22.4.08

Un pueblo, una nación

Não é só o Brasil que tem uma importante efeméride de 200 anos para comemorar. Assim como nós fomos afetados pelas guerras napoleônicas, com a fuga da famílía real portuguesa, os espanhóis tiveram no ano de 1808, mais especificamente no dia 2 de maio, um marco importante na guerra do país contra a ocupação das tropas de Napoleão. Para relembrar a data, começa dia 26 de abril, próximo sábado, na capital espanhola, a exposição Madrid 2 de mayo 1808-2008. Un pueblo, una nación, sobre os acontecimentos dos dias 2 e 3 de maio de 1808. Organizado pelo braço cultural da empresa gestora das águas de Madri, Canal de Isabel II, o projeto foi supervisionado pelo escritor e acadêmico Arturo Pérez-Reverte e conta com um cenário que permite ao visitante mergulhar na atmosfera dos acontecimentos, além de recursos audiovisuais e várias peças históricas, como armas, uniformes e outros objetos da época.

O rosto frio da morte não é mostrado no quadro de Goya

Há 200 anos, o povo de Madri rebelou-se e, mesmo sem rei ou comando que o dirigisse, lutou contra os franceses. O evento é considerado o primeiro fato histórico que mostrou aos espanhóis que existia entre eles uma identidade, uma nação pela qual valia à pena lutar. O levante espontâneo dessa Madri popular custou um preço muito alto, pago com o sangue das classes mais pobres. A repressão francesa, muito mais bem equipada que o povo espanhol (era uma rebelião do povo e não do Estado espanhol), foi massacrante. Cerca de mil espanhóis foiram degolados e fuzilados. O general francês que comandava a ocupação em Madri, Joachin Murat, determinou que todos os encontrados em vias públicas portando armas fossem fuzilados. Goya eternizou os fuzilamentos em um de seus mais famosos quadros, um ícone da tradição pictórica espanhola, hoje no Museu do Prado: Os fuzilamentos de Três de Maio, pintado em 1814.

Organizada em sete ambientes, a exposição contará os antecedentes do conflito, como foi sua eclosão, a ofensiva realizada pelo exército francês, a guerrilha urbana que tomou a cidade, a paisagem posterior à batalha e um balanço final das conseqüências do conflito, incluindo uma lista das pessoas que morreram no levante. A principal conseqüência foi, sem dúvida, o início da chamada Guerra de Independência Espanhola. Revoltados com o massacre em Madri, espanhóis de todo o país passaram a se rebelar contra a ocupação francesa, dando início a um enfrentamento que só terminaria em 1814, quando os franceses finalmente deixariam a Espanha e Portugal. A Península Ibérica estava, após um tumultuado começo de século, livre.

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