11.11.08

Cada época tem a TV que merece

Timaço na TV Globo: Sérgio Cardoso em cena de O médico e o monstro, adaptação feita por Domingos de Oliveira do romance homônimo de Roberto L. Stevenson, com direção de Ziembinski

Escrever ontem sobre o Grande Teatro Tupi me fez lembrar de outro exemplo que mostrou o vigor da nossa teledramaturgia e também a importância dos anos 70 para a consolidação de um alto padrão de qualidade. Em 1971, a infante TV Globo tentou reeditar o sucesso da TV Tupi lançando o Caso Especial, um programa que trazia, em dias e horários diversos, episódios de duração média de uma hora e com formato fortemente influenciado pela proposta da Tupi. Ficou 28 anos no ar e, em 172 montagens, produziu dramaturgos brasileiros e estrangeiros, além de histórias originais. A direção dos episódios, até 1978, era estelar: Paulo José, Ziembinski e Domingos Oliveira. Entre os bambas encenados, houve Shakespere, Dostoiévski, Tchekhov, Vianinha, Plínio Marcos, Clarice Lispector e até o diretor de cinema Akyra Kurosawa.

Em 1979, optou-se por radicalizar ainda mais a proposta de teatro na TV, transformando-o num teleteatro. Nessa fase, ele passou a ser apresentado dentro do programa Aplauso, sob coordenação de Paulo José. A partir de 1980, os episódios foram ficando escassos, mas não menos ousados nas escolhas. Estrangeiros como Shakespeare foram encenados novamente - Otelo foi adaptado em 1983 por Aguinaldo Silva, com o previsível abrasileiramento do personagem, que passou a se chamar Otelo de Oliveira. Mas foram os autores nacionais a principal escolha nos anos 80 e 90: Jorge Amado, Rubem Fonseca, João Ubaldo, João Cabral de Melo Neto, Machado de Assis, dirigidos por diretores de TV e de cinema (Guel Arraes, Roberto Talma, Roberto Farias).

O suspiro final foi em 1995, com A farsa da boa preguiça, adaptado da peça homônima de Ariano Suassuna. Por falar em preguiça, dói pensar que tínhamos uma TV mais ousada e menos submissa aos devaneios bigbrotherianos, e, conseqüentemente, melhor.

A tempo: as duas minisséries em produção pela Globo deverão dar um sopro de qualidade à atual grade da emissora, insossa até dizer chega. A primeira é Maysa, contando a vida cantora, sob a direção de seu filho, Jayme Monjardim, e a outra é Capitu, dirigida pelo mágico Luiz Fernando Carvalho, um dos diretores que mais criativamente trabalha a linguagem televisiva, alçando-a a patamares que quase anulam os perniciosos efeitos do Big Brother e escatologias do tipo.

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