Nesta semana do ano, todas as coisas e cochichos giram entorno do tão esperado dia 31. Só se fala nisso. Todos planejam a roupa que vestirão, mulheres correm para os cabeleireiros, uns fazem resoluções para o ano que chega, outros dão nota para o que vai. É um corre-corre para cumprir prazos, ir a festas de fim de ano, participar de amigos-ocultos, dar beijo de ano-novo em fulano, abraço em cicrano, trocar os presentes e por aí vai.
É cansativo, muito mais cansativo do que o Natal, porque gera mais expectativa e mais tensão. Enquanto o Natal é uma festa associada à família, à união, à celebração - tão pouco feita - dos valores pregados por Cristo, o Réveillon é invariavelmente associado à farra, à festa, a aproveitar ao máximo os primeiros momentos do ano, como se não tivéssemos um ano inteiro para viver. A programação intensa que o Rio sempre promove mostra isso. Shows e mais shows, rios de dinheiro gastos para entreter a todos e saudar o novo ano com uma festa inesquecível. Ora, com o dinheiro gasto para trazer Black Eyed Peas e Infected Mushroom para Ipanema na hora da virada, poderíamos fazer mil shows ao longo do ano, para um público muito maior do que o que será beneficiado. Eu sei, eu sei, há o turismo envolvido, a importância de renovar a esperança de todos, e tudo mais. Mas, acredite, há também esse lado da necessidade de fazer todos aproveitarem ao máximo os primeiros instantes do ano. Isso acontece no mundo inteiro, não é mais uma exclusividade carioca, como o Cristo ou o Bondinho. É fruto da cultura imediatista em que vivemos. Por causa dela, a forma como passamos a meia-noite determina o desenrolar dos outros 365 dias do ano, ou seja, devemos fazer aquele primeiro momento ser magnífico para que o resto do ano também seja. Com todo esse peso que colocamos sobre o pobre dia 31, não é à toa que o fim de ano é tão cansativo, tão estafante.
No entanto, e agora essas linhas ganham sentido, acredito que este ano devemos mais do que nunca aproveitar com a maior intensidade possível esses primeiros segundos de 2007. É importante mostrarmos a este estado de coisas que estamos vivendo nos últimos dias aqui no Rio, a essa violência absurda, que estamos vivos. Mostrar que somos nós mesmos que mandamos nas nossas felicidades. Dizer que não vamos deixar que tiros e ações terroristas tirem o nosso direito de sermos felizes. O nosso direito de ir e vir, de sair e voltar. O direito negado hoje ao policial morto que comemoraria mais tarde o aniversário de sete anos da filha. Não vamos deixar que boatos e traficantes consigam tirar o nosso sono, nem estragar a maior festa da nossa cidade. Vida normal, gente, ou melhor, vida mais feliz. Vamos cantar, gritar, pular, dançar, amar, beijar, transar, chorar de felicidade, quebrar a cara se preciso for. Vamos fazer tudo para mostrar que não existe nada mais subversivo a esse estado de coisas do que a felicidade. A boa e velha felicidade.
29.12.06
A boa e velha felicidade
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Contos e crônicas
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