3.11.06

Pitaco nº 2 - uns ganham, outros perdem. A vida é assim.

(continuação do Pitaco nº 1)

Outro que teve que calar a boca com os quase 60 milhões de votos do presidente foi Arnaldo Jabor. Gosto muito dele, acho extremamente inteligente, mas não consigo mais ler o que escreve sem cair na risada. A crônica dessa semana é de uma imaginação fertilíssima, mas extremamente mentirosa. Segunda-feira, ele deu uma palestra lá na PUC em que falou bem do Fernando Henrique durante horas. Vocês se lembram das famosas entradas dele no Jornal Nacional para esbravejar contra o apagão e todas as outras pragas do governo FHC? É de uma incoerência absurda.

Fernando Henrique, aliás, também saiu perdendo. O PSDB deixou claro que têm vergonha dos seus oito anos de governo. Eles têm tanta vergonha das privatizações que o ex-presidente fez que o Nhô Alquimi chegou a colocar um boné da Petrobrás para tentar convencer as pessoas de que não a privatizaria. Claro que iria tentar. Pelo menos, venderia ações. O esforço d’O Globo para defender as privatizações foi em vão. Artigos e mais artigos publicados, matérias mais matérias, tudo isso serviu para nada. O Brasil, pela segunda vez, disse que desaprova FHC e as privatizações de suas principais empresas. As frases de efeito do desintelectual como “a ética do PT é roubar” entraram por um ouvido e saíram pelo mesmo, sem ecoar na cabeça de ninguém. O PT elegeu uma das maiores bancadas, aumentou o número de governos estaduais, com estados importantes como Bahia e Pará e conseguiu aumentar a votação que teve em 2002.

Outro ex-presidente que saiu perdendo foi Itamar Franco, que não se elegeu para nenhum cargo e tampouco contribuiu para aumentar a votação de Nhô Alquimim em Minas. Sarney também ficou enfraquecido, mas por outros motivos: a derrota da filha e a dificuldade em se eleger senador. Collor se deu bem voltando ao Senado. Os ex-presidenciáveis se deram mal quase todos, com exceção de Serra e Aécio. Germano Rigotto sequer foi pro segundo turno e ainda almejava à presidência. Essa gente delira, né não? Garotinho, coitado, fez o sucessor sem subir nenhuma vez em seu palanque e também era motivo de vergonha para sua candidatura e para a de Nhô Alquimim, no segundo turno. Provavelmente, vai transferir para Sérgio Cabral sua influência no Rio de Janeiro. Heloísa Helena e o natimorto PSOL perderam a vaga que tinham no senado, não ultrapassaram a cláusula de barreira e não empolgaram a população como uma alternativa à dobradinha PT-PSDB. Depois, com a eleição da petista Ana Júlia, reconsquistaram a vaga - o suplente da senadora é do PSOL. Cristovam Buarque saiu ganhando. Ganhou visibilidade como o defensor da bandeira da educação e fez uma campanha digna e entusiasmada. Sai ganhando se voltar a apoiar o governo, na minha opinião. César Maia também perdeu, pois não elegeu Denise Frossard e, certamente, foi um dos empecílios para o crescimento da deputada.

A esquerda como um todo saiu ganhando, depois do enfraquecimento que teve em 2005 no auge dos escândalos. A democracia, idem, caso sejam punidos os acusados pelos casos do mensalão e dos sanguessugas. O grande vencedor dessas eleições foi, sem dúvida, o povo. Os milhões e milhões de eleitores que, pela primeira vez - em 2002, isso não aconteceu -, conseguiram eleger um presidente com opinião própria, contrariando a imprensa, a Igreja, as elites políticas, o empresariado e a classe média. Li semana retrasada uma entrevista com um historiador brasileiro radicado em Paris em que ele dizia qu o maior mérito do governo foi ter transformado a maioria econômica em maioria política. Viva!

(continua)

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