8.5.06

Luiz Eduardo, meu ídolo, meu mestre, meu santo padroeiro

Mal estreei esse esplêndido blog e já fiquei seis dias sem postar. Tsc tsc tsc. Vou fazer como o SBT fazia na época do Collor com "a semana do presidente", mas numa versão pé de chinelo.

Semana de altos acontecimentos. Fui assistir ao filme Falcão, meninos do Tráfico, numa sessão especial lá na faculdade, seguido de um debate com o antropólogo Luiz Eduardo Soares.

Primeiro, falo do filme, depois dele. O filme é bom, muito bom. Não vi a versão do Fantástico, que foi uma edição feita pela Globo, mas o especialista-mor nesse tema, um ex-professor meu, Sérgio Mota, disse que a versão fantástica teve uma estética mais televisiva do que de cinema.

Como, há muito, eu já tenho uma preocupação social, o filme não me chocou tanto, mas ainda assim, é deprimente ver moleques de 9 anos falando que seu sonho é ser bandido. Uma coisa que me impressionou foi a forma como os falcões, como são chamados os meninos que trabalham pro tráfico, enxergam seu trabalho. Para eles, os moradores do morro não têm o direito de fechar a porta pra eles numa eventual fuga, já que eles estão apenas trabalhando. Vale a pena ver o filme.

Agora vamos ao Luiz Eduardo Soares. Antropólogo e cientista político, professor da UCAM e da UERJ, ele foi secretário de segurança pública no início do primeiro governo do Garotinho, naquele tempo que o governador não passava fome. Saiu em 1999 por não concordar com alguma coisa que aconteceu. No início do governo Lula, até setembro de 2003, foi secretário nacional de segurança e começou a implantar o sistema nacional de segurança pública. Em setembro, no entanto, foi alvo de denúncias e pediu demissão. No mês seguinte, descobriu-se que o dossiê era faldo. Ele conta em seu site que as acusações haviam sido plantadas por pessoas que vinham nele um obstáculo para a realização de projetos pessoais ilegais. Dois anos depois, vimos que ele podia ter razão.

De lá pra cá, ele escreveu mais dois livros, somados aos vários que já havia escrito, principalmente na área acadêmica. O primeiro foi com o rapper MV Bill e com Celso Athayde e chama-se Cabeça de Porco. O segundo, Elite da Tropa, chegou às lojas semana passada e teve grande repercussão na imprensa, pois conta as entranhas do Bope, de forma fictícia, mas baseado em fatos verdadeiros contados pelos outros autores, ex-policiais do BOPE.

Voltando ao Luiz Eduardo: achei ele o máximo. Ele encara a situação que a gente vive nessa cidade tão abandonada com uma lucidez impressionante. Ele conta uma história pra justificar seu trabalho agora que ele deixou a vida pública. Foi acompanhar uma missão policial num morro e presenciou uma verdadeira carnificina que o impediu de dormir a noite toda. No dia seguinte, o resto da cidade amanheceu como se o que ele havia visto na noite anterior não tivesse acontecido. Desde então, ele trabalha pra que todos percam o sono como ele. Metaforizando, diz que é um disseminador de insônia.

Segundo ele, a classe média do Rio vive uma situação ambígua, um meio termo entre a consciência do que acontece nos morros e o desconhecimento de tudo por que passam milhares de crianças e moradores de favelas ou áreas de atuação de traficantes. Ele acredita que, na verdade, não se tem noção de como é dramático o quadro.

Mais adiante, ele disse admirar o trabalho voluntário e a atuação do Terceiro Setor, que vem provocando importantes mudanças nas comunidades e na vida de diversas pessoas carentes. Mas, ainda assim, ele defende que não podemos desistir de mudar o Estado, pois somente uma mudança estrutural poderá resolver os problemas brasileiros. Ressaltou, no entanto, que não podemos desacreditar a democracia, pois somente com ela conseguiremos esses avanços.

No final do debate, em virtude uma pergunta na platéia, o assunto debandeou para a legalização das drogas e ele disse ser favorável, por uma série de razões que não cabem num post. Até então só tinha feito uma pergunta sobre como ele, que havia trabalhado na esfera pública e na sociedade civil, via a forma de atuação de ambos para modificar essa situação.

Mas tive que levantar meu metido dedo novamente quando ele falou que não podemos culpar os usuários de droga por uma política de drogas equivocada. Eu disse que não podemos cullpar, mas não podemos também desculpabilizar, já que é o usuário que engendra todo o mecanismo do tráfico. Sou a favor da legalização, mas enquanto ela não se concretiza, não consigo aceitar que vários amigos com grande consciência social usem maconha.

Tenho um conhecido que tem uma grande preocupação social, mas, mesmo assim, usa maconha. Do que adianta ? Ele, com todos seus Marxs debaixo do braço e idéias revolucionárias na cabeça, é o responsável indireto por uma terrível realidade.

Bom, já me estendi bastante. Abaixo, dois links. Um pro site do Luiz Eduardo e outro para o No Mínimo, onde ele deu uma excelente entrevista falando sobre seu novo livro.

http://www.luizeduardosoares.com.br
http://www.nominimo.com.br

Abs

4 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com a sua opinião. As pessoas engessam a opinião de que os usuários de drogas lícitas e/ou ilícitas não tem culpa ou escolha.
Deprimente.
Mas, como creio que você também, espero que possamos alterar esse quadro até mesmo para nosso próprio bem.

Abraços,
Shun

Anônimo disse...

Finalmente vim comentar no seu blog :)

Assisti Falcão na PUC tb e fiquei no debate do L.E. Soares, mas não até o fim...
Sou fã assumida dele só pelo que ouço em debates e palestras. Tenho o Cabeça de Porco, mas preguiçosa leitora que sou, nem comecei o livro ainda. Mas vou ler logo!!!

A situação do Rio de Janeiro, do tráfico, é absurda... e o conceito da invisibilidade que o L.E. Soares usa é perfeito. Agora com essa loucura em SP eu só consigo pensar que deveriam existir pelo menos uns 50 "exemplares" desse cara fantástico no Brasil. Seria muito bom se estivessem, em todas as esferas do governo, pessoas que formulassem e executassem políticas públicas de segurança como ele fez enquanto teve o poder nas mãos...

Acho que me estendi um pouco né? Rs...
É isso.

Beijo!!!

Anônimo disse...

Ele tah elaborando o programa da denise frossard do pps p/ governo do rio..
Deixando BEM CLARO q eu NAUM estou fazendo campanha p/ ela..
A filha dele faz akele curso comigo.
Enfim, eu gosto bastante dele.. Genial as coisas q ele fala sobre violencia. Depois conversamos sobre isso tb.. Heheheheheh..
Bjooos!

Anônimo disse...

O Professor Luis Eduardo Soares vindo do meio acadêmico desagrada ao sistema sobretudo o aparelho de segurança do Estado que controla as atividades ilegais.