Fotógrafo há 45 anos do Jornal do Brasil, Evandro Teixeira conta histórias sobre 1968 e a fotografia
Reclamando de quase duas horas de reunião para decidir a primeira página do Jornal do Brasil do dia seguinte. É assim que Evandro Teixeira, fotógrafo há 45 anos do JB, começa a entrevista em que contará histórias sobre 1968 e sua experiência como fotógrafo da cena política brasileira da época. Engana-se quem pensa que a queixa sobre a duração da reunião se deve à saturação com os cinqüenta anos de profissão. Desde que começou no extinto Diário da Noite, Evandro continua indo diariamente à redação do jornal, participando ativamente do dia-a-dia da cidade e da política nacional. Considerado um dos melhores fotógrafos do mundo, Evandro lançou semana passada o livro 68 destinos, em que, a partir de uma foto tirada na Passeata dos Cem Mil, com centenas de pessoas segurando a imensa faixa “Abaixo a ditadura”, reconta a trajetória nesses 40 anos de 68 rostos escolhidos na multidão. Mas uma das vidas mais interessantes daquele momento histórico ficou de fora do livro. Estava do outro lado da Laica que tirou a foto.
Sempre interessado por profissões ligadas a arte, Evandro flertou com a escultura, a aviação e o cinema. Chegou até a construir uma caixa de papelão com luzes, em que passava rolos de cinema, quadro a quadro, imitando um projetor cinematográfico. A decisão pela fotografia veio depois do encanto com a revista O Cruzeiroe as belas imagens feitas por José Medeiros, fotógrafo que mais influenciou o estilo às vezes triste, mas sempre realista e preciso de Evandro. A tristeza de sua fotografia, ele acredita que seja um traço intrínseco à história brasileira e não apenas de seu trabalho. “Apesar de sermos donos de um país riquíssimo, o povo brasileiro é triste e isso influencia minhas fotografias”, explica. Lamentando não ter o mesmo pique, ele garante que seu idealismo está intacto e é até mais forte do que era 40 anos atrás. “Jamais serei uma pessoa sem idealismo. Tenho cada vez mais idéias, mais vontade de fazer”.
Tomada do Forte de Copacabana - Golpe de 1964 - foto retirada de www.evandroteixeira.net
Para ele, fotografia é experiência, é o olhar especial e também é sorte. “Mas a determinação de aproveitar as brechas que aparecem são fundamentais”, explica. Foi ao aproveitar uma das brechas dadas de bandeja pela sorte que Evandro fez uma de suas mais admiradas fotos. Amigo de um capitão do Exército, com quem jogava vôlei, Evandro foi o único fotógrafo a conseguir furar o cerco militar e entrar no Forte de Copacabana, há exatamente 44 anos, no dia 1º de abril de 1964. Acompanhado de outro amigo do vôlei da praia, foi o autor da mais profética imagem sobre o que seriam os 21 anos seguintes. Sob forte chuva, com faróis de tanques ao fundo, Evandro captou as silhuetas dos soldados, soturnos e sombrios, no momento exato da quartelada.
Era apenas o primeiro de uma série de momentos históricos captados por Evandro. As manifestações estudantis e civis de 1968, o velório e a missa do estudante Edson Luís, a Passeata dos Cem Mil, a repressão às manifestações populares, tudo foi retratado pelas hábeis e rápidas lentes de Evandro. Sabia que estava vivendo um momento histórico e aquela era, segundo ele, a forma que tinha de combater as arbitrariedades da ditadura. “Era uma mistura de sentimentos: coragem, ansiedade, medo, vontade”, lembra. Por ser uma linguagem menos familiar aos censores, Evandro acredita que o fotojornalismo conseguiu driblar a censura com mais facilidade que o texto jornalístico. “Na hora de passar pelos censores, fazíamos uma revelação escura ou até esculhambávamos os estudantes, para ganhar a simpatia e conseguir publicar as fotos”, conta. Mas isso não impedia que vez ou outra ele tivesse que se esconder em Petrópolis ou Pedro do Rio, em férias forçadas.
Respondendo de antemão à pergunta que Zuenir Ventura fez para personalidades brasileiras que viveram 1968, respondidas na coleção de livros que lançará ainda este ano, 1968 terminou?, Evandro diz que o ano e seus acontecimentos não terminaram e nunca terminarão. “É como Canudos, que, 110 anos depois, não foi e nem será esquecido”. Para exemplificar a afirmação, ele cita o livro do ex-governador de São Paulo durante a ditadura, Paulo Egydio, lançado há duas semanas, primeira confissão pública feita por um membro da ditadura de que a repressão e a tortura eram uma política de Estado. Desculpando-se pelo linguajar, ele conclui, entusiasmado: “Isso vai dar muita merda”.
4.4.08
“Meu idealismo está intacto”
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2 comentários:
I wish not agree on it. I regard as polite post. Expressly the title-deed attracted me to review the unscathed story.
Good post and this enter helped me alot in my college assignement. Thanks you as your information.
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