25.11.08

O Rio vai à praia

Como eram hábitos, moda, vedetes, acessórios e outras bossas nas praias do Rio em 1958

Banhistas em 1958, nas areias de Copacabana

Um dia, 2008 poderá ser tema de livros, teses, filmes, debates e efemérides mundo afora. Obama, os atletas chineses, a discutida derrocada capitalista, as Isabelas e Eloás, ou simplesmente a acachapante popularidade do Lula: tudo poderá ser lembrado para transformar nossos queridos doze meses num ano-fetiche. Quem duvida deveria ter lido mais jornal, assistido mais à TV, navegado mais pelo ciberespaço nos últimos tempos, pois foi exatamente isso que ao longo de 2008 foi feito. Agitação política e cultural de 1968, chegada da família real, morte de Machado de Assis, publicação de Grande Sertões: Veredas. Sobrou comemoração, como se as tragédias diuturnas já não se bastassem. Empolgado pelo efeméride-way-of-life, que tal criar mais uma e, influenciado pelo calor que pouco a pouco se instala nos termômetros da cidade, pensar como o carioca ia à praia 50 anos atrás, no verão de 1958? O que era moda, o que levava, quem ia à praia? Aliás, o que era “a praia” naquela época?

Praia era sinônimo de Copacabana, Ipanema e, no máximo, Leblon. São Conrado, Barra, Recreio e outras eram tão ficção científica quanto o badalado Eu, robô, de Isaac Asimov, lançado pouco antes. Vedete de poetas, cronistas, letristas e especuladores imobiliários, Copacabana perdia, pelo menos literariamente, o posto de Princesinha, pois foi exatamente em 1958 que Rubem Braga sentenciou sua morte em Ai de ti, Copacabana: “Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera do teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas”. Sem lembrar de avisar aos milhares de banhistas que lotavam a praia sobre o falecimento do bairro, Rubem deve ter se impressionado com a quantidade de coisa que aconteceu nas então estreitas faixas de areia do bairro.

A primeira delas foi a popularização do biquíni, ou melhor, do duas-peças, forma como a invenção francesa era chamada. Segundo a consultora de moda Helen Pomposelli, professora de História da Moda da Universidade Estácio de Sá, a moda praia, apesar de sempre ter sido vista como o patinho feito das passarelas brasileiras, não teve dificuldade para lançar estilos genuinamente nacionais ao longo da segunda metade do século XX, movimento iniciado a partir dos anos 50. Não por acaso, foi justamente nessa época o auge de um processo iniciado alguns verões antes, quando as diferentes cidades marítimas do país voltaram os olhos para suas orlas e seus moradores se tornaram banhistas inveterados, deixando de lado o preconceito que a elite tinha com o banho de mar.

“Só mais para o final da década, à medida que se aproximava dos anos 60, o biquíni começou a conquistar sua praia”, explica Helen, lembrando que naquela época a parte de cima parecia mais um grande top, enquanto a parte de baixo era um grande calçolão, maldosamente batizado, devido ao tamanho, de pára-quedas. Havia modelos que começavam acima do umbigo e ia até o início das coxas, mas até esses rendiam às mulheres pitorescos elogios: umas eram uma uva, outras eram um estouro e as de corpo perfeito – que, na época, significava cintura fina e seios grandes, no melhor estilo americano – eram batizadas de certinhas.

Nélia Paula, a primeira certinha a ir de biquíni à Copa
O duas-peças deve muito de sua popularização na época a vedetes como Nélia Paula, que foi a primeira de suas colegas a aparecer em frente ao Copacabana Palace de biquíni, feito que passou a ser repetido quase diariamente pelas aspirantes ao cargo, como Carmen Verônica e Íris Bruzzi. Ambas pertenciam ao disputado time das Certinhas do Lalau, o concurso de beleza promovido por Stanislaw Ponte Preta, heterônimo do cronista Sérgio Porto. Em 1958, Sérgio já estava no sexto ano da escolha das certinhas, cuja lista era publicada sempre no final do ano nas páginas do Última Hora e da revista O Cruzeiro.

Continua amanhã

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