Nada melhor para uma segunda-feira de ressaca pós-Flip do que as reminiscências desses últimos dias em Paraty. Primeiro, quero lembrar alguns pontos abordados por Chico Buarque e Milton Hatoum na mesa “Sequências brasileiras”, uma das melhores dos cinco dias do evento.
Chico acha que histórias e personagens literários podem ter uma força tamanha que os tornam capazes de se impregnar na vida pessoal do autor. Como exemplo, contou uma história vivida por Guimarães Rosa. Certo dia, andando na rua, veio à cabeça de Guimarães a ideia completa de um conto. Chegou em casa e viu que o conto certamente se tornaria um romance. Escreveu, escreveu, até que se viu a tal ponto absorto naquela história, cada vez mais intensa, que preferiu guardar na gaveta o que já havia escrito e deixar de lado o novo livro que começava. Semanas depois, foi acometido pela mesma doença que criara para o personagem de seu livro. Os mesmos sintomas, tudo igual. Depois de curado, passaram-se alguns meses e o romancista, passeando pelo interior de Minas Gerais, deu com um casarão idêntico ao que havia descrito no tal conto/romance.
Chico acha que sua perna quebrada no início do ano foi a herança que recebeu de Eulálio, personagem principal de Leite derramado que também quebra a perna.
Outro momento que vale lembrar foi quando Chico falou da influência de sua música em sua literatura. “Se a frase ou o parágrafo inteiro não estiver cantável, eu recuso”, disse. Depois, ainda sobre a relação entre música e literatura, e sobre o preconceito que as canções sofrem em relação a outros gêneros, Chico disse uma das frases com mais efeito da Flip: “Não sei se Guimarães Rosa teve mais importância do que João Gilberto”.
Também não sei, Chico.
6.7.09
Guimarães Rosa ou João Gilberto
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Flip 2009,
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