27.9.09

Documentários no FestRio desvendam as várias facetas da crise econômica mundial*

Se o cinema não voltou as costas para a crise financeira, não seria a programação do Festival do Rio que o faria. Cinco documentários que estrearam a partir desta sexta-feira mostram diversas facetas do sistema que gerou a maior catástrofe econômica desde 1929. Sérios, divertidos, intelectualizados: há docs sobre a crise para todos os gostos.

O mais engraçado deles é "Os yes men consertam o mundo" (cartaz ao lado), com as performances satíricas de Andy Bichlbaum e Mike Bonanno, dois atores ativistas conhecidos como os "Yes men". A dupla ficou famosa por se fazer passar por empresários poderosos e criar situações ridicularizantes.

Em 2008, por exemplo, distribuíram em Nova York um milhão de exemplares falsos do New York Times, com a manchete "Guerra do Iraque termina". No filme, presente na mostra Midnight Movies, eles mergulham fundo, de forma hilária, no debate sobre por que a sociedade delegou ao mercado a força para determinar os destinos do mundo. O filme recebeu o prêmio de público no Festival de Berlim.

O segundo da lista é o badalado "American casino", que será exibido na mostra Dox e mostra por que pessoas comuns foram as mais prejudicadas com a crise. Focando em um professor de colégio, um terapeuta e um pastor, o filme faz uma metáfora com a situação americana e a de um cassino. Os enganados seriam as fichas de aposta e os jogadores, as poderosas firmas de investimento. Com um olhar de jornalista investigativa, a diretora Leslie Cockburn e seu marido, Andrew Cockburn, parceiros também no projeto, intercalam imagens de vizinhanças inteiras sendo despejadas com incômodas confissões do outro lado da banca, como a do ex-presidente do Federal Reserve Alan Greespan.

Além de ótimas críticas nos Estados Unidos, o documentário também recebeu o aval de quem conhece a fundo o assunto:

"'American Casino' é um forte e chocante olhar para o escândalo dos empréstimos subprime. Se você quer entender como o sistema financeiro americano falhou e como as companhias de hipoteca roubaram os pobres, veja esse filme", recomendou o vencedor do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz.

Mais teórico, o documentáro "O cerco neoliberal", em cartaz na mostra Dox, convida intelectuais como Noam Chomsky e Ignacio Romanet para discutir como os dogmas do neoliberalismo são fruto de uma intensa propaganda ideológica. Privatização, redução do papel do Estado, desregulamentação do mercado e outros conceitos defendidos por neoliberais são destrinchados pelo grupo, que defende a tese de que o "livre mercado" só serve para pôr a economia nas mãos da classe financeira.

Outro documentário de tese sobre a crise é "A doutrina de choque", adaptação do livro homônimo da ativista canadense Naomi Klein que faz parte da mostra Panorama do cinema mundial. Autora de outra obra queridinha dos movimentos antiglobalização, "Sem logo - a tirania das marcas em um planeta vendido", Naomi explica nesse trabalho o que entende como capitalismo-catástrofe, uma doutrina que demonstraria como governos e grandes empresas exploram a economia de países afetados por guerras ou desastres naturais. Para comprovar a teoria, Klein recorre no filme a materiais de arquivo e a entrevistas. O diretor é o prolífico Michael Winterbottom, de "Caminho para Guantánamo" e diversos outros títulos.

Mais uma pancada no capitalismo desenfreado vem pelas lentes do austríaco Erwin Wagenhofer, diretor de "Vamos ganhar dinheiro" (cena ao lado), que integra a novíssima mostra Meio ambiente. O documentário mostra como se dá a exploração de países subdesenvolvidos no mercado financeiro global, que corrompe o sistema financeiro. Outro ponto de vista do filme é o de que o

neoliberalismo contribui para a manipulação política do livre comércio e do livre mercado, transferindo o controle da economia das mãos dos governos para investidores privados. Campos de algodão que se tornam desertos na África, fome na Ásia, América do Sul e África, o boom imobiliário na Espanha: o filme defende que o fluxo monetário global e a desregulamentação financeira criaram uma ameaça aos países em desenvolvimento.

AMERICAN CASINO: SEX (25/9) 22h15 Estação Barra Point 2. SÁB (26/9) 20h Cine Glória. TER (29/9) 15h30 Espaço de Cinema 3. TER (29/9) 23h45 Espaço de Cinema 3. QUA (30/9) 13h10 Estação Vivo Gávea 5. QUA (30/9) 19h40 Estação Vivo Gávea 5. QUA (07/10) 14h30 Centro Cultural Justiça Federal.

O CERCO NEOLIBERAL: TER (06/10) 15h Instituto Moreira Salles. QUI (08/10) 19h Centro Cultural Justiça Federal.

A DOUTRINA DE CHOQUE: SEG (05/10) 14h Estação Botafogo 1. SEG (05/10) 20h Estação Botafogo 1. TER (06/10) 22h30 Estação Barra Point 2. QUA (07/10) 15h45 Estação Ipanema 2. QUA (07/10) 20h15 Estação Ipanema 2.

VAMOS GANHAR DINHEIRO: SEG (05/10) 15h45 Espaço de Cinema 3. SEG (05/10) 23h59 Espaço de Cinema 3. SEG (05/10) 15h45 Espaço de Cinema 3. QUA (07/10) 18h10 Estação Vivo Gávea 1. QUA (07/10) 22h30 Estação Vivo Gávea 1. QUI (08/10) 14h Estação Barra Point 1.

THE YES MEN CONSERTAM O MUNDO: SEX (25/09) 17h Espaço de Cinema 2. SEX (25/09) 23h45 Espaço de Cinema 2. SÁB (26/09) 17h50 Estação Vivo Gávea 5. DOM (27/09) 16h15 Cine Glória. DOM (27/09) 20h Cine Glória. SEG (28/09) 22h30 Estação Barra Point 2.


* Matéria publicada originalmente no site do Globo.

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