5.7.09

Oficinas literárias em xeque*

Um artigo recente da revista americana New Yorker alfinetou os badalados cursos de creative writting, que se proliferam em progressão geométrica nos Estados Unidos, atraindo pessoas que vêem ali a oportunidade de se tornarem escritores. Hoje, terminou na Flip mais uma oficina literária, formato brasileiro que mais se assemelha aos cursos de escrita criativa americanos. Comandada pelo poeta Carlito Azevedo, a oficina de poesia desta edição da Flip atraiu 30 pessoas, selecionadas por currículo, que viram ali a chance de aprimorar técnicas ou mesmo aprendê-las do zero. Embora vejam virtudes nas oficinas, escritores mais experientes e até principiantes admitem que elas estão longe de conseguir transformar um não-escritor em escritor.

Professora aposentada, Maria de Lourdes Oliveira veio de Uberlândia para participar da oficina de Carlito. Autora do livro de poesia “50 gotas de óleo para minha Candeia”, lançado em 2002, Maria de Lourdes aprendeu na oficina da Flip, entre outros pontos, a importância de não se limitar na poesia contemporânea.

"Também reafirmei convicções que já tinha, como a importância de limpar o texto, da pontuação correta", diz, afirmando ser esta sua quarta experiência em oficinas, que considera extremamente úteis a quem está começando.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, o escritor catarinense Cristóvão Tezza, autor de O filho eterno, vê nas oficinas literárias uma chance para talentos começarem a ser lapidados. Professor de uma oficina de produção de texto técnico em Curitiba, Tezza as encara como uma porta para que novos escritores enxerguem dimensões até então desconhecidas da literatura:

"É impossível, no entanto, formar um escritor ali, até porque ele se faz sozinho, independe de aulas ou desse tipo de exercício".

Tatiana Salem Levy, autora de A chave de casa, concorda que oficinas literárias não formam ninguém. Acha, porém, que a participação é válida, por ensinar algumas técnicas, como a variação de pontos de vista numa mesma narrativa, e por permitir que sejam lançados olhares diversos sobre o seu texto:

"Submeter o que você está escrevendo a outras pessoas é muito importante, essa criação em grupo que a oficina permite é legal".

Quanto a eventuais vícios que uma oficina possa impregnar em um principiante, a melhor vacina, recomenda, é o tempo, que fará o verdadeiro escritor quebrá-los.

Proposta diferente bastante divulgada na Flip deste ano é a do escritor mexicano Mario Bellatin, que coordena a Escola Dinâmica de Escritores, no México. Lá, segundo Bellatin, ele estimula diversas formas de expressão artística, exceto por meio da escrita:

"Não se aprende a escrever dentro de uma escola, até porque isso pode padronizar os textos. O que eu proponho lá é que as pessoas tenham contato com formas diversas de arte para que só escrevam quando a inspiração realmente vier. É muito mais benéfico".

* Publicado originalmente em www.oglobo.com.br

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