No domingo passado, foi publicada pela Folha uma entrevista com o diretor de TV Roberto Talma (exclusiva para assinantes), que tem nas costas 40 anos de Globo, e que agora comanda o núcleo infantil da emissora. Talma, que lançou na segunda-feira a série Ger@al.com, disse não ver mais espaço para a fantasia na televisão, pois seria impossível concorrer com "emissoras de merda que só mostram desgraça". Leia um trecho de uma de suas respostas:
"O que acontece é o seguinte: que novela você tem que fazer para suplantar aquele menino que sequestra a namorada, a amiga da namorada, fica durante uma semana cercado de policiais com 500 mil pessoas, dão um microfone para esse analfabeto de merda e ele se torna ídolo? O que você tem que colocar para brigar contra isso? Com essa realidade dura, crua e nojenta que nós temos no Brasil? Quer dizer, no mundo inteiro é assim. Torna-se inviável!"
Deixa eu ver se entendi. Quer dizer que a realidade está vencendo a fantasia? Para captar a audiência das crianças seriam necessários desenhos com chacinas, sequestros e traficantes atirando?
Ok. Então Talma poderia responder por que a série de livros e filmes do Harry Potter fazem tanto sucesso com crianças. Ou dizer por que Ziraldo ainda é um dos principais sucessos das bienais de livros e Mauricio de Sousa é o ás dos quadrinhos infantis. Ou, para ficar no assunto TV, Talma poderia explicar por que, na programação do Cartoon Network, ainda fazem sucessos desenhos simples como Tom e Jerry, Scooby Doo e Bob Esponja.
Eu poderia ficar horas enumerando produtos culturais cheios de fantasia feitos para crianças e que dão muita audiência. Já a programação infantil da Globo, com seus terríveis Turma do Didi, TV Globinho e afins, poderia admitir que perdeu a mão.
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