15.4.09

Por que parar, parar por quê?

Foi estranho e triste quando, há duas semanas, a agente literária espanhola Carmen Balcells, representante de grandes nomes da literatura latino-americana, como Isabel Allende e Mario Vargas Llosa, disse ao jornal chileno La tercera que seu cliente mais importante (responsável por mais de um terço de sua receita), o colombiano Gabriel García Márquez, "provavelmente não irá escrever nunca mais". A notícia foi estranha por ter sido divulgada pela agente e não por ele. E triste porque ele ainda é um dos melhores escritores em atividade. García Márquez foi, sem dúvida, o autor que mais li, influenciado talvez pelo magnífico Cem Anos de Solidão.

Não só era falsa a notícia, negada peremptoriamente por Márquez, como ele disse ao diário colombiano El Tiempo que "a única coisa certa é que eu não faço outra coisa a não ser escrever". Melhor assim.

Aproveitando o gancho, o Idéias & Livros, suplemento literário do Jornal do Brasil, foi a campo e publicou, no último sábado, um mosaico com as respostas de vários escritores à pergunta: o que o faria parar? O resultado foi ótimo. Cony disse que é definitiva sua aposentadoria da literatura (pelo menos, ainda contamos com suas ótimas colunas na Folha) e defendeu que é importante saber a hora de parar.

Outros pesos pesados, como João Ubaldo e Sérgio Sant'Anna, garantiram que ainda escreverão por muito mais tempo. "Quando eu era jovem e pouco vivido, tive a impressão de que a fonte secaria logo. Concordo totalmente com quem diz que o escritor escreve o mesmo livro toda vida, mas acho que esse mesmo livro vai se enriquecendo, com a vivência", disse Ubaldo.

Sérgio escreve um romance ambientado em Praga para a coleção Amores Expressos (aquela que levou vários escritores para morarem um período numa grande capital do mundo e lá criarem uma história de amor). Aproveitou para dar a receita: "Sou leitor de E. M. Cioran, meu autor de 'ajuto-ajuda', que sempre fez pouco caso das ambições literárias, como aliás de todo o resto, e considera que o ser humano deve sair desta para nenhuma muito discretamente".

A matéria vale ser lida também porque os repórteres Alvaro Costa e Silva e Alexandre Werneck fizeram a mesma pergunta a escritores mais novos e não tão consagrados, como Cecília Giannetti, autora do bom Lugares que não conheço, pessoas que nunca vi, e Joca Terron, de quem nunca li nada, mas já respeito pelos elogios que a crítica literária Beatriz Resende faz a ele.

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