5.10.08

Seria mais engraçado se não fosse triste

Em dia de eleição, o único talvez em que o Rio vislumbre alguma possibilidade de mudança, nada melhor que o humor legitimamente carioca para lidar com a falta de esperança nos candidatos que ora se apresentam. Por isso, recomendo a todos, inclusive aos candidatos, se acesso a eles tivesse, o livro Guia Antiturístico do Rio de Janeiro (R$ 29,90), uma homenagem satírica feita à cidade no início dos anos 60, pelo escritor Marques Rebelo, em uma série de 14 colunas no jornal Última Hora.

Às vésperas da comemoração do quarto centenário do Rio, Marques Rebelo, um autor eminentemente carioca desconhecido das novas gerações, apesar de seu texto carregado de humor e ironia de qualidade, uniu-se ao cartunista Antônio Nássara e rabiscou o projeto de um livro que combinaria os textos de um e charges do outro. Só este ano o livro foi concretizado, numa parceria das editoras Batel e Desiderata, que convidaram o cartunista Jaguar, outro que leva a cidade no sangue, para ilustrar com charges suas o texto ácido do autor.

No prefácio, Millôr Fernandes define bem o livro, uma grande brincadeira organizada em capítulos curtíssimos, às vezes restritos a uma palavra, que simulam um guia turístico clássico e apresentam o Rio sempre com olhar de deboche ao epíteto de cidade maravilhosa. Transportes, educação, divisão administrativa, população, tudo é matéria-prima para a ironia e a crítica extremamente atuais, apesar de escritas há quase 50 anos. E é aí que dói um pouco ler o livro nesse domingo de chuva, tristeza e eleição, não necessariamente nessa mesma ordem.

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