14.8.08

200 anos depois, a China dá o troco

A recepção dos chineses aos brasileiros - e a todos os outros povos - tem sido exemplar nestas Olimpíadas. Até massagem oferece aos turistas que vão torcer por seus conterrâneos. Mas, ao longo da História, o mesmo não aconteceu no tratamento dispensado por nós, brasileiros, aos chinos.

Como você pode ler em Ponha-se na rua: fatos e curiosidades do Rio de Janeiro de D. João VI (Ed. Luminatti, R$ 54), livro que escrevi em parceria com o jornalista Adriano Belisário, os chineses foram os primeiros imigrantes (sem contar os portugueses e africanos, é claro) trazidos para servir à economia do país.

Os chineses foram trazidos para cultivar chá em 1815 na Real Fazenda de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e, mais tarde, no Real Horto, atual Jardim Botânico. Colocaram em prática um projeto pessoal de D. João para cultivar o produto no Brasil, dispensando as importações e, quem sabe, transformando-se em fonte de riqueza econômica. O número de imigrantes chineses que vieram trabalhar no Brasil não é exato, mas estimativas falam de aproximadamente cem pessoas, provenientes das províncias chinesas de Cantão e Macau. Em 1815, chegaram os primeiros 45 colonos, que, na fazenda, encontraram instalações preparadas especialmente para eles, a mando de D. João. Portões e cabanas em estilo chinês foram construídos próximos a canteiros abrigando arbustos de ervas de chá, com pequenas flores brancas e folhas escuras e brilhantes. Esses canteiros eram cercados por caminhos que misturavam laranjeiras e roseirais, formando belos jardins, tornando a chamada China de Santa Cruz um dos pontos preferidos dos estrangeiros que visitavam a cidade.

Mas o clima paradisíaco da Fazenda Santa Cruz era aparente. As condições a que eram submetidos os chineses não contribuíam para que houvesse uma integração cultural ou social. Foram proibidos de trazer mulheres, para que seus traços orientais não passassem a descendentes brasileiros e tampouco tinham permissão de se aproximar da senzala, para que não houvesse relações íntimas com escravas. Também não lhes era permitido ter relações de comércio, ir à cidade, dormir fora da colônia ou receber visitas.

O sonho de cultivo do chá, acalentado por D. João VI, virou frustração. Ao mesmo tempo que os chineses não conseguiram passar as técnicas de cultivo para os demais agricultores, crescia o plantio do café, outra cultura que podia ser tão rentável quanto o chá e já era muito mais conhecida pelo brasileiro. Com o fim do cultivo nas décadas seguintes, o chá consumido no Brasil passou a ser importado da Inglaterra e a maioria dos chineses se espalhou pelo interior, formando grupos de mascates.

Se, duzentos anos atrás, foram as ambições chinesas as frustradas pelos brasileiros, dessa vez a situação se inverteu. O desempenho brasileiro nas Olimpíadas está, como de praxe, ridículo.

2 comentários:

Alexandre Silva disse...

"Foram proibidos de trazer mulheres, para que seus traços orientais não passassem a descendentes brasileiros"

Isso é bom para os brasilóides que falam que aqui não existe racismo e que brasileiro é um povo amável e que sempre recebe bem os estrangeiros. Recebe bem sim, com assaltos, arrastões e afins...agora, qto as olimpíadas, o BraZil cumpre o seu papel: de passar vergonha e sair chorando. Parabéns, Brasil il il
Abraço
http://falandoprasparedes.blogspot.com

Guilherme Amado disse...

Nossa, quanto ódio no coração, Alexandre! rsrs Aqui, com toda a violência urbana, temos todas as liberdades civis que eles nem sonham ter. Lá, um post como o meu seria impensável, até porque a internet é censurada.

Abs e obrigado pela visita