9.8.09

Por dentro da democracia nas favelas

Ao longo de julho e dos primeiros dias de agosto, acompanhei lá no Globo a produção de uma série de reportagens, chamada "Democracia nas favelas", que vinha sendo preparada há quatro meses e começou a ser publicada a partir de hoje. Mais recente de uma trilogia que começou em 2007 (com "A ditadura nas favelas" e, em 2008, com "Favela S/A"), a série compara o momento que cinco favelas cariocas vivem - a retomada de alguns direitos, devido à ocupação dos morros por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) - com a redemocratização brasileira nos anos 1980.

Fiquei impressionado como os repórteres Carla Rocha, Fábio Vasconcellos, Selma Schmidt e Vera Araújo se entregaram à missão de acompanhar suas favelas (Cidade de Deus, Chapéu Mangueira, Santa Marta, Jardim Batam e Tavares Bastos), entrando nelas em dois momentos distintos. No início, foram às comunidades com o simples objetivo de observar. Olharam, conversaram com moradores, sentiram, para usar uma expressão da repórter Eliane Brum, da revista Época, o "cheiro" do lugar. Nessa primeira etapa, levaram suas próprias câmeras e fizeram fotos sobre o que viam. Depois, já com gravador, blocos e às vezes acompanhados dos fotógrafos, os quatro foram a campo descobrir histórias e realidades que dessem um retrato sobre o momento que vivem essas favelas.

Descobriram muita história boa. Tiveram, então, que enfrentar uma segunda etapa do trabalho, que foi juntar aquele monte de material e ver o que havia em comum entre as realidades vividas pelas cinco favelas. Os recortes foram definindo como seria cada dia da série, que se estende até o próximo sábado. Sugiro que todos se debrucem sobre as três páginas publicadas hoje na editoria Rio e vejam também o bonito ambiente online criado especialmente para a série. Para ficar com o gostinho, espie aí embaixo o lide da reportagem que abre o especial.

"O dia era 5 de outubro de 1988. Embalada por discursos emocionados - Ulysses Guimarães foi 54 vezes interrompido por aplausos -, nascia a nova Constituição brasileira. Mais um importante passo para a redemocratização, que começara a engatinhar três anos antes, com a saída do último general do poder. O país fez festa. Mas nem todos foram convidados. Somente no Rio, 1,5 milhão de habitantes de áreas dominadas pelo tráfico ou por milícias permaneceram excluídos dos seus direitos fundamentais. Agora, com 24 anos de atraso, moradores de cinco favelas vivem uma experiência histórica, que pode mudar o Rio. São as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que prometem expulsar o tráfico, resgatar o papel do Estado e garantir segurança 24h. O desafio é tão grande quanto foi o dos anos que se seguiram ao fim da ditadura militar instituída em 64."

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