28.7.07

Magic is Might

Dia 11 de julho, uma quarta-feira, os cinemas de todo o mundo foram invadidos por crianças, adolescentes e adultos vestindo longas capas verdes, óculos de aro remendados e uma leve cicatriz maquiada na testa. Outros, menos ousados, se limitaram a colocar um “discreto” chapéu em forma de cone, como os magos usam. Uma semana depois, dia 21, foi a vez das livrarias. Como é comum em estréias de seqüências de grandes sucessos do cinema cujos personagens têm nas roupas uma característica à parte, a estréia do quinto filme e do último livro de Harry Potter não foram diferentes. Essa mania, começada talvez pelos fãs da série Star Wars, que impunham longas roupas pretas de Darth Vader para ir às sessões dos filmes, foi repetida em vários outros filmes, principalmente naqueles voltados para o público infanto-juvenil.

A diferença dos pottermaníacos em relação aos fãs das outras séries de filmes de sucesso, a não ser talvez pelos fãs de Star Wars, é que esses homens e mulheres de diferentes idades e profissões não deixam a mania por Harry Potter de lado quando saem das salas de cinema ou quando terminam o livro. As dezenas de comunidades do Orkut dedicadas a Harry Potter, a seus personagens, à escritora JK Rowling e a temas conexos são um dado de que a febre por Harry Potter ultrapassa as páginas dos seis livros e quatro filmes já lançados. Nessas comunidades, existem tópicos em que os membros contam como foi dolorosa a leitura do sexto livro, em que um dos principais personagens da saga morre. Em todo o mundo, leitores anônimos e famosos, como o escritor Stephen King, vinham implorado para que Rowling não matasse Harry Potter no último livro, Harry Potter and the Deathly Hallows (provavelmente Harry Potter e as Relíquias da Morte, segundo a Rocco). Esta hipótese, para um pottermaníaco, seria drástica. Significaria que o personagem pelo qual ele dedicou possivelmente os últimos dez anos de seus momentos de lazer (para não dizer de vários momentos de sua vida) acabou, morreu.

Lançado em 1997, Harry Potter é, inegavelmente, um fenômeno literário mundial que não se restringe a faixas etárias. Inicialmente voltados apenas para o público infanto-juvenil, os livros de Harry Potter arrecadaram fãs de todas as idades, capazes de, como crianças e adolescentes, também colocarem suas indumentárias místicas para assistir aos lançamentos dos filmes. Vestem-se também, como dito anteriormente, fora da época de lançamento dos filmes. A comunidade do Orkut Encontros Potterianos prova isso. Nela, 1316 aficionados por Harry Potter se reúnem para marcar encontros de carne e osso. A foto da comunidade mostra várias pessoas, adolescentes e adultos, vestidos com as capas de mágico e segurando vassouras. A agenda da comunidade marca quando e onde serão os próximos encontros (São Paulo – SP, Santa Maria – RS, Campinas – SP, Rio de Janeiro – RJ, Americana – SP). Nos tópicos das comunidades, fica claro que aquilo há muito já deixou de ser uma simples comunhão de viciados no pequeno bruxo. Além de combinar encontros, eles combinam detalhadamente como será a programação, quais serão os temas discutidos, os “personagens” presentes, etc.

Mas o pequeno bruxo também é um fenômeno do consumo. Notícia divulgada esta semana afirma que o volume de negócios feitos com a marca Harry Potter beira os US$15 bilhões. Não é à toa: a lista de produtos licenciados pela marca Harry Potter é interminável. Uma simples busca no site de compras Submarino mostra as imensas possibilidades que um pottermaníaco pode ter para comprar. A procura pelas palavras Harry Potter remete a uma lista com 272 itens. A lista inclui todos os 6 livros já lançados, em diversas línguas; a pré-venda do sétimo e último livro, a ser lançado em julho; boxes com os DVDs dos quatro filmes já lançados; camisas de diversas cores e com estampas de vários personagens; casacos para proteger da chuva, com ou sem capuz; jogos para os videogames GameCub, Xbox e para computador; livros sobre Harry Potter, sobre a autora JK Rowling e até um livro de auto-ajuda para que pessoas que ficaram viciadas em Harry Potter aprenderem a lidar com o vício e a esperar pelo próximo livro e filme. Fora a Internet, também é fácil encontrar artigos de Harry Potter em lojas de brinquedos ou em lojas especializadas em quadrinhos, RPG, cards e semelhantes. No exterior, as possibilidades de consumo são ainda maiores, incluindo também chicletes com sabores estranhos, como os de pimenta consumidos pelos personagens dos livros, e até mesmo calcinhas com fotos dos personagens.

A autora JK Rowling, mulher mais rica do Reino Unido (mais rica, vale dizer, do que Elizabeth II), já disse que Harry Potter and the Deathly Hallows não será o último livro. Ainda vem por aí, ela só não sabe quando, a Enciclopédia Potteriana, um extenso livro com a biografia e histórias de personagens e criaturas que cruzaram os sete outros livros de Harry, mas com muito mais detalhes e recheado de acontecimentos que ocorreram depois que os personagens saíram de Hogwarts. Como diz o título de um capítulo do último livro, Magic is Might. E quem tem poder, é claro, quer cada vez mais dinheiro.

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