1.5.08

Balneário de uma Europa tropical

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As esquinas de Copacabana
O mirante azul começa a se transformar

Junto com o novo bairro, nascia uma nova cidade. Copacabana era o balneário dessa Europa dos trópicos que se pretendia criar no Rio de Janeiro. A cidade entrava em um processo de higienização, embelezamento e modernização a partir das reformas urbanas promovidas pelo prefeito Pereira Passos. Enquanto no Centro a tradição era apagada, em Copacabana a modernidade se desenhava. A infra-estrutura urbana chegava e os dois lados interessados no crescimento do bairro - empresários e proprietários de terra - continuavam forte divulgação em jornais e revistas da época, tentando atrair visitantes, moradores e comerciantes, agentes fundamentais na promoção da ocupação do bairro.

O Estado passava também a olhar com mais atenção para a região. A abertura do Túnel Novo, em 1905, ligando outro ponto de Botafogo ao bairro, mostrou isso. Não por acaso, o governo tinha planos parecidos com os dos proprietários e dos empresários para o bairro, como ficou claro quando o prefeito Pereira Passos revogou o decreto que permitia a "liberdade de construção" no bairro, com o intuito de evitar a construção de moradias precárias e cortiços, moradias das classes pobres. O balneário, assim como outros espaços da cidade, não seria para todos.

Até os anos 1920, foram realizadas obras regularizando o sistema viário, ampliando e interligando ruas que cortavam longitudinalmente parte do bairro – as ruas Barata Ribeiro e Nossa Senhora de Copacabana. Já a avenida Atlântica, seguidas vezes destruída por ressacas, foi reconstruída em 1919 pela Prefeitura e recebeu sistema de iluminação que embelezava a praia. Poucos anos depois, chegaria a essa nova avenida Atlântica o até hoje mais famoso personagem do bairro, o Copacabana Palace Hotel. O requinte de sua decoração e a pompa das festas de inauguração correspondia aos anseios da alta sociedade e do turismo cariocas. O bairro se valorizava. Comércio e serviços ficavam no entorno da atual praça Serzedelo Corrêa e a avenida Atlântica se consolidava como o coração do bairro, com seus primeiros edifícios de apartamentos, símbolos de um bairro novo, moderno e elegante, a ponto de, no início dos anos 1930, Copacabana ser chamada de "Babilônia de Arranha-Céus". Uma das últimas áreas verdes ainda não ocupadas, o morro do Inhangá recebeu sucessivos loteamentos, apesar das recomendações contrárias de um dos primeiros planos urbanísticos da cidade, o Plano Agache, de 1926.

História interessante tem o Bairro Peixoto, um bairro dentro de outro bairro. Toda a área pertencia ao comendador Peixoto, que abriu ruas para melhorar o acesso a suas terras e desde 1905 já vendia parte delas. Com sua morte, o restante das terras foi dividido entre cinco instituições beneficentes e a Prefeitura fez uma área de recreação, além de modificar todo o traçado da área.

À medida que abriam ruas, que desapareciam os espaços livres, ficava evidente a falta de praças públicas. Apesar da reivindicação da população, a Prefeitura não atendeu ao pedido, permitindo até a construção de prédios numa das poucas existentes, a Barão de Santa Leocádia. A área verde diminuía cada vez mais. A especulação crescia. Mas isso era apenas o prenúncio do que aconteceria nas décadas subseqüentes.

As dificuldades no trânsito começavam a aparecer. Bondes, ônibus e automóveis disputavam o espaço nos túneis que ligavam o bairro ao resto da cidade, provocando o alargamento de algumas avenidas. Mas isso não seria suficiente. A expansão da indústria automobilística no país se faria sentir de todas as formas. Junto com a modernidade que o totem do capitalismo trazia, vinham os congestionamentos, a poluição sonora e a do ar. Diminuía o espaço para pedestres, o bonde era aposentado, estacionamentos e garagens construídos, túneis abertos, a avenida Atlântica alargada, tudo para ele avançar. E junto com o automóvel, outras mudanças se processavam, no bairro, na cidade, no país. Esse momento, que podemos situar entre as décadas 1900 e 1920, marca a introdução de novos padrões de consumo, atiçados por uma nascente e forte influência publicitária, sem contar, as revistas ilustradas, a criação do mercado fonográfico e a popularização do cinema.

Na próxima reportagem: A cidade dentro da cidade

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