15.9.08

Imagem e palavra para contar histórias

O gaúcho Flávio Damm rivaliza com Evandro Teixeira na disputa pelo trono de maior fotojornalista brasileiro, apesar dos dois possuírem estilos diferentes de fotografar. Enquantro Evandro possui um rico acervo de fotos políticas, que poderiam ser consideradas mais jornalísticas, pela ousadia de ângulos e diferentes conotações que consegue criar, Flávio é dono de um conjunto de imagens que prima pela beleza da composição e a sensibilidade do conteúdo, o que poderia enquadrá-lo em um rol de fotojornalistas com veia mais artística.

Mas como este blog não acredita na separação estanque entre essas esferas, nem na suposta superioridade de uma em relação à outra, é preferível parar com a ladainha e dizer que, assim com Evandro, Flávio também lançou este ano mais um livro de fotos. Mas não apenas delas se fazem as belas imagens de seu livro. Preto no Branco – Fotos & Fatos (Editora Photos, R$65) mistura textos e fotos, duas formas diferentes de contar histórias e criar imagens.

Em 2002, na Praça Camões em Portugal, Flávio ficou 40 minutos esperando algo de curioso acontecer em frente à parede pintada. Eis que a sorte lhe presenteou


E se ele já havia mostrado a maestria com que contava histórias por meio da fotografia, em Preto no Branco ele mostra que também é fera no texto. Na verdade, ele narra fatos por trás das fotos que tirou e que outros grandes fotógrafos tiraram. Uma das mais saborosas é sobre Nair de Teffé, viúva do ex-presidente Hermes da Fonseca e primeira caricaturista da imprensa brasileira. Ela assinava sob o pseudônimo masculino de Rian, anagrama de seu nome, e atendia a pedidos do marido para avacalhar seus opositores, entre eles Rui Barbosa, por meio de suas charges. Quando Flávio a localizou, décadas depois dos tempos de Glória como primeira-dama, morava em Niterói e estava sendo processada pela Receita Federal. Sempre usando a caricatura como arma, vingou-se fazendo caricaturas do então ministro da Fazenda Delfim Netto.

Outra boa história contada é o caso do deputado Barreto Pinto, que se deixou fotografar por Jean Mazon apenas de fraque e cueca para as páginas de O Cruzeiro. O resultado foi o recorde na venda de jornal e a cassação por quebra de decoro parlamentar, num tempo em que o parlamento ainda tinha envergadura para criticar a falta de modos de seus pares.

Mas é no final do livro que estão as relíquias de Preto no Branco. As mais importantes fotos de Flávio, tiradas desde que, literalmente por acidente, tornou-se fotógrafo. Era uma partida de Grêmio e Internacional, e ele, que não entende bulhufas de futebol, lá estava quando viu desaparecer frente aos seus olhos uma arquibancada inteira. As fotos do desabamento da arquibancada e das vítimas foram parar na capa da Folha da Tarde e da extinta Revista do Globo, de Porto Alegre.

Tirada na aldeia espanhola Pedrazza de la Sierra, que tem 140 habitantes


Depois do prodigioso começo, passou 15 anos em O Cruzeiro, grande escola de fotojornalismo para sua geração. Até que decidiu abdicar da estabilidade e se tornar free-lancer, criando a Agência Jornalística Imagem, onde conseguiu reunir um acervo que já rendeu a publicação de 12 livros, entre os quais Brasil futebol rei (1965), Ilustrações do Rio (1970) e Um Cândido pintor Portinari (1971).

Sempre fotógrafo, Flávio também assina uma coluna para a revista Photo Magazine e para o Portal Photos. O site da Associação Brasileira de Imprensa possui uma seleção de suas fotos, de onde tirei as duas maravilhas que ilustram essa matéria.

2 comentários:

Anônimo disse...

Às vezes acho que o Damm resvala na pieguice, Guilherme, como nessa foto da criança com a bengala.

Anônimo disse...

Poxa, por que um livro tão caro????