e, provavelmente, não levará nem metade do público que a história de uma dupla sertaneja levou. E só levou pelo jeito escolhido pelo diretor para contar a história. Por isso méritos para ele.
Agora, superar o primeiro filme?? Como assim?? Ele realmente mostrou que sabe filmar, usa bem os recursos de câmera que tem e consegue criar um ambiente que marca a Cidade Partida que serve como pano de fundo para a história. Mas, vai escolher mal um roteiro assim lá no Rio de Janeiro... Putz... Caldeirão clichês?? É pouco! O filme é um vulcão inteiro de clichês. Para construir essa história foi preciso de um monte de situações forçadas, que poderiam até ser perdoadas, se o final do filme não fosse coroado com aquela seqüência louca e completamente inexplicável. No cinema onde eu estava depois da segunda morte, deu para ouvir um “Putz”... seguido de vários... “Ah, não”... e aí o filme acaba. Quer dizer, acaba não. Entra a história do Thiago Martins que não faz de forma alguma o filme ficar um pouquinho mais crível.
Se o Breno se mostrou mais uma vez um cineasta que entende o que fazer com uma câmera, colocou em dúvida sua capacidade de escolher roteiros. Será que ele deu sorte em “2 Filhos de Francisco”? “Era uma vez” não tem nada que surpreenda, no meio do filme você já sabe o final e sabe que vai sair do cinema triste. A partir dali, as cenas são apenas a confirmação da seqüência de clichês prevista.
Se posso fazer uma recomendação ela é: não vá ao cinema ver esse filme. Sei lá, veja “Ódique?” do Felipe Joffily que fala de juventude e é diferente ou veja “Abril Despedaçado”, “Bicho de Sete Cabeças” e “Central do Brasil” se quiser se deprimir, mas não Era uma vez!
Quanta amargura nessa coraçãozinho friburguense!
Postar um comentário