A Igreja, historicamente a maior mestra na arte da comunicação, está inovando. Bento XVI enviará mensagens de celular para jovens australianos durante a as comemorações do Dia Mundial da Juventude, em julho. O evento deve durar seis dias em Sidney, a partir de 15 de julho, e todos os 225 mil jovens que participarem poderão receber textos de inspiração e esperança via SMS.
A novidade tem o propósito de aproximar a Igreja do público jovem, por meio da tecnologia. Além das mensagens SMS, serão colocados telões em diversos lugares para que todos possam acompanhar as cerimônias, além da criação de uma rede social como o Orkut, com o objetivo de congregar todos os jovens.
Mas será que essa é uma inovação capaz de atrair para o rebanho católico ovelhas desgarradas e tão pouco interessadas em se adequar aos preceitos morais do catolicismo? Os quatro pontos mais polêmicos aos quais a Igreja se opõe hoje – casamento homossexual, uso de preservativos, legalização do aborto e uso de células tronco para pesquisas científicas – estão na pauta de reivindicação grande maioria dos jovens mundo afora. A legalização do aborto talvez um pouco menos. Contra todos os quatro, a Igreja possui argumentos teológicos na ponta da língua, todos eles de fundo religioso. É claro que eles devem ser levados em conta, mas sempre pelos indivíduos e não pela sociedade. Sociedade e religião não podem ser misturadas, pois são diferentes em sua própria constituição: uma é física, outra é transcendente. A escolha individual de alguém, essa sim, pode ser influenciada pela motivação religiosa. É o livre arbítrio. Cada um faz as coisas como quiser, orientado pelas razões que quiser. Proibir práticas, no entanto, vai contra as necessidades do mundo contemporâneo.
O uso de camisinha é um exemplo. Que pessoa hoje, adolescente, adulto, ou da cada vez mais moderna terceira idade, pode se dar ao luxo de transar sem camisinha? É uma questão que vai além do argumento da Igreja, de que sexo é só dentro do casamento e, portanto, 100% seguro, levando em conta a fidelidade das duas partes. Ora, doenças sexuais são transmissíveis, todos nós sabemos, por vias não sexuais também. O HPV, que pode causar até câncer de colo de útero nas mulheres, é transmissível por uma simples peça de roupa compartilhada entre amigas. O próprio HIV pode ser contraído por uma simples transfusão de sangue. Um marido fiel e que precisou há dois meses de transfusão de sangue, sem saber que foi contaminado, pode passar o vírus para a mulher, por exemplo.
À pesquisa com células tronco para fins científicos, a Igreja se opõe argumentando que ali já existe vida humana. Não poderiam pensar diferente, pois acreditam que Maria se tornou mãe de Deus logo que a semente de Cristo nela foi implantada pelo Espírito Santo.
Pelo mesmo motivo, o aborto significa transgredir à vida humana. Sobre essas questão, mais uma vez, deve prevalecer a decisão do indivíduo e não uma determinação social. Quem escolhe se a mulher vai ou não fazer o aborto é o casal e não a sociedade. Se a escolha deles será motivada pela religião, é uma decisão deles.
A quarta maior polêmica nesse rápido ranking que improvisei – o casamento homossexual – está ligado à discussão moral, a mesma que suscita o combate ao uso da camisinha. São questões imorais o uso da camisinha e a homossexualidade. Como a moral é incondicionada, transigir em qualquer aspecto seria o mesmo que renunciar a ela como um todo. Para a Igreja, permitir o casamento homossexual não é apenas quebrar uma tradição, mas fazer ruir o próprio edifício lógico sobre o qual a igreja se assenta. Afinal, se o que Deus disse aos homens não precisa valer, a própria existência da Igreja pode ser questionada.
Resta saber se a existência da Igreja não será questionada por esses mesmos jovens a que ela se dirige agora por mensagens de celular. Num mundo cada vez mais dominado pelo materialismo e o individualismo, é claro que existem jovens interessados em conhecer os bonitos preceitos cristãos. Mas poucos deles parecem concordar com a imposição de preceitos religiosos às sociedades. O Estado laico, ao que parece, já é um valor consolidado.
9.5.08
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7 comentários:
Achei o texto bem escrito e concordo com algumas das críticas, porém particularmente penso que esse tipo de crítica atinge o Papa como pessoa, o que não gosto. Mas é só minha oopinião. Sou do tipo q crê piamente e fervorosamente(dogmaticamente,rsrs) que religião não se discute, pq nunca sai coisa construtiva, só guerra e desavenças. Cada um vê como pode.=D
abs
Tania
Como é bom ler um texto bem escrito e com ideias e nao qualquer coisa jogada na internet, parabens.
BOm vamos lar sou ateu e deficiente fisico, acho otima a idea da igreja se modernizar so gostaria de saber quando ela vai se modernizar nessas questões que voce bem citou, como das celulas tronco. Ela tem muita coisa mais seria para mudar, antes de mandar sms e-mails e etc
Tânia, também acho que religião não se discute. É uma coisa íntima e pessoal. Acho errado querer aplicar conceitos religiosos a toda a sociedade.
Acho que o Papa não se sentiria ofendido em debater e argumentar, intenção primeira do texto. Ele pertenceu ao meio acadêmico. Sabe da importância de se fazer isso.
Caio, não defendi em momento nenhum que a Igreja mude de idéia. Acho que ela tem mais é que defender suas crenças. Só discordo quando ela diz que suas regras devem ser impostas às sociedades. É ridícula a campanha que faz contra as pesquisas com células tronco aqui no Brasil, assim como é ridícula a orientação de um padre para o não uso da camisinha.
Quem é católico praticante e queira seguir alguma crença da Igreja, ótimo, que siga. Só não pode é querer que todos os outros sigam. Vivemos num Estado laico.
A escolha de Bento foi uma tentativa de trazer os católicos mais tradicionais de volta à Igreja, coisa que até agora não está funcionando.
E quanto mais a Igreja se mostra proibitiva e reacionária, mais o islamismo cresce na Europa.
Um grande beijo
Camila
http://niagarafools.wordpress.com/
Obrigada Gui, clareou bastante pra mim. Tbm não vejo sentido nessas atitudes como sobre camisinha, células-tronco e a futilidade da campanha. tbm acho q ele se disporia com prazer em conversar e debater sobre o assunto, mas isso nao eh possível aqui. E vc sabe como a mídia é mercenária, imparcial e desumana. Foi por isso que o defendi, mas vc está certo: no cargo dele, é sua função saber lidar com a mídia e argumentar para o povo, liberdade de expressão!
um abraço
*parcial,rs
artigo inteligente...
a religiosidade na minha opiniao só tende a atrazar o desenvolvimento ciêntifico com idéias ultrapasadas sem se preocupar com seus benefícios
por isso essa religião está em decadencia...
pq hj a igreja deve se adequar ao individuo e não este a igreja!!!!
parabéns fiquei fã do seu blog
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