Hoje o Ministério de Lula não ficou apenas mais pobre. Ficou menos interessante. Depois da saída de Marina Silva em maio, dessa vez foi Gilberto Gil quem deixou o governo, por motives bem diferentes. Se a trajetória recente de Marina foi marcada por derrotas nas disputas internas, o mesmo não se pode dizer de Gil. Com exceção da batalha perdida na tentativa de criação da Ancinav, em 2004, pode-se dizer que ele sai do governo levando debaixo do braço a glória de ter vencido a guerra.
Além de mexer na forma ao dar mais visibilidade ao MinC, tornando-o uma das pastas mais discutidas e importantes, Gil também mexeu em seu conteúdo. Pela primeira vez, a Cultura passou a contemplar projetos da sociedade comum um todo e não somente de artistas isolados. O estouro do cinema pernambucano nos últimos cinco anos, com filmes como O céu de Suely, Cinema, Aspirinas e Urubus e Deserto Feliz se deve à empreitada de Gil. E abranger o país todo significa, por exemplo, valorizar traços regionais da cultura até então postos de lado, como a capoeira, levada para o Ano do Brasil na França no mesmo pé de importância da Bossa Nova.
Os pontos de cultura, espalhados por todo o país, totalizando mais de 650, também são outro aspecto forte no trabalho de democratização cultural. Eles são parcerias firmadas entre a sociedade civil e o MinC, que investe R$ 185 mil por cada ponto de cultura, valor dividido em cinco parcelas semestrais e que deve ser investido conforme os projetos são apresentados. Parte do incentivo recebido na primeira parcela, no valor mínimo de R$ 20 mil, é utilizado para aquisição de equipamento multimídia em software livre, composto por microcomputador, mini-estúdio para gravar CD, câmera digital, ilha de edição e o que for importante para aquele ponto. Aqui no Rio, há 61 pontos e os mais famosos talvez sejam o Nós do Morro e o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal.
De diferente, houve ainda um investimento inédito para a consolidação de uma economia da cultura no país, além do aperfeiçoamento da gestão cultural. O Prodec – Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura foi criado em 2006 e atua em quatro eixos: coleta e produção de informação, capacitação, promoção de negócios e formulação de produtos financeiros (suporte às instituições financeiras para formular produtos específicos aos segumentos da economia da cultura). Além disso, o orçamento do Ministério quintuplicou. Em 2002, girava em torno de R$ 200 milhões e este ano foi de R$ 1,1 bilhão.
Como se não bastasse tudo isso, até os mais ranzinzas têm que dar o braço a torcer de como era interesante ver Gil ministro. Quem não se lembra, nos primeiros meses de governo, quando ele se animava e dava canja naqueles eventos oficiais chatérrimos, como a vez em que fez Kofi Annan batucar? Lula está certo quando diz que o país não pode prescindir do Gil artista. Mesmo tendo sido um dos melhores ministro da Cultura brasileiro, figurando em importância ao lado de nomes como Gustavo Capanema, Gil ainda é um de nossos principais artistas. E nessa área, querendo ou não, ele é muito mais competente.
30.7.08
A Cultura ficou mais pobre
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