30.5.06

O novo CD do Chico

Estou há séculos querendo escrever sobre o novo CD do Chico, mas estava faltando tempo e só gosto de comentar sobre um livro, CD ou filme depois de pensar bastante. Invariavelmente, acabo falando besteira do mesmo jeito, mas vou me atrever a criticar esse CD, pois acho que é um assunto que conheço bem.

Leio tudo que ele escreve, ouço tudo que canta e olho pra tudo que ele aponta. Quase sempre concordo com o que diz em entrevistas e em seus livros. Por tudo isso, acho que ele é um dos pouco ídolos que tenho. Suas músicas têm o dom de concordar com meus sentimentos e achismos. Minha indignação com a realidade social brasileira fica mais latente quando ouço suas letras políticas e sociais. Meu romantismo ressurge quando ouço músicas que transbordam poesia. Eu, que sou tão avesso ao gênero, adoro os versos do Chico. Sua veia de cronista também me fascina, assim como sonho com as "nossas" Carolinas, Ritas e morenas dos olhos d'água. Dos livros, acho que só li Budapeste. Duas vezes, e a segunda, como sempre, foi muito melhor.

Com o novo CD, Carioca, também foi assim. Estou ouvindo o disco pela quarta vez nesse exato momento e, acredite, ele fica cada vez melhor. Dificilmente o Chico fará alguma coisa melhor de tudo que ele já fez. Mas, garanto, as músicas desse CD são tão boas quanto as antigas. Como bem disse o crítico do Globo, Carioca é pra quem ainda acredita na existência da canção.

Pra quem está por fora desse óbito, recomendo que leia o excelente artigo do site Trópico, clicando aqui . Chico, numa entrevista pra Folha em 2004, foi a segunda pessoa a falar sobre a morte da canção. O crítico José Tinhorão já o tinha feito um ano antes. Curiosamente, seu disco possui oito novas canções. Novas e ricas.

A primeiríssima, Subúrbio, fala sobre uma fatia do Rio tão pouco representada, ofuscada pelas garotas de Ipanema e pelos morros. Realmente, até ler sua última entrevista para o Globo, não tinha percebido isso. O subúrbio tem poucas representações à altura da sua importância. Chico tenta corrigir esse erro. E o resultado ficou bem legal. Como complemento à essa música, leia o post intitulado Gente Humilde, música atribuída ao Chico que também fala sobre esse lado da cidade.

A segundona, pra mim, é uma das melhores do disco. Chama-se Outros Sonhos e tem cara de música dele. Lembra em algum momento A Banda, talvez por falar o tempo todo de um sonho. Lembra também aquela que é, para mim, talvez a melhor de suas canções, João e Maria. Não vou viajar muito na minha análise, porque o Paulo Roberto Pires, no No Mínimo, fez muito melhor do que eu. Outros Sonhos, para ele, é um espelho de Sonhos sonhos são, segunda faixa de As cidades, o CD anterior do Chico. Ele diz ainda que, em vez do pesadelo de um avião cheio de desamor, o sonhador de Outros Sonhos, igualmente distante da mulher amada, vive num país de sonhos, em que "a polícia já não batia", "maconha só se comprava/ Na tabacaria" e "de mão em mão o ladrão/ relógios distribuía". O início da letra tem como mote, ainda segundo ele, uma canção chilena que o Sérgio Buarque cantava pra o filho: "Sonhei que o fogo gelava/ Sonhei que a neve fervia/ E por sonhar o impossível/ Sonhei que tu me querias". Se só tivesse essa música, o disco já valeria.

Mas, felizmente, ainda temos outras pérolas. Hoje fico por aqui. Amanhã, se o tempo permitir, termino minha magnífica e revolucionária análise.

Abs

Um comentário:

Anônimo disse...

Ainda não tive a oportunidade de escutar esse Cd, mas meu pai tem cada relíquia do Chico aqui em casa que vc nem acredita!!! Tudo Disco que provavelmente toca!!! e outra ganhamos aqueles DVDs que amei, principalmente quando ele fala da paixão pelo Futebol.
Gostei muito da sua análise e vou procurar escutar o cd o mais breve possivel, Internet ta ai né!!!
Bjsss!!!