Ricardinho, o aprendiz no trato com as mulheres, apresenta;
Ricardinho e as algemas do prazer
Ricardinho, sempre tão esperto, só percebeu que tinha acordado quando abriu os olhos. Fechou rapidamente, porque não tinha certeza do que estava vendo. Na dúvida, melhor mantê-los fechados. Quando ela falou, Ricardinho viu que era verdade.
- Acorda, docinho, acorda!
- Que houve, amor? Que isso na sua mão?
- Vem, docinho, vem... Veste essa roupa sadomasô. Vem...
- Ir aonde, Mariana? Que horas são?
Ele pega o despertador na cabeceira.
- Mari, são quatro e meia da manhã. Hoje é domingo...
- Eu senti vontade, docinho. Vem, vem. Vem bater com esse chicote em mim, vem.
- Que chicote, amor? Você tomou ácido? Me deixa dormir.
Ela pega um chicote e bate com força nele.
- Aíiii!
- Safado! É assim que eu quero que você faça, safado.
- Tá louca, Mariana?
- Me bate, eu quero. Vem, me joga na parede, vem.
- Mari, pára com isso. Eu tô preocupado. Você me acorda no meio da madrugada para eu bater em você. Que tá acontecendo?
- Ai, Ricardinho, você não pode nem realizar a minha fantasia. Que saco!
- Vamos conversar, Mari.
- Conversar? Você quer discutir relação na hora que eu tô subindo pelas paredes? Eu quero outra coisa. Mas isso tô vendo que você não dá conta...
Ricardinho olhou por alguns segundos para o chão do quarto, numa mistura de ego atingido e reflexão. Tinha que fazer alguma coisa. Nenhuma mulher não podia pensar isso dele.
- E aí, Ricardinho? Aproveita, amor, vem, me bate!
- Então, se prepara, cachorra!
Fez uma cara de instinto selvagem, ficou em pé na cama, pegou o chicote e segurou com força os cabelos da namorada.
- Isso, vem, vem!
Ricardinho deu de leve com o chicote na perna da pobre moça, que fez cara de excitação. A verdade é que, dentro de Ricadinho, aquilo doía muito mais. Mas também despertava uma sensação estranha.
- Gostou?
- Docinho, de leve assim não tem graça. Tem que ser com força, que nem homem.
- Que nem homem? - Ricardinho se irritou. Ninguém podia duvidar disso.
Levantou com força o chicote no ar, como se afiasse uma faca, e bateu. Bateu, bateu, bateu. Não precisava mais fingir a cara de instinto selvagem.
- Aiiiii! Você ficou maluco? Seu louco!
- Mas foi você que pediu, Mari.
- Pedi, mas não era pra ser assim, com tanta força. Tá achando que eu sou o quê? Bruto! Covarde!
- Mari, eu nã...
- Você não é o caramba. Olha aqui... Vai ficar roxo! Eu vou ficar com a perna toda marcada, Ricardo. Minha perna vai ficar cheia de hematoma. Pra sempre E por culpa sua! Seu covarde!
- Mas Mari, era você que queria, lembra?
- Eu te provoquei, mas achei que você ia ter bom senso. Você se aproveitou da circunstância. Você me deixou marcada pelo resto da vida.
Agora, a pobre moça já chorava. Ele tentou enxugar o rosto da namorada, mas ela empurrou sua mão e saiu correndo, como uma presa acuada, e discou para a polícia.
- Não toca em mim! Nunca mais! Seu monstro! Desgraçado!
***
Final da tarde, carceragem da 14ª DP.
- Ricardo Almeida Júnior, visita!
- Que que o mané fez, Silva?
- Espancou a mulé. A coitada ligou pra cá chorando que nem criança.
- Como é que é? Tu bateu em mulé, rapá?
Os outros 89 presos já faziam um círculo em volta de Ricardinho, quando o carcereiro entrou e evitou a tragédia.
- A mulé tá aí fora. Quer te vê.
Ricardinho estava desolado. Sempre tão carinhoso com as mulheres, o rapaz sabia que tinha passado dos limites. Devia ser mesmo um crápula. Não sabia satisfazer a mulher da sua vida e, quando tentou, foi bruto, agressivo, violento, covarde, desumano. Ele era mesmo um homem sem caráter. Aliás, nem homem devia ser.
Ricardinho não conseguiu encarar a namorada. Só olhava pro chão, com a algema apertando os pulsos que quase sangravam.
- Você tem alguma coisa pra me dizer, Ricardo?
Num lance de desespero, Ricardinho se jogou aos pés de sua amada e pediu perdão, soluçando. Mari não resistiu à tamanha prova de amor.
- Você errou muito, Ricardinho. Mas meu coração mole não me deixa...
Levantando, Ricardinho calou sua amada com um beijo. Um beijo seco, cheio de culpa e arrependimento. Outra lágrima escorreu por seu rosto e salgou aquele pequeno beijo que selava o amor do casal. E com o fim de mais este triste capítulo da deprimente vida amorosa de nosso herói, também termina este meloso parágrafo, que, de tão meloso, quase estraga o teclado.
10.4.07
Ricardinho e as algemas do prazer
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2 comentários:
Gostei do conto, não sei se é ficção ou realidade.
Por isso, nunca atendo os pedidos das mulheres que me pedem isto.
Tinha uma mulher, que queria que eu a enchesse de porrada, depois quem dança sou eu.
A mulher é um bicho doido, pede para apanhar, e depois se arrepende e fala que fomos grosseiros.
Prefiro ficar na minha, e às vezes elas no taxam até de bicha, por não atender os desejos dela.
Melhor aguentar os xingamentos do que ficar na tranca.
Enfim, este conto serve como um alerta.
É ficção, meu caro, é ficção.
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