19.4.09

O céu dos nossos cachorros - final

Liberta, a Sasha gozou pouco a alforria. Começou a perder a força nas patas traseiras e quase não se levantava. Praticamente cega, só nos enxergava quando chegávamos bem perto. À grama, ela também não ia mais para as necessidades. Estivesse onde estivesse, na hora que fosse, ela não se controlava. Na dela, ficava o dia inteiro na mesma posição e só circulava para fazer suas duas ou três rondas diárias. Ainda assim, se fazia presente pelos latidos altos e intimidadores. No início do ano, quando percebi que em breve ela chegaria aos 10, brinquei que ela iria enterrar a todos nós.

Mas não. Morreu ontem, depois de uma madrugada indigna de sexta para sábado. Pôs muito sangue pelo nariz, em coágulos. Sofrendo barbaridades, não podia mais viver sem a vitalidade que expunha, quando reivindicava o mesmo espaço dentro de casa que a Baby tinha, ou quando punha suas enormes patas brancas na janela da cozinha e, sorrindo, com o linguão pra fora, clamava por um pãozinho.

Discutimos, na sexta à noite, dar a ela o mesmo final que demos à Bonnie. Contra a eutanásia em humanos, concordei em relação à Sasha, mas não sem dor. Os católicos dizem que os cães não têm alma, embora sejam criaturas de Deus. Já o filme Fluke – lembranças de outra vida me lançou a dúvida se eles realmente são ou não espíritos. Sem poder responder, optamos pelo sacrifício do Scooby. Minha mãe e minha irmã, mais uma vez no front do problema, disseram que ela parecia serena e aliviada antes de receber a injeção.

Lá no céu dos cães, que desde crianças somos levados a imaginar, ela deve ter encontrado a Baby ou, quem sabe, ter sido recebida por ela. Será que o acerto de contas já foi feito? Talvez façam as pazes ao perceberem que, além do ódio mútuo, há em comum o amor que ambas dedicaram a minha mãe, a mim, a minha irmã e ao meu cunhado. Aqui embaixo, só resta muita saudade e a certeza de que, de onde estiver – se é que está em algum lugar - ela e todos nossos caninos estão nos protegendo e mandando altíssimas doses do que eles mais sabem dar: paz, conforto, atenção, lealdade, amizade, carinho, e muito, muito amor.

2 comentários:

Carol disse...

Qual foi a criança que nunca assistiu a "Todos os cães merecem o céu"? Fez me sentir melhor depois que perdi vários dos vários cães que eu já tive.

Carol Jardim
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caroljardim.com/blog

Guilherme Amado disse...

Pior que eu nunca assisti. O "Fluck - lembranças de outra vida", eu assisti e tb ajuda. Bjs