30.4.08

Qual é o futuro do jornal impresso ?

A pergunta martela na cabeça não só de jornalistas, mas também das várias gerações que desenvolveram o hábito de se informar por meio das grandes e sujas páginas dos jornais diários, como Folha de S. Paulo, O Globo, Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. Durante décadas, celeiros dos grandes talentos do jornalismo nacional, os jornalões partiram para o contra-ataque na concorrência dos meios eletrônicos, especialmente a internet.

Respondendo à crescente ameaça, grandes empresas de comunicação apostam na convergência de mídia para reduzir custos, ou seja, uma mesma matéria passa a ser produzida em texto (jornais impressos e sites), áudio (podcasts, rádios) e vídeo (TVs, vídeos on-line, celulares). Exemplo dessa tendência é a reestruturação em curso no Infoglobo, braço das Organizações Globo responsável pelos impressos O Globo, Extra, Expresso, Diário de S. Paulo e pelo portal Globo Online. Ainda este ano, especula-se que a empresa reunirá em uma só redação as equipes dos três diários cariocas e do portal Globo Online, diminuindo o número de funcionários e aproveitando para diferentes meios a mesma matéria apurada. Tudo isso para tentar competir com a força avassaladora dos meios eletrônicos entre as novas gerações, principalmente as que já cresceram familiarizadas com a internet.

Mas se a rede parece ter o poder de ameaça que a TV e o rádio não tiveram, por que a circulação dos jornais brasileiros só tem aumentado nos últimos anos? E o futuro, que destino reserva para eles? Os jornais gratuitos não seriam capazes de concorrer em pé de igualdade com os sites e blogs? Para responder a tantas perguntas, o Textos etc entrevistou Javier Hernandez, ex-superintendente de circulação de O Dia, um dos principais jornais populares do Rio de Janeiro. Javier participou do lançamento do também popular diário Meia Hora, em setembro de 2005, movimentando o mercado de jornais cariocas ao oferecer às classes C e D um preço de capa de R$ 0,50.


Textos etc: Sempre existirá mercado para o jornal impresso?

Javier: Não se pode afirmar que sempre haverá mercado para o jornal impresso. Mas num horizonte bem amplo, que talvez abranja grande parte deste século, não há indícios de que ele acabará. Certamente ele passará por adaptações profundas de forma e conteúdo, para atender anseios informativos de um público que não pode satisfazer estes mesmos anseios e necessidades em outras mídias, como a internet, por exemplo. Com o tempo, os jornais voltados para segmentos mais preparados intelectualmente não terão outra saída a não ser adotar um jornalismo mais reflexivo, o que é inimaginável na televisão comercial e aberta, por exemplo. Outro dado muito favorável ao jornal impresso pode parecer prosaico à primeira vista, mas é de fisiológica importância: estudos científicos indicam que é muito mais fácil, amigável e confortável (e rápida) a leitura de textos em papel do que numa tela de computador, por mais nítida que ela seja.

Textos etc: Alguns jornais estão apostando na convergência com outras mídias, como a internet e o rádio. Qual sua opinião sobre essa tendência?

Javier: Esta é uma tendência inevitável (porém discutível e arriscada devido aos perigos que traz à qualidade do jornalismo), porque dá às empresas condições de, a partir de uma mesma plataforma de apuração, produzir informações para duas, três ou quatro mídias diferentes do mesmo grupo de comunicação. Ou seja: menos gastos com pessoal, maiores receitas, menos jornalistas empregados com risco de menor qualidade e abrangência no material produzido. Esta tendência não tem nada a ver com a natureza do jornalismo. É apenas uma grande imposição econômica.

Textos etc: Como a distribuição pode inovar para aumentar o mercado dos jornais impressos e torná-los mais acessíveis para as novas gerações?

Javier: O grande desafio da distribuição é o desenvolvimento de uma ferramenta de controle que reduza o total do encalhe dos jornais. Hoje, se um jornal custa um real, tenha certeza de 20 centavos estão no preço final para cobrir o custo do encalhe. Então, reduzir esta perda e maximizar a venda pode resultar, sem dúvida alguma, na redução do preço final de capa de um determinado veículo. Hoje, não há como você controlar o que fazem as bancas. Todo mundo já viu uma banca estar sem jornais e outra, 100 metros a frente, estar apinhada deles. Como são os capatazes (donos de várias bancas) que fazem a distribuição capilarizada, é uma situação que foge à capacidade de gerenciamento das empresas jornalísticas. Dessa forma, o processo de alguma forma deve ser todo passado ao jornal, que indicaria ao capataz a quantidade exata de exemplares que ele deve colocar em cada ponto de venda. Mas para isso, é preciso também investimento em tecnologia.

Textos etc: Na América Latina, ao contrário dos países europeus e dos Estados Unidos, a circulação de jornais tem aumento nos últimos anos em alguns segmentos, como as classes C e D. Esse aumento será duradouro?

Javier: É claro que, com a melhora do ambiente econômico na América Latina, há uma curva de crescimento dos jornais, especialmente os mais populares, aqueles que inserem novos leitores, gente que tinha vontade e necessidade de ler e se informar segundo suas capacidades educacionais, mas que estavam alijados. É um processo que ainda tende a crescer muito, especialmente no Brasil.

Textos etc: Por que poucos jornais gratuitos dão certo do ponto de vista financeiro no Brasil?

Javier: Não é só no Brasil. Na Europa, publicações como o Metro trazem resultados não muito bons do ponto de vista financeiro. Na Espanha, para se ter um exemplo, a circulação dos gratuitos talvez já tenha atingido 50% de market share da circulação total (incluindo os jornais pagos), mas não chega a 10% do bolo publicitário. Jornais gratuitos são, ao contrário dos populares, produzidos de uma forma independente e colheita de informação, impressão e distribuição são coisas custosas. Os populares, não: em geral usam a base de informação do jornal mãe, da mesma forma que se utiliza da mesma distribuição e máquina impressora, etc.

Um comentário:

Anônimo disse...

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