Estou há séculos querendo escrever sobre o novo CD do Chico, mas estava faltando tempo e só gosto de comentar sobre um livro, CD ou filme depois de pensar bastante. Invariavelmente, acabo falando besteira do mesmo jeito, mas vou me atrever a criticar esse CD, pois acho que é um assunto que conheço bem.
Leio tudo que ele escreve, ouço tudo que canta e olho pra tudo que ele aponta. Quase sempre concordo com o que diz em entrevistas e em seus livros. Por tudo isso, acho que ele é um dos pouco ídolos que tenho. Suas músicas têm o dom de concordar com meus sentimentos e achismos. Minha indignação com a realidade social brasileira fica mais latente quando ouço suas letras políticas e sociais. Meu romantismo ressurge quando ouço músicas que transbordam poesia. Eu, que sou tão avesso ao gênero, adoro os versos do Chico. Sua veia de cronista também me fascina, assim como sonho com as "nossas" Carolinas, Ritas e morenas dos olhos d'água. Dos livros, acho que só li Budapeste. Duas vezes, e a segunda, como sempre, foi muito melhor.
Com o novo CD, Carioca, também foi assim. Estou ouvindo o disco pela quarta vez nesse exato momento e, acredite, ele fica cada vez melhor. Dificilmente o Chico fará alguma coisa melhor de tudo que ele já fez. Mas, garanto, as músicas desse CD são tão boas quanto as antigas. Como bem disse o crítico do Globo, Carioca é pra quem ainda acredita na existência da canção.
Pra quem está por fora desse óbito, recomendo que leia o excelente artigo do site Trópico, clicando aqui . Chico, numa entrevista pra Folha em 2004, foi a segunda pessoa a falar sobre a morte da canção. O crítico José Tinhorão já o tinha feito um ano antes. Curiosamente, seu disco possui oito novas canções. Novas e ricas.
A primeiríssima, Subúrbio, fala sobre uma fatia do Rio tão pouco representada, ofuscada pelas garotas de Ipanema e pelos morros. Realmente, até ler sua última entrevista para o Globo, não tinha percebido isso. O subúrbio tem poucas representações à altura da sua importância. Chico tenta corrigir esse erro. E o resultado ficou bem legal. Como complemento à essa música, leia o post intitulado Gente Humilde, música atribuída ao Chico que também fala sobre esse lado da cidade.
A segundona, pra mim, é uma das melhores do disco. Chama-se Outros Sonhos e tem cara de música dele. Lembra em algum momento A Banda, talvez por falar o tempo todo de um sonho. Lembra também aquela que é, para mim, talvez a melhor de suas canções, João e Maria. Não vou viajar muito na minha análise, porque o Paulo Roberto Pires, no No Mínimo, fez muito melhor do que eu. Outros Sonhos, para ele, é um espelho de Sonhos sonhos são, segunda faixa de As cidades, o CD anterior do Chico. Ele diz ainda que, em vez do pesadelo de um avião cheio de desamor, o sonhador de Outros Sonhos, igualmente distante da mulher amada, vive num país de sonhos, em que "a polícia já não batia", "maconha só se comprava/ Na tabacaria" e "de mão em mão o ladrão/ relógios distribuía". O início da letra tem como mote, ainda segundo ele, uma canção chilena que o Sérgio Buarque cantava pra o filho: "Sonhei que o fogo gelava/ Sonhei que a neve fervia/ E por sonhar o impossível/ Sonhei que tu me querias". Se só tivesse essa música, o disco já valeria.
Mas, felizmente, ainda temos outras pérolas. Hoje fico por aqui. Amanhã, se o tempo permitir, termino minha magnífica e revolucionária análise.
Abs
30.5.06
O novo CD do Chico
29.5.06
Ricardinho, o aprendiz no trato com as mulheres
Desde pequeno, Ricardinho sempre foi usado pelas mulheres à sua volta. A mãe, as irmãs, a namorada e até a cadela fazem e desfazem do pobre rapaz. Vez ou outra, ele tenta dar seu grito de liberdade, mas até hoje não teve sucesso. Essa é a primeira de muitas histórias desse doce e singelo rapaz, nascido lá pros lados do interior do estado e um tanto quanto ingênuo.
Ricardinho, o aprendiz no trato com as mulheres apresenta:
Ricardinho versus a ameaça do Ricardão
- Amor, vou desligar. Desliga antes pra eu não ficar culpado?
- Ai, não, docinho, desliga você antes.
- Eu não vou ter coragem. Desliga, vai.
- Ontem fui eu que desliguei. Agora desliga você, docinho.
- Como assim, Mariana? Ontem a gente não se falou pelo telefone. Esqueceu que eu tava afônico?
- Claro que nos falamos, Ricardinho...
- Mariana, ontem a gente não se falou pelo telefone. Com quem você fez essa nossa brincadeirinha de quem desliga primeiro?
- Com ninguém, docinho. Precisa falar com essa voz?
- Mariana Vasconcelos, não me chame de docinho. Eu odeio quando você me chama de docinho.
- Ai, amor, como você é cínico. Há cinco anos eu te chamo de docinho e você nunca tinha me dito que odeia ser chamado de docinho. Cínico e falso!
- Mariana, não muda de assunto. Com quem você falou ontem?
- Ah, agora quer controlar com quem eu falo ou com quem eu deixo de falar, é? Manipulador, controlador. E ainda quer casar? Imagina quando botar uma aliança no meu dedo! Vai achar que é meu dono.
- Se eu colocar uma aliança no seu dedo! Se eu colocar!
- o quê!? Você está desfazendo nosso noivado? Seu canalha. Seu sórdido. Você me impressiona, Ricardo. Quero ver você encontrar uma namorada tão dedicada como eu. Quem passa minacora nas suas frieiras? Com certeza não é a vaca da sua mãe.
- Não fala da minha mãe porque ela é ótima com você. Parou até de apontar seus defeitos.
- Ah, agora eu sou cheia de defeitos. Faz o seguinte, então: vê se casa com a sua mãe, já que ela é tão perfeita. Pode passar aqui em casa pra buscar suas coisas.
Duas horas mais tarde, na casa dela, ele entra com o rosto inchado de tanto chorar.
- Mari, tô aqui na sala. Vamos conversar? Cadê você?
- Me esquece! Pega suas coisas e vai embora.
- Amor, eu falei aquelas coisas de cabeça quente. Eu te amo.
- Você ama é a sua mãe. Pra mim, só restam insinuações maldosas. Ricardo, como você ousa imaginar que eu te traí? Só porque eu fiz uma pequena confusão.
- Não foi isso que eu quis dizer, amor. Você sabe que eu sou louco por você. Só tinha achado estranho. Mas agora tudo bem. Sai desse banheiro.
- Não... não vou sair. Já liguei o gás do chuveiro. Vou me matar. (gritos de choro)
- Mariana, não faz isso comigo. Eu te amo. Sai desse banheiro. Fala comigo, Mari. Sai daí.
- Só se você pedir com jeitinho.
- Amor, você é a coisa mais importante da minha vida. Eu te amo muito, muito, muito. Você é meu chão, meu sol, minha razão de viver, minha causa, minha conseqüência.
- Ai, Ricardinho, aí já tá ficando brega.
Ela sai do chuveiro, de cabelo molhado, vestido preto e batom vermelhocom salto alto.
- Tá, Ricardinho, te perdôo. Mas só se você me der aquela blusa que você prometeu.
- Claro, amorzinho.
- E o jantar no Gero?
- Claro. Tudo pra ter você de volta.
- Ai, Rick, você é um príncipe!
21.5.06
Fiz uma pequena extravagância. 15 reais
Muitas pessoas têm gostado desse blog (até agora, 4). Eu também gosto de escrever aqui, mas às vezes me incomoda a sensação de que ninguém lê. Tudo bem. Vou continuar escrevendo. Se você está com pena, dá uma comentada, tá? Nem que seja pra me xingar. Falem mal, mas...
Bom, não estou postando só pra falar sobre o futuro do Textosetc. Hoje comprei cinco CDs. O novo do Chico, os dois novos da Marisa Monte, o novo do Lenine e o novo do Nando Reis. Gastei 15 reais. Isso mesmo. Piratão. Se fosse comprar os cinco na loja, verdadeiros, gastaria uns 120 reais, no mínimo. Ou seja: não compraria, porque não tenho essa grana pra gastar em CD.
Como já disse, e meus amigos sabem, sou um pouco politicamente correto, o que me impediria de comprar CD pirata e tirar empregos de milhares de técnicos e funcionários envolvidos na produção do disco, além de onerar o pobre do artista. Mas pensem comigo, caros leitores....
Todos sabemos que o artista só ganha uma ínfima percentagem pela venda de um disco. Uns dizem que não passa de um real. O resto do dnheiro vai pra gravadora, que lucra e paga os funcionários. Mas o camelô, o pirateador, o atravessador etc. também não lucro com a pirataria? Eles não precisam trabalhar da mesma forma que os outrs funcionários da gravadora? Não têm filhos pra sustentar do mesmo jeito.
Não me venham os economistas e empresários dizerem que a informalidade do camelô é ilegal. Ilegal é passar fome, não ter trabalho, não poder dar um presente pro filho no aniversário. Sou radical quanto a isso. Salve o camelô! Salve o ambulante! Salve o sacoleiro! São trabalhadores da mesma forma que vocês, economistas e empresários. E eles têm o direito de trabalhar no que desejarem.
Além disso, há o debate cultural. Se o preço dos CDs continuarem como estão, poderá uma pessoa que ganha 350 reais por mês ouvir música? Outra: ao artista é muito interessante que muitas pessoas ouçam sua música, porque isso atrai mais público para seus shows, onde ele realmente fatura.
Voltemos aos discos que comprei. Até agora, já ouvi os dois da Marisa Monte e parte do CD do Chico. Estou esperando pra ouvi-lo inteiro amanhã, plena segunda-feia. Não é erro de digitação, é feia mesmo.
Não entendo muito de música, mas acho que tenho bom gosto e uma visão despida de preconceitos sobre a mais universal das artes. Adoro música brasileira, seja ela como for. Ouço muito samba, bossa-nova, MPB, por mais ampla que seja essa denominação. Adoro sambar, dançar forró, música de gafieira e outros ritmos. Acho o astral de qualquer micareta extremamente contagiante e não consigo ficar parado, seja na pipoca ou no abadá. Acho pagode tão normal quanto samba, porém as letras são mais pobres. Não ouço, nem danço funk e hip-hop, mas vejo os dois ritmos como expressões artísticas. Da mesma forma, ido com rock pesado, os metal isso, metal aquilo. Não gosto, mas respeito. Pop eu gosto e ouço os artistas que têm composições legais, como Lulu Santos, Los Hermanos, Titãs etc.
Música estrangeira não é meu forte, mas curto um pop-rock americano. Gosto de dançar ritmos latinos e agora, que estou aprendendo français, estou conhecendo umas múscias bem bacaninhas.
Chega de falar dos meus gostos, porque os poucos que leram até aqui já devem estar de saco cheio. Gostei dos CDs da Marisa Monte. Infinito Particular e Unvierso ao meu redor. O primeiro é mais MPB e o segundo é de samba. Este tem uma proposta bem legal. Ela resgata sambas que estavam se perdendo com o tempo, porque nunca tinham sido gravados, ou se tinham, os orginais estão perdidos. Muito bom, mas "Barulhinho bom" ainda é seu melhor disco, sem comparação.
Soube uma curiosidade do CD do Chico que não li em nenhuma matéria ou entrevista. A música que as rádios estão trabalhando, "Ela faz cinema", tem um refrão igual ao título e fala de uma mulher que brinca com o cantor. Nossa santidade, Chico Buarque, que também compõe em francês, traduziu a expressão "faire du cinema" para o português. Lá, isso equivale a dizer em português que alguém finge, faz teatro etc. Ele diz que a mulher faz cinema, ou seja, finge, brinca com ele. Meio cultura inútil, né? Mas deixa pra lá.
Pra terminar, divulgo aqui a data de lançamento do livro do Luiz Eduardo Soares: dia 23 de maio, no Botafogo Plaza Shopping, Armazém Digital, às 19h30. Leia dois posts anteriores e vejam porque a palestra é imperdível.
Besos e hasta la vista!
8.5.06
Luiz Eduardo, meu ídolo, meu mestre, meu santo padroeiro
Mal estreei esse esplêndido blog e já fiquei seis dias sem postar. Tsc tsc tsc. Vou fazer como o SBT fazia na época do Collor com "a semana do presidente", mas numa versão pé de chinelo.
Semana de altos acontecimentos. Fui assistir ao filme Falcão, meninos do Tráfico, numa sessão especial lá na faculdade, seguido de um debate com o antropólogo Luiz Eduardo Soares.
Primeiro, falo do filme, depois dele. O filme é bom, muito bom. Não vi a versão do Fantástico, que foi uma edição feita pela Globo, mas o especialista-mor nesse tema, um ex-professor meu, Sérgio Mota, disse que a versão fantástica teve uma estética mais televisiva do que de cinema.
Como, há muito, eu já tenho uma preocupação social, o filme não me chocou tanto, mas ainda assim, é deprimente ver moleques de 9 anos falando que seu sonho é ser bandido. Uma coisa que me impressionou foi a forma como os falcões, como são chamados os meninos que trabalham pro tráfico, enxergam seu trabalho. Para eles, os moradores do morro não têm o direito de fechar a porta pra eles numa eventual fuga, já que eles estão apenas trabalhando. Vale a pena ver o filme.
Agora vamos ao Luiz Eduardo Soares. Antropólogo e cientista político, professor da UCAM e da UERJ, ele foi secretário de segurança pública no início do primeiro governo do Garotinho, naquele tempo que o governador não passava fome. Saiu em 1999 por não concordar com alguma coisa que aconteceu. No início do governo Lula, até setembro de 2003, foi secretário nacional de segurança e começou a implantar o sistema nacional de segurança pública. Em setembro, no entanto, foi alvo de denúncias e pediu demissão. No mês seguinte, descobriu-se que o dossiê era faldo. Ele conta em seu site que as acusações haviam sido plantadas por pessoas que vinham nele um obstáculo para a realização de projetos pessoais ilegais. Dois anos depois, vimos que ele podia ter razão.
De lá pra cá, ele escreveu mais dois livros, somados aos vários que já havia escrito, principalmente na área acadêmica. O primeiro foi com o rapper MV Bill e com Celso Athayde e chama-se Cabeça de Porco. O segundo, Elite da Tropa, chegou às lojas semana passada e teve grande repercussão na imprensa, pois conta as entranhas do Bope, de forma fictícia, mas baseado em fatos verdadeiros contados pelos outros autores, ex-policiais do BOPE.
Voltando ao Luiz Eduardo: achei ele o máximo. Ele encara a situação que a gente vive nessa cidade tão abandonada com uma lucidez impressionante. Ele conta uma história pra justificar seu trabalho agora que ele deixou a vida pública. Foi acompanhar uma missão policial num morro e presenciou uma verdadeira carnificina que o impediu de dormir a noite toda. No dia seguinte, o resto da cidade amanheceu como se o que ele havia visto na noite anterior não tivesse acontecido. Desde então, ele trabalha pra que todos percam o sono como ele. Metaforizando, diz que é um disseminador de insônia.
Segundo ele, a classe média do Rio vive uma situação ambígua, um meio termo entre a consciência do que acontece nos morros e o desconhecimento de tudo por que passam milhares de crianças e moradores de favelas ou áreas de atuação de traficantes. Ele acredita que, na verdade, não se tem noção de como é dramático o quadro.
Mais adiante, ele disse admirar o trabalho voluntário e a atuação do Terceiro Setor, que vem provocando importantes mudanças nas comunidades e na vida de diversas pessoas carentes. Mas, ainda assim, ele defende que não podemos desistir de mudar o Estado, pois somente uma mudança estrutural poderá resolver os problemas brasileiros. Ressaltou, no entanto, que não podemos desacreditar a democracia, pois somente com ela conseguiremos esses avanços.
No final do debate, em virtude uma pergunta na platéia, o assunto debandeou para a legalização das drogas e ele disse ser favorável, por uma série de razões que não cabem num post. Até então só tinha feito uma pergunta sobre como ele, que havia trabalhado na esfera pública e na sociedade civil, via a forma de atuação de ambos para modificar essa situação.
Mas tive que levantar meu metido dedo novamente quando ele falou que não podemos culpar os usuários de droga por uma política de drogas equivocada. Eu disse que não podemos cullpar, mas não podemos também desculpabilizar, já que é o usuário que engendra todo o mecanismo do tráfico. Sou a favor da legalização, mas enquanto ela não se concretiza, não consigo aceitar que vários amigos com grande consciência social usem maconha.
Tenho um conhecido que tem uma grande preocupação social, mas, mesmo assim, usa maconha. Do que adianta ? Ele, com todos seus Marxs debaixo do braço e idéias revolucionárias na cabeça, é o responsável indireto por uma terrível realidade.
Bom, já me estendi bastante. Abaixo, dois links. Um pro site do Luiz Eduardo e outro para o No Mínimo, onde ele deu uma excelente entrevista falando sobre seu novo livro.
http://www.luizeduardosoares.com.br
http://www.nominimo.com.br
Abs
2.5.06
Gente Humilde
Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar
Poucas músicas são tão fortes como Gente Humilde, composta por Vinícius e Chico sobre a melodia de um compositor popular carioca, chamado Garoto.
Há cerca de duas semanas, o Chico deu uma entrevista para aquela preciosidade que é a Revista de Domingo do Grobo, contando que, na verdade, não teve quase nenhuma contribuição na letra de Gente Humilde. Seu nome entre os compositores da canção foi um gesto de carinho do amigo Vinícius, quando Chico, em 1969, o convidou para ser padrinho de uma de suas filhas. Para retribuir a amizade de Chico, Vinícius pediu que ele acrescentasse dois versos à letra que estava fazendo para uma bonita e triste melodia de Garoto. Assim nascia Gente Humilde, uma música capaz de fazer o coração mais frio se emocionar com a triste realidade do pobre brasileiro.
O personagem da música passa de trem por um subúrbio e se emociona com a capacidade dos moradores de enfrentarem a pobreza e as adversidades, sem ter com quem contar.
Faço aqui uma ponte entre a realidade que essa música mostra e a fantasia da última campanha da Chevrolet para o Rio, aquela intitulada "Pra quem mora no Rio, cada quilômetro é único". Realmente. É uma experiência única passar na Rocinha, assim como é uma experiência única passear na Lagoa. Bom, não vou me alongar no tema tão explorado da cidade partida, mas lembrei de outro fato.
Quem curte esse tema deve procurar ver o documentário feito pelo grupo de televisão comunitária da Rocinha, chamado Entre muros e favelas. É um filme bastante político que mostra a visão dos moradores de vários morros sobre a política de segurança pública, sobre a forma como os policiais entram no morro etc. O mais interessante do filme é ver uma visão de dentro, diferente da formulada por João Moreira Salles em Notícias de uma guerra particular, por exemplo, ou por Fernando Meirelles em Cidade de Deus.
Quando assisti a esse documentário, seguiu um debate com um dos diretores do filme, cujo nome, infelizmente, não me recordo agora. Ele, morador da Rocinha, disse que discorda com o emprego do termo "cidade partida", preferindo usar "cidade segregada". Para ele, o primeiro termo traz a idéia de que não há comunicação entre as duas partes. Como, graças a Deus, aos moradores e a entidades como o Viva Rio, ainda não perdemos esse contato, o termo segregada é o mais correto.
Termino por aqui minhas divagações e aproveita para dizer que estou entrando em greve de fome em solidariedade a Anthony Garotinho.
Abs.