22.5.08

De cada 100 brasileiros, 8 são clientes da Casas Bahia

A pergunta repetida milhares de vezes por um dos garotos propaganda mais chatos da história da televisão brasileira resumia a filosofia de negócios de seu patrão, o empresário Samuel Klein, dono da Casas Bahia. A empresa consolidou sua imagem como o lugar onde sempre é possível comprar, independente da sua condição social e de quanto pode pagar por mês. Esse diferencial do parcelamento permitiu que Klein construísse um império de lojas. Mas antes de construir a maior rede de varejo brasileira, Klein já tinha uma senhora história de vida. Judeu polonês, sobrevivente da Segunda Guerra, ele não é só mais um exemplo de imigrante-que-enriqueceu-na-aventura-pela-América. Sua vida é uma aula sobre a habilidade de negociar e, acima de tudo, de empreender. Esse verbo, aliás, pautou os 80 anos de Samuel Klein, cuja terceira edição da biografia, revista e atualizada, saiu no final do ano passado e está à altura da história de seu protagonista.

Samuel Klein e Casas Bahia – Uma trajetória de sucesso (R$39,90 – Editora Novo Século, 248 pgs.) foi encomendado ao jornalista Elias Awad pelo próprio empresário. A biografia é interessante por vários motivos. Vamos a eles. Como protagonista, Klein é um personagem interessante por si só. As transações comerciais que lidera são extremamente curiosas pelas soluções que ele engendra para conseguir lucrar com todas elas.

Fora isso, mesmo que tirássemos da história de sua vida a excepcional ascensão social que vivenciou ao emigrar para o Brasil, ela já mereceria um livro. Klein teve uma infância pobre na Polônia, sendo rejeitado, humilhado e até agredido fisicamente por ser judeu. Antes da guerra, as ameaças eram tantas que foi obrigado a largar a escola e começar a trabalhar com o pai na marcenaria da família. Desde então, o garoto se tornou um apaixonado pelo trabalho, característica imprescindível para que construísse em 50 anos de Brasil uma empresa do tamanho da Casas Bahia. Percebendo a competência do garoto em lidar com dinheiro, o pai dava cada vez mais atribuições a Samuel. Comprava bezerros, vendia frutas e até media defuntos para que a marcenaria fizesse caixões sob medida.

As humilhações e a opressão contra os judeus continuaram com o início da Segunda Guerra. Por sempre se assumir como uma família judia, os Klein eram cada vez mais agredidos. Em 1942, com a cidade onde moravam já ocupada pelos nazistas, Samuel foi separado da mãe e das irmãs. Enviados para o campo de concentração de Budzin, ele e o pai trabalharam durante dois anos para os alemães, até que, em 1944, Samuel conseguiu escapar durante uma transferência para outro campo. O livro conta em detalhes o que passou nos campos em que viveu e como conseguiu escapar do destino que a maioria de seus semelhantes teve. Para saber os detalhes, leiam o livro, pois não seria essa resenha que estragaria o prazer da leitura.

A contextualização da vida de Klein com os momentos históricos e econômicos por que passava a Europa e o mundo é outro ponto alto do livro. Ao fazer essa relação, o livro permite que entendamos como o empresário aproveitou, como ninguém, as oportunidades surgidas em meio às crises. Por mais que essa idéia pareça um clichê que já cansou de tão repetido, é perfeita para Klein. Após a redemocratização, a cada plano econômico que ameaçava a já instável economia do país, a Casas Bahia crescia, crescia, crescia. E foi com o último e mais bem sucedido plano econômico dos anos 1990, o Real, e o estrondoso aumento do poder aquisitivo das classes C e D, que a empresa teve seu maior crescimento.

Maior anunciante do país em volume de investimentos, a Casas Bahia tem como política de comunicação ser a primeira no ranking de anunciantes de todas as mídias existentes. Foi o próprio Klein o fundador dessa regra, após parcerias de sucesso com garotos propaganda como Pelé e Gugu Liberato na década de 1980. Atualmente, a rede destina 3% de seu faturamento bruto para a publicidade. Como o faturamento, em 2006, foi de R$ 11,5 bilhões, o investimento publicitário corresponde a míseros trezentos e tantos milhões.

Para satisfazer aos amantes da matemática, reproduzo aqui alguns números que constam do livro. Em 2006, a Casas Bahia totalizava 540 lojas e 52 mil funcionários em nove estados brasileiros, com 26,3 milhões clientes cadastrados, dos quais 15,5 milhões eram ativos. Isso significa que o filho de um marceneiro polonês e sobrevivente do Holocausto é hoje dono de uma rede de lojas que tem como clientes assíduos cerca de 8% da população brasileira.

9 comentários:

Renata Andrade Chamilet disse...

Histórias de sucesso são sempre inspiradoras.
Blog cheio de conteúdo! Bacana demais!

danii disse...

puxa.. que historia!
eu nao conhecia , nem a historia e nem o livro, mas com certeza vou fazer o possivel para ler! historias de sucesso realmente são ótimas para nos impulsionar a alcançar objetivos!!!
e quanto ao francês ...obrigada pelo elogio , afinal nunca fuia uma escola de francês , estudo sozinha !
je vous remercie de commentaire, toujours espérons que votre visite! baisers

Parmitaum disse...

De fato a vida deste sobrevivente só poderia terminar num livro. Realmente é uma licao de vida para todos. Neste livro nao consta nada sobre o que ocorreu com a familia dele???
O interessante é que apesar de dificuldade sofridas por ele, o sorriso continua... =)


mt bom o post...


abraco

Guilherme Amado disse...

Bom, eu não deveria, mas vamos lá: o livro conta que ele depois reencontra quase toda a família. Alguns morrem, mas grande parte é reencontrada.

E sobre o sorriso no rosto, é claro que ele tem que ter. Ele é bilionário...

Uriel Gonçalves disse...

eu não conhecia a história dele e tbm nao me interesso, mas para algumas pessoas é muuito interessante a maneira que ele chegou ao poder.

Mas a história é fazer tudo para subir na vida xD

me lembra um pouco a história do Silvio Santos, com algumas modificações ;)

Wander Veroni Maia disse...

Oi, Guilherme!

A história desse cara é fantástica mesmo...um grande empreendedor que reconhece a comunicação como uma das ferramentas de sucesso para uma empresa. Isso deveria ser obrigatória nos dias de hj, não é mesmo!?! A história desse cara é uma dica para quem quer ser um empreendedor de sucesso!

Quero lhe convidar para conhecer o meu blog, o Café com Notícias. Depois passa lá!

Abcs,

=]
______________________
http://cafecomnoticias.blogspot.com

Carla M. disse...

ainda bem que eu não faço parte dos 8%. sempre acho estranho lucro excessivo.

Stanley Marques disse...

Interessante história. Conseguiu vencer, através de sua determinação em relação às adversidades, como você mesmo fala no texto. Um dos casos raros, tão divulgados pelo sistema vigente. Cara de sorte e de determinação. E como. Ótimo blog.

www.antologiaracional.com

Unknown disse...

eu já havia lido e ouvido algumas histórias dele embora não com tantos detalhes e me interessei em ler o livro.

Até onde sei, seu lema é trabalho, trabalho e trabalho.

Pesquisando outro dia sobre os mais ricos do país constatei que a grande maioria são Judeus.

Será que por passarem tantas dificuldades e humilhações aprenderam a aproveitar cada oportunidade com tanta dedicação?

http://coerenciacontraditoria.blogspot.com