9.10.08

Sinhá Iracema

Um lado pouco conhecido do autor de grandes livros do romantismo brasileiro, José de Alencar, ganha projeção com a publicação de uma série de cartas em que o criador de Iracema defende abertamente a manutenção da escravisão no país. Apesar de já conhecidas dos pesquisadores, as cartas só agora chegam ao público, no livro Cartas a Favor da Escravidão, organizado pelo historiador Tâmis Parron.

São sete escritos públicos endereçados por Alencar ao imperador d. Pedro II em 1867, em que o escritor critica a decisão do soberano de encaminhar ao Legislativo uma proposta de discutir o fim da escravidão. "A escravidão caduca, mas ainda não morreu; ainda se prendem a ela graves interesses de um povo. É quanto basta para merecer o respeito", disse numa delas.

Autor romântico por excelência, José de Alencar escreveu romances regionalistas (Tronco de Ipê), indianistas (O Guarani, Iracema) e urbanos (Senhora, Lucíola), estes últimos considerados duas das mais importantes obras do romance romântico urbano brasileiro. De fato, em nenhum deles faz menções explicitamente negativas à escravidão ou sequer sugere que suas práticas devessem ser condenadas.

Na introdução do livro, Tâmis Parron afirma que o fato das cartas não terem sido publicadas durante todo o século XX se trata de uma "provável tentativa de expurgar sua memória artística de uma posição moralmente insustentável para os padrões culturais hegemônicos desde o final do século 19".

5 comentários:

Unknown disse...

O Alencar é o maior escritor brasileiro de todos os tempos. É uma tremenda injustiça que estão fazendo com ele. Quem é esse tal historiador aí, oportunista, que publicou as cartas?

Anônimo disse...

Por que oportunista?? O Alencar tinha posições reprovaveis para nosso tempo, mas isso não tira dele o mérito de haver escrito algum dos maiores romances em língua portuguesa.

Acho que as cartas podem ser publicadas até por mostrar que até intelctuais podem hoje ter posições que daqui a alguns anos serão reprovaveis para o censo comum.

Todos erram...

Guilherme Amado disse...

Por incrível que pareça, tendo a concordar com o Lucas. Mas, Maíra, concordo com você sobre o Alencar. Gosto muito dele, principalmente de Senhora e Lucíola.

E o historiador não é oportunistas, porque, afinal, as cartas foram escritas pelo próprio Alencar.

Abraços e obrigado pela participação.

Anônimo disse...

Gente, não entendo esta mania que nós temos de "divinizar" os mortais - no caso do Alencar, um "imortal" da Literatura (e não há relação com a ABL!)
Os nossos escritores (e tenho muito orgulho deles) devem ser valorizados pela sua rica contribuição com a cultura nacional, porém não devemos esquecer que cada um faz parte, respectivamente, de uma época muito específica. O que vivemos hoje são resquícios disso tudo.
É estranho pensar que o Alencar é a favor da escravidão, mas lembrem-se que ele viveu no século XIX! E o que dizer de Monteiro Lobato!!!! Há um fragmento no livro do Sítio do Picapau Amarelo que assusta. Narizinho está brincando com Anastácia quando a Tia Benta diz: "Pára, Narizinho. A Anastácia é preta, mas todos nós sabemos que ela tem alma branca." (sic).
O que pensar desta parte no texto... Aponta o pensamento de Lobato em uma época em que a escravidão, mesmo tendo a liberdade legitimada, ainda era latente na sociedade. Muito pior hoje, que ainda temos este preconceito, de uma maneira, ao mesmo tempo "vigente" e "camuflada"...

Anônimo disse...

Gente, não entendo esta mania que nós temos de "divinizar" os mortais - no caso do Alencar, um "imortal" da Literatura (e não há relação com a ABL!)
Os nossos escritores (e tenho muito orgulho deles) devem ser valorizados pela sua rica contribuição com a cultura nacional, porém não devemos esquecer que cada um faz parte, respectivamente, de uma época muito específica. O que vivemos hoje são resquícios disso tudo.
É estranho pensar que o Alencar é a favor da escravidão, mas lembrem-se que ele viveu no século XIX! E o que dizer de Monteiro Lobato!!!! Há um fragmento no livro do Sítio do Picapau Amarelo que assusta. Narizinho está brincando com Anastácia quando a Tia Benta diz: "Pára, Narizinho. A Anastácia é preta, mas todos nós sabemos que ela tem alma branca." (sic).
O que pensar desta parte no texto... Aponta o pensamento de Lobato em uma época em que a escravidão, mesmo tendo a liberdade legitimada, ainda era latente na sociedade. Muito pior hoje, que ainda temos este preconceito, de uma maneira, ao mesmo tempo "vigente" e "camuflada"...