20.7.08

Relíquias: filmes fortes, músicas fortes

Uma música que ouvi essa semana me fez lembrar de um filme que havia assistido há anos. Juntos, os dois me deram a idéia deste post, sobre filmes e músicas que são fortes não pela forma que se expressam, e nem só pelo seu conteúdo, mas pela mistura dos dois. Existem vários exemplos na literatura, na música e no cinema para ilustrar o que estou falando, mas quero escrever sobre esses dois pelas críticas de caráter humano que fazem.

Falo aqui da música Cotidiano de um casal feliz, do cantor Jay Vaquer, que apesar do nome de gringo, é carioca. A letra, em seu verso mais pesado, fala: Ele deixa a esposa em casa pra brincar no treco de qualquer traveco. Mais para frente: Ele guarda no HD fotos de crianças nua pra tirar um lazer. E, depois, não menos chocante: Ela conta os passos entre a terapia e a boca de pó. Forte mesmo.



O filme é Senhor das Moscas, adaptação do livro homônimo de William Golding, Prêmio Nobel de 1983. Foi o primeiro livro de Golding, escrito em 1954, menos de dez anos após o fim da Segunda Guerra. Embora não tenha sido um grande sucesso à época – vendendo menos de 3000 cópias nos Estados Unidos em 1955 antes de sair de catálogo – com o tempo, o livro tornou-se um grande sucesso, e leitura obrigatória em muitas escolas e colégios. Foi adaptado para o cinema em 1963 por Peter Brook, e novamente em 1990, por Harry Hook, única versão a que assisti e de que falo aqui.

O livro retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra. E coloca selvageria nisso. A cena que selecionei para o nosso Relíquias, que você pode conferir aí embaixo, é só um exemplo.


Obs.: Esqueçam os títulos do vídeo ("ética" e "choque organizacional"), pois, por mais absurdo que pareça, quem postou esse vídeo no Youtube o usou para ensinar princípios de cultura organizacional

Um dos principais temas do livro/filme é a natureza do mal. Isto pode ser claramente visto na conversa que um dos meninos mantem com o crânio de um porco, que refere-se a si mesmo como “O Senhor das Moscas” (segundo pesquisei, uma tradução literal do nome hebraico de Ba'alzevuv, ou Beelzebub em grego). O nome, enquanto se refere aos enxames de moscas sobre si, claramente refere-se ao personagem bíblico. Ou seja: o paraíso que é a ilha quando da chegada dos garotos, tornou-se, pela regressão deles ao estado selvagem, na terra do diabo.

Sem mais, só vale a recomendação: prepare o estômago para assistir ao filme.

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