30.10.06

Pitaco nº 1: acordei de alma lavada

Segundo turno finado, um novo Brasil emerge das urnas? Ou o bom e velho país do futuro longínquo e inalcançável continua o mesmo? Quem ganhou e quem perdeu com a reeleição de Lula? Quais são as perspectivas para os próximos quatro anos? Como sempre, aí vão meus pitacos. Como são muitos e o tempo é pouco, vou falando ao longo da semana.

O país saiu melhor. Democracia fortalecida, oito anos para um partido e oito anos para o outro. Pronto. Estamos quites. Se Lula perdesse, o PT desmoronaria. O partido criado há 26 anos do diálogo com os movimentos sociais e organizado entorno de um projeto de justiça social naufragaria. Antes, achei ruim o resultado do primeiro turno, por ainda acreditar no PT e por várias razões explicadas em posts anteriores. Agora, porém, gostei da ida para o segundo turno. Primeiro, porque o PT levou o puxão de orelhas que merecia. Segundo, porque, como disse ontem o Marco Aurélio Primo do Collor de Mello, a expressiva votação de Lula legitima seu segundo mandato. Quase 60 milhões de votos. Um cala boca em muita gente. Muita gente, quem?

Um cala boca na Veja. Não consegui contar quantas capas da revista foram negativas ao governo Lula, porque o site só dá acesso às capas para quem é assinante. Arrisco dizer, no entanto, que 90% das capas sobre o governo foram contra o presidente ou o PT. Motivos, sem dúvida, não faltaram. Corrupção, aparelhamento do Estado, incompetência na articulação política etc. etc. etc. Mas, ainda assim, é possível uma cobertura mais isenta. Ou melhor, uma cobertura mais responsável, mais madura e, acima de tudo, mais honesta. Jogar limpo são as palavras de ordem. Dizer abertamente que é uma revista que apóia o PSDB, que acredita no projeto político dos tucanos, que não acredita em Lula e ponto. Não fazer o que eles fazem, dizer que são imparciais. Ora, todos sabemos que impacialidade não existe. Mas que tentem pelo menos alcançar um mínimo de responsabilidade. Irresponsabilidade, pra mim, é o que a revista fez em julho de 2005, quando o recém estourado escândalo do mensalão assombrava o país. Não havia nenhum indício de que Lula estivesse envolvido com o esquema e Veja já escrevia Lulla, com a mesma grafia de Collor. Primeiro, não podemos esquecer das capas históricas em que a publicação ajudou a criar o presidente-super-homem que Collor personificava. Depois, aquela capa era um desrespeito com a biografia de Lula. Da mesma forma, foi desrespeitosa a capa com um rato vestindo paletó e gravata, com apenas quatro dedos, na mesma mão deficiente do presidente. Também foi desrespeitosa a capa com um pé na bunda do presidente, quando a Bolívia estatizou as plataformas da Petrobras. Sessenta por cento dos votos é suficiente para calar a boca da Veja. Para calar a boca de seus editores fascistas e golpistas, para calar a boca do Diogo Mainardi. O site da publicação já fala das dificuldades que Lula terá para governar devido às pendências jurídicas. Ora, cala a boca, Veja.

(continua)

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