2.5.06

Gente Humilde

Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar

São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar


Poucas músicas são tão fortes como Gente Humilde, composta por Vinícius e Chico sobre a melodia de um compositor popular carioca, chamado Garoto.

Há cerca de duas semanas, o Chico deu uma entrevista para aquela preciosidade que é a Revista de Domingo do Grobo, contando que, na verdade, não teve quase nenhuma contribuição na letra de Gente Humilde. Seu nome entre os compositores da canção foi um gesto de carinho do amigo Vinícius, quando Chico, em 1969, o convidou para ser padrinho de uma de suas filhas. Para retribuir a amizade de Chico, Vinícius pediu que ele acrescentasse dois versos à letra que estava fazendo para uma bonita e triste melodia de Garoto. Assim nascia Gente Humilde, uma música capaz de fazer o coração mais frio se emocionar com a triste realidade do pobre brasileiro.

O personagem da música passa de trem por um subúrbio e se emociona com a capacidade dos moradores de enfrentarem a pobreza e as adversidades, sem ter com quem contar.

Faço aqui uma ponte entre a realidade que essa música mostra e a fantasia da última campanha da Chevrolet para o Rio, aquela intitulada "Pra quem mora no Rio, cada quilômetro é único". Realmente. É uma experiência única passar na Rocinha, assim como é uma experiência única passear na Lagoa. Bom, não vou me alongar no tema tão explorado da cidade partida, mas lembrei de outro fato.

Quem curte esse tema deve procurar ver o documentário feito pelo grupo de televisão comunitária da Rocinha, chamado Entre muros e favelas. É um filme bastante político que mostra a visão dos moradores de vários morros sobre a política de segurança pública, sobre a forma como os policiais entram no morro etc. O mais interessante do filme é ver uma visão de dentro, diferente da formulada por João Moreira Salles em Notícias de uma guerra particular, por exemplo, ou por Fernando Meirelles em Cidade de Deus.

Quando assisti a esse documentário, seguiu um debate com um dos diretores do filme, cujo nome, infelizmente, não me recordo agora. Ele, morador da Rocinha, disse que discorda com o emprego do termo "cidade partida", preferindo usar "cidade segregada". Para ele, o primeiro termo traz a idéia de que não há comunicação entre as duas partes. Como, graças a Deus, aos moradores e a entidades como o Viva Rio, ainda não perdemos esse contato, o termo segregada é o mais correto.

Termino por aqui minhas divagações e aproveita para dizer que estou entrando em greve de fome em solidariedade a Anthony Garotinho.

Abs.

2 comentários:

Anônimo disse...

É uma música tão fácil de sentir, né?
Mas... quanto à greve de fome do ilustríssimo Sr. Garotinho... sem comentários...
*RISOS*

Abraços,
Shun

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu