28.4.08

O Rockfeller do audiovisual brasileiro

Roteirista de sucessos do cinema nacional e da televisão, José Carvalho defende um novo modelo de negócios para o mercado audiovisual


O Primeiro Dia, escrito com Walter Salles e Daniela Thomas

A greve de roteiristas em Hollywood, iniciada no final de 2007 e terminada apenas este ano, levantou uma discussão sobre o mercado audiovisual brasileiro. Será que nossos roteiristas têm poder suficiente para entrar em greve e reivindicar, como no caso americano, o pagamento de royalties pela venda de séries de televisão em DVD? De acordo com o roteirista José Carvalho, não. O baiano, residente no Rio, e roteirista de séries como Carga pesada e filmes como O Primeiro Dia, dirigido por Walter Salles, faz parte de uma nova geração de profissionais do audiovisual extremamente preocupada em constituir mercado, ou seja, em fazer a indústria do audiovisual crescer e se formar, nos moldes da maior de todas, a americana.

De acordo com o roteirista, que também possui uma empresa especializada em roteiros, a centralização do mercado audiovisual entorno de apenas uma empresa - as Organizações Globo - trouxe para o Brasil benefícios muito grandes, como a qualidade técnica, especialmente na televisão. Mas trouxe problemas também. “O modelo de oligopólio impede que cresçamos”, explica. Não falta exemplo para comprovar as idéias de Carvalho. O despretensioso Pequena Miss Sunshine, fruto de uma produção independente, foi o grande sucesso internacional da safra de 2007 dos filmes americanos. Por aqui, segundo ele, isso seria impensável, já que existem uma série de entraves decorrentes do modelo de oligopólio dominante. No caso do cinema, por exemplo, a distribuição é reconhecidamente precária, os profissionais são mal remunerados e o público não possui hábito de assistir cinema nacional. Mas Carvalho acredita que, tudo isso, tem solução.

O choque de capitalismo

- Precisamos de projetos que ajudem o Brasil a constituir mercado – defende. A solução, acredita ele, é romper com a tendência que impede a realização de projetos de pessoas que não têm contatos em grandes empresas do governo ou em multinacionais. “Nosso capitalismo ainda é colonial. Só lucra quem é amigo do rei.”, explica. Há menos de um ano de volta ao Brasil, após uma produtiva temporada estudando o mercado norte-americano, Carvalho acredita que nossas multinacionais precisam entender que o mundo inteiro admira a cultura latino-americana e que é muito interessante durante essa internacionalização que elas se associem a essa cultura, que pode dar cara a uma marca. Novamente, ele cita um exemplo, dessa vez espanhol, em que o patrocínio de empresas privadas a partir da década de 1980 projetou uma outra Espanha para o mundo, muito mais moderna, democrática, e com uma cultura riquíssima. “Um dos maiores cineastas atuais, Pedro Almodóvar, só é possível por causa disso.” – explica.

O atual projeto do roteirista é orientado nesse sentido. Ele criará, em uma parceria com a PUC-Rio, um pólo de desenvolvimento de roteiros a partir de obras da literatura latino-americana, para ser patrocinado e produzido por empresas privadas brasileiras. Grande apaixonado pela cultura nacional, ele acredita que é possível, através dela, impulsionar nosso capitalismo. “Eu, como roteirista e empresário que também sou, preciso usar dos meios disponíveis para ajudar esse mercado a nascer.” – completa.

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