O letreiro que abre o filme Mataram a Irmã Dorothy, em cartaz nos cinemas nacionais desde a semana passada, já revela que o documentário a seguir é, na essência, um trabalho jornalístico. Com habilidade de repórter, o diretor Daniel Junge denuncia o absurdo da morte de Irmã Dorothy e mostra os bastidores das investigações e do julgamento do mandante e dos executores da missionária americana, que foi assassinada com seis tiros em fevereiro de 2005, em Anapu, no interior do Pará. Dá uma espiada no trailer.
Embora não haja imparcialidade na forma como Junge conta a história (o que, diga-se de passagem, não é um problema no cinema), é respeitado ali um princípio básico do jornalismo – a isenção. Os argumentos dos dois lados – dos advogados de defesa dos acusados e do promotor – são expostos tal qual foram apresentados. E eles falam por si: Dorothy Stang foi assassinada a mando de um fazendeiro local que seria preterido pela implantação do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, a principal bandeira da freira americana.
Como reportagem, a forma como o diretor organiza a informação se destaca, assim como a qualidade dos depoimentos que ele obteve de todas as partes envolvidas, incluindo os assassinos. Usando abundante material de arquivo de reportagens com Irmã Dorothy, Junge edita com sabedoria entrevistas e imagens feitas nos julgamentos dos acusados. Entre o documentário clássico – que desenvolve uma argumentação para comprovar uma tese – e o cinema de observação – que se propõe a mostrar, teoricamente sem interferências, uma situação - Mataram a Irmã Dorothy é, além de cinema, jornalismo de primeira.
22.4.09
Cinema e jornalismo de primeira
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