10.4.09

Punk tipo exportação

Não sei por que cargas d'água não lembrei de postar aqui no blog os comentários sobre o show do Simple Plan, a que assisti, a trabalho, na última semana de março. Sei que no jornalismo notícia velha é notícia morta, mas acho que essa ainda tem lá seu frescor. Espero que sim. Para quem conhece pouco ou nada sobre a banda, como eu antes de receber o convite para o show, preparei uma seleção de algumas músicas mais famosas. Está logo depois do texto.

Embora eu soubesse do relativo sucesso que eles fazem no Brasil, confesso que me surpreendi ao ver a banda canadense fazer borrar o rímel de quase todas as garotas e, vá lá, garotos que se acotovelaram no Citibank Hall para assistir à etapa carioca da atual turnê, que misturou músicas dos três álbuns do grupo. Abstraindo a compreensível euforia dos fãs, de visual mezzo emo, mezzo teen, o show foi um belo repeteco de repertório, brincadeiras, gestos e truques já feitos em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia e Recife. No dia seguinte, o grupo ainda se apresentaria em Belo Horizonte.

Pierre Bouvier (voz), Chuck Comeau (bateria e voz), David Desrosiers (baixo e voz), Sebastian Lefebvre (guitarra e voz) e Jeff Stinco (guitarra) podem se orgulhar de ter um público fiel no Rio de Janeiro. Mas nem tão amplo como das outras vezes que vieram à cidade. O Citibank Hall estava pela metade.

"O show ter sido marcado num dia de semana prejudicou muito, porque o público deles é principalmente adolescente. As pessoas têm aula amanhã", tentava justificar uma fã responsável pelo site do grupo no Brasil.

Mas os que lá estavam se esbaldaram com o pop punk (muito mais pop do que punk) do grupo, que completa dez anos em 2009. O hit Generation abriu o show e deu play nas lágrimas dos fãs. A cada música, era uma nova sessão de amigas se entreolhando e gritando "É aquela!". Algumas até, por que não?, se beijando. E foi nesse acorde que viram outras também famosas, como I’m just a kid, Addicted, I’d do nothing e Perfect, do álbum No pads, no helms... Just Balls (2002).

Do segundo disco, Still not getting any (2004), vieram os dois maiores sucessos no Brasil, Shut-up e Welcome to my life, além de Jump, Crazy, Me against the world e Untitled, que, para ser executada, requereu uma operação repetida em quase todos os shows do grupo mundo afora. As luzes se apagam, os fãs acham que é só um daqueles momentos em que devem gritar freneticamente por bis, e, tchan tchan tchan, o vocalista Pierre Bouvier aparece no fundo da casa de espetáculos e, uau, pega todos de surpresa. Ou melhor: não pega ninguém de surpresa, já que fã de verdade já estava cansado de ver o truque repetido em escala globa nos vídeos da banda no YouTube.

As músicas do terceiro e mais recente álbum, Simple Plan (2008), tiveram um significado importante para fãs mais antigos, pouco satisfeitos com as mudanças de rumo que o grupo têm dado na carreira. O último álbum é fruto da parceria com produtores de grandes artistas pop, como Nate "Danja" Hills, que trabalha com Nelly Furtado, Justin Tamberlake e Britney Spears. As críticas de que a banda pop punk estaria se tornando uma boy band como tantas outras vieram do lado da mídia especializada e de muitos fãs, decepcionados com o tom ainda mais meloso de muitas das canções do último álbum. Sabidamente mais famosos fora do que dentro do Canadá, os cinco tocaram Take my hand, The end, Your love is a lie, When I’m gone, Time to say goodbye, No love e Save you, composta por Bouvier para seu irmão que se recuperava de um câncer. Entre uma e outra love song, teve espaço para um medley que incluiu o hit lésbico I kissed a girl, de Katy Perry, e Summer love, de Justin Timberlake.

Elogios ao Rio de Janeiro, bebericadas de caipirinha ("uma das melhores coisas do Brasil"), e declarações de amor às brasileiras ("vocês são lindas") marcaram o batido repertório não musical do show. Depois de, ao longo da noite, agradecer 17 vezes com um "muito obrigado", em bom português, Bouvier ainda anunciou que camisas contendo cinco entradas para o backstage estariam à venda por R$ 50 do lado de fora. Uma baixinha de óculos, provavelmente lembrando dos shows de rock, tirou a blusa e mostrou um infantil top azul com coraçõezinhos vermelhos, no exato momento em que o vocalista apontava para a plateia e bradava o clichê "I love you". Mas era isso que todas (e todos) os fãs estavam esperando.

A nova-iorquina Robyn Smolenky, de 20 anos, veio com a namorada Emily Munzenberg, da mesma idade, para assistir ao show que já perdeu a conta de quantas vezes viu. Levando a tiracolo o ursinho feito a mão que daria ao baixista David Desrosiers, Robyn exibia com orgulho as bandeiras de arco-íris tatuadas e o visual dark contrastando com o longo cabelo loiro. Para lembrar a maior loucura que já fez pelo ídolo, a moça é rápida. Desenrola um cartaz até então guardado debaixo do braço e sorri. Nele, está escrita a frase que simboliza o tanto de sex appeal que há no sucesso dos bonitos, mas musicalmente inexpressivos garotos canadenses: "Please, turn me straight" (Por favor, me transforme em heterossexual).

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