18.12.08

Pontos, vírgulas e outros sinais brasileiros

Preparem as armas, homens de fé! Faltam armamentos pesados? Peguem as pedras portuguesas de nossas calçadas e ao ataque! Temos um novo inimigo e ele se chama Rogério Longen, o catarinense ladrão de doações! Não sabem quem é? Ora, até o William e a Fátima já falaram dele. Os jornais hoje estampam seu rosto e os de seus familiares, que concordam com a necessidade de se expulsar um verme como esse da pátria, da polis, do planeta! E dá-lhe pontos de exclamação. Daqui a pouco, o Lula vai pedir a expulsão dele, como fez com Larry Rohter quando foi chamado de bêbado. Tá certo. No Brasil do pré-sal, ame-ou ou deixe-o voltou a reinar. Rogério Longen não ama! Ele roubou dos flagelados!

O quê? Mensalão? Privataria? Esquema PC? Nossa, quanta interrogação! Ora bolas, tudo isso é besteira perto do que fez esse crápula. Até porque, como todos sabem, nada foi provado contra os acusados. Ninguém sabia de nada. Eram elucubrações infudadas vindas de uma oposição sem espírito republicano. Uns vêm dizer que isso é coisa do Brasil, culpa da suposta corrupção feita por políticos, coisa e tal, tal e coisa. Mentira. O safado é ele. Pilantra, coisa-ruim, malandro. Ponto final.

Que morra para não termos de dividir a mesma calçada! Imagina!? Um brasileiro que rouba dos pobres é capaz de tudo. Como nós, cidadãos honestos, incapazes de furar uma mísera fila, vamos conviver com alguém que teve a coragem de dizer que roubou as fraldas geriátricas para dar à mãe. Como se degenerados desse tipo tivessem uma. Tem nada. E não tem disse-me-disse. Roubou porque é mau. O brasileiro, sim, é bom, trabalhador e ordeiro. O brasileiro nunca confunde o que é dele com o que é do outro. No país do Bolsa Família, coletividade é a palavra de ordem. Afinal, o PAC tem pai, mãe e até um tio paulista, lá do Palácio dos Bandeirantes, que a qualquer momento pode chegar. Somos uma família perfeita, que às vezes briga entre si, mas jamais desrespeita o que é do próximo. Está na Bíblia e a seguimos sem restrições. Aqui, a tolerância é zero - a não ser com nossos pequenos pecados. Quanto a esses, o Compatriota lá de cima dá uma aliviada.

Carro na garagem do vizinho? Tiro quando precisar. Chiclete jogado no chão? Gruda e vira asfalto. Dirigir pelo acostamento? É rapidinho. E a notinha de cinqüenta pro guarda? Bom, aí, você sabe, é aquela coisa, né, cheia de vírgulas, meio assustada, hesitante, mas necessária. Não atrapalha ninguém, é até uma ajudinha pro policial que recebe tão pouco... É isso, né... Desde Pedro Álvares Cabral, os brasileiros se ajudam... Do Zé da Esquina ao Português da Padaria... do Banqueiro ao Camelô... A boa é uma mão lavar a outra... E as duas, já diria o presidente Luiz Inácio Sifu Lula da Silva, se juntam, uma espalmada e a outra fechada, para executar aquele movimento tão pouco fino, mas muito adequado para definir o que temos de fazer com Rogério Longen, o ladrão de doações... É... Corrupto... Que nem o guarda da propina... E como quem paga a propina...

Talvez seja mais prudente ficar nas reticências... Só elas são capazes de acalmar esse Brasil que reage ensandecido ao constatar como somos todos parecidos com Rogério Longen...

3 comentários:

Anônimo disse...

Uma crítica: notei que em nenhum de seus posts você incluiu comentário algum sobre economia. Como pode um jornalista com tanto talento para criticar arte, cultura, etc...não se posicionar sobre assuntos econômicos quaisquer.

Abraços...

Guilherme Amado disse...

É porque o blog é sobre cultura, meu caro rapaz! Eu já abri espaço para política e olhe lá. Mas sugestões sempre são aceitas!

Abs

Anônimo disse...

ok, meu caro. Tenha um feliz natal e um saudável e próspero ano novo! abrçs!